Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Com peças cada vez mais sofisticadas, as varejistas de moda ficaram também mais caras. Resta saber se os clientes vão continuar comprando essa ideia.

 

Impossível passar alguns dias em Londres e resistir à tentação de Oxford Street. Mesmo com a multidão de pessoas se esbarrando a todo momento, o trânsito parado, filas nos provadores e a chuvinha fina, tudo isso é superado em nome das compras. Meca do comércio popular local, a rua consagrou-se por concentrar uma grande variedade de varejistas ao estilo fast fashion, com peças atraentes e preços bastante razoáveis. As barganhas continuam presentes, mas há um novo movimento em curso na mais popular das ruas londrinas.

Na TopShop, um vestido de veludo preto chega a custar 830 libras, o equivalente a US$ 1,2 mil. Já na H&M, conhecida por ser ainda mais acessível, uma jaqueta de camurça é vendida por 199 libras ou US$ 290. O fenômeno pode ser observado ainda em diversas outras varejistas, como River Island, New Look e Reiss, onde as calças básicas de 20 libras dividem espaço com opções de melhor qualidade a 50 libras. Não sao apenas os turistas brasileiros, com seus reais desvalorizados, que vêm sentindo a diferença. As grandes redes de fast fashion estão mais caras também para o consumidor local.

Um levantamento feito pela Edited, consultoria britânica especializada na coleta de dados sobre o setor varejista, o preço médio praticado pela TopShop subiu 50% nos últimos três anos. Na H&M, a variação foi ainda maior, de 83%. “Isso aqui é a Oxford Street ou a Bond Street?”, alfinetou recentemente a editora de moda do jornal inglês The Guardian, Jess Cartner-Morley, referindo-se à rua londrina que concentra as grandes grifes. “Gente, para se ter uma ideia, uma saia da Gucci está custando 300 libras na promoção”, comentou a especialista, em seu blog.

Peças com preços exorbitantes ainda são pontuais nas grandes redes, com pouco impacto no faturamento, mas estão cada vez mais comuns. As coleções em parceria com grandes designers abriram a porteira para produtos mais sofisticados e, é claro, mais caros. Os clientes parecem ainda não se importar. Uma mostra disso ocorreu em novembro passado, quando a coleção da grife francesa Balmain levou centenas de pessoas a pernoitar na calçada de uma H&M, em Londres. Quando as portas se abriram, a correria fez lembrar uma Black Friday. Bastou todo o estoque ser vendido para surgirem camelôs revendendo alguns dos itens pelo dobro do preço.

Parece estranho que pessoas tenham se estapeado por uma jaqueta de US$ 450, mas aos olhos do consumidor tratava-se de uma barganha. “Para muitos, era a chance de uma vida: a chance de comprar um produto assinado pela Balmain, uma das marcas mais cobiçadas pelos jovens no momento”, diz a analista de varejo Paula Ronsenblum, da consultoria RSR Research. A internet e as redes sociais são boa parte da explicação. “O consumidor ficou mais consciente da moda, das tendências. E as redes estão acompanhando esse movimento”, diz o professor Ricardo Pastore, coordenador do núcleo de estudos do varejo da ESPM. “Como resultado, as redes tornaram-se mais atraentes, mais fashion”.

O fenômeno também pode ser observado no Brasil, ainda que de forma menos agressiva. Em abril, a rede Riachuelo irá lançar uma coleção assinada por Karl Lagerfeld, com itens que variam de R$ 50 a R$ 400. A rede, que há três anos inaugurou uma flagship na Oscar Freire, reduto do luxo paulistano, já teve ainda coleções assinadas por Versace e Lethicia Bronstein, estilista queridinha das globais. “Essas edições atraem um consumidor que nunca tinha entrado na loja, mas aquele cliente tradicional também continua comprando. Antigamente, havia mais essa divisão de classes, mas com a informação democratizada, as diferenças se diluíram bastante”, diz Marcella Kanner, gerente de marketing da Riachuelo.

Segundo ela, a rede também tem investido na moda “feita em casa”. “Temos uma equipe de 150 designers”. Outra que tem seguido essa lógica é a C&A. Desde 2005, quando a primeira “Collection” foi lançada, a rede já fechou parceria com mais de 50 estilistas, entre elas Natalie Klein, da NK Store. “Cerca de 50% das consumidoras que nos conhecem por meio das coleções assinadas retornam à loja para comprar depois”, diz Elio Silva, vice-presidente de operações e marketing da marca. Para a consultora Paula Rosenblum, o desafio é não perder a identidade no meio do caminho.

“Particularmente, acho arriscado tentar agradar uma faixa muito ampla de consumidores. Em vez de colocar todos na mesma loja, as redes fast fashion deveriam investir em novas marcas”, diz a especialista, citando a COS, criada pelo mesmo grupo da H&M, para atender mulheres partir dos 30 anos. Já o professor da ESPM vê vantagens na onda de “gourmetização” das varejistas. “Comprar na C&A já foi motivo de preconceito. Hoje, não mais. As fast fashion estão se tornando marcas desejadas, o que é extremamente positivo para elas”, diz Pastore

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Respostas a este tópico

Bem interessante esse caminho que está sendo trilhado pelas grandes varejistas. Parece sem volta...

    Em vez de colocar todos na mesma loja, as redes fast fashion deveriam investir em novas marcas”

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