O Brasil está prestes a bater mais um recorde na produção de algodão, segundo estimativas divulgadas pelo presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Gustavo Piccoli, durante a reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados, realizada na manhã da última terça-feira, 23/09. O encontro contou com a presença de representantes das principais associações de produtores do país vinculadas à Abrapa, da indústria têxtil, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) e da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM).
De acordo com os dados apresentados, a safra 2024/2025 deverá alcançar 4,11 milhões de toneladas de algodão. O volume estimado surpreendeu os produtores, que avaliam estratégias para comercializar toda a produção.
Produção nos principais estados brasileiros
A presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Alessandra Zanotto, informou que a produção surpreendeu os cotonicultores do estado, onde a produção deve atingir 816 mil toneladas, uma projeção de aumento de 15% em relação à safra 2023/2024. Os dados são da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Mato Grosso do Sul registrou a maior produtividade por hectare. O diretor executivo da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores de Algodão (Ampasul), Adão Hoffmann, destacou que o desempenho surpreendeu, já que as lavouras foram atingidas por chuvas nos meses que antecederam a colheita. Ainda assim, o terço médio e o ponteiro do algodão apresentaram bom desenvolvimento, e a qualidade da fibra melhorou em termos de comprimento e micronaire.
Em Minas Gerais, terceiro maior produtor do país, os resultados ficaram abaixo do esperado. Problemas climáticos reduziram o volume colhido, embora a qualidade da fibra não tenha sido comprometida.
Mato Grosso mantém a liderança nacional na produção de algodão. De acordo com o diretor executivo da Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Décio Tocantins, o estado colheu 2,9 milhões de toneladas, o que representa cerca de 70% da pluma produzida no Brasil. A produtividade estimada, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), deve ser 5,6% maior em relação ao ciclo 2023/2024.
Driblando a demanda global
Houve consenso entre os presentes de que o principal desafio do setor é a estabilidade da demanda global. Em um cenário de alta produção, a demanda atual não sustenta uma recuperação dos preços, que seguem pressionados pela grande oferta de pluma.
Como medida paliativa, Piccoli, apresentou a proposta de criação do Programa de Financiamento Especial para Estocagem de Produtos Agropecuários (FEE) voltado ao algodão em pluma. Segundo ele, a possibilidade de estocagem elimina a necessidade de venda imediata, fortalece o poder de negociação do produtor e permite esperar por condições mais favoráveis de exportação, evitando liquidações forçadas em períodos de preços deprimidos.
O projeto foi levado por representantes da Abrapa, da Ampa e do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) ao ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, na última sexta-feira (19/09). A proposta será oficializada via Câmara Setorial ainda em setembro, para discussão conjunta com o Mapa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Consumo interno de algodão
O diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, atualizou os participantes sobre o consumo de fibras pela indústria brasileira. Segundo ele, o Brasil produziu 132 milhões de toneladas de fibras têxteis, das quais 77,7 milhões foram de poliéster e 24,5 milhões de algodão, que representaram 19% do total. Apesar da inadimplência e dos juros elevados, que limitam o consumo das famílias, a indústria segue crescendo e gerando empregos.
O principal desafio, contudo, é que o Brasil importa mais roupas do que exporta. Para Pimentel, o consumo interno de algodão só aumentará se houver maior produção por parte das confecções. Com uma defesa comercial mais firme, o país poderia aumentar a produção de vestuário e reduzir a dependência de tecidos sintéticos utilizados, por exemplo, na indústria automotiva.
Expectativas para as exportações
Miguel Fauss, ex-presidente e atual conselheiro da Anea, ressaltou que a China,maior compradora do algodão brasileiro, deverá reduzir suas aquisições neste ano. O país, que também é o maior produtor mundial da fibra, colheu mais algodão na última safra e adota postura cautelosa diante da crise nas relações com os Estados Unidos. Ainda assim, há espaço para expansão em outros mercados, como a Índia.
Outro fator que influencia a competitividade, segundo Fauss, é o preço do petróleo. Sua queda tende a baratear a produção de fibras sintéticas, levando as indústrias a optarem pelos tecidos fósseis como forma de ampliar margens de lucro, o que pode reduzir a procura pela fibra natural brasileira.
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