Câmara Setorial do Algodão de Derivados encerra 2025 com previsão de alta nas exportações e cautela na produção

Reunião marcou o início da organização estratégica da cadeia do algodão para 2026.

A Câmara Setorial do Algodão realizou, na última terça-feira, 02/12, seu encontro final de 2025, reunindo lideranças da cadeia produtiva para discutir cenários, desafios e prioridades para o próximo ano. A reunião foi coordenada pelo presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Gustavo Piccoli, com participação das associações estaduais da Bahia (Abapa), Goiás (Agopa), Mato Grosso (Ampa), Mato Grosso do Sul (Ampasul), Minas Gerais (Amipa) e Piauí (Apipa). 


Representantes da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), e demais entidades que compõem o setor também participaram. O grupo analisou o balanço da safra 2024/2025, tendências de mercado e as propostas de políticas públicas para fortalecer o consumo de algodão no Brasil e no exterior. 


Piccoli destacou a importância de uma agenda coordenada entre governo e setor privado para que o algodão brasileiro recupere protagonismo na indústria têxtil. “O crescimento do consumo de algodão depende de políticas públicas que valorizem a fibra natural. Ao contrário das fibras sintéticas, ela não representa riscos à saúde humana nem causa impacto ambiental duradouro. Essa pauta precisa avançar simultaneamente no mercado interno e no internacional”, afirmou. 


Atuação da Abrapa 


Entre as iniciativas prioritárias para 2026, a Abrapa reforçou os esforços para viabilizar uma linha de crédito voltada à construção de estruturas de armazenamento, consideradas essenciais para estocar o algodão e aumentar a competitividade da cultura. Piccoli também citou a articulação a compensação ao preço mínimo do algodão, fixado pelo Governo Federal em 2025.  


De acordo com o diretor executivo da associação, Marcio Portocarrero, as ações estão sendo negociadas diretamente com o Ministro da Agricultura e Pecuária, Calos Fávaro. “Nós estivemos com o Ministro Fávaro em Cuiabá, para discutirmos a retomada da demanda do financiamento da infraestrutura para criação dos estoques de algodão, e pleitear as duas frentes do Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro).”, explicou o diretor. Caso o Pepro seja pago aos produtores, ele entrará na pauta orçamentária do próximo ano.  


Produção nacional 


A Abrapa apresentou a primeira projeção para a safra 2026, apontando uma retração estratégica da produção. A área plantada deve cair 5,5% em relação a 2025, resultando em uma produção estimada de 3,829 milhões de toneladas, queda de 9,9% frente às 4,1 milhões de toneladas colhidas em 2024/2025. 


O presidente da Associação Matogrossense de Produtores de Algodão (Ampa), Orcival Guimarães, citou o endividamento do setor e a alta dos juros como fatores de risco para o crescimento da cotonicultura do país. “O momento é de cautela, pelo excesso de oferta de algodão no mundo. Diante do cenário atual de endividamento interno e juros altos, estamos prevendo a redução de 10% da safra no Mato Grosso”, ponderou. 


Para a presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Alessadra Zanotto, a falta de crédito e o risco da cultura são fatores que afetam todos os estados produtores. A tendência é de que a produção da Bahia também diminua, principalmente nas lavouras que não fazem o uso da irrigação. “A Bahia está prevendo uma redução de 2,5%. As áreas irrigadas serão as maiores produtoras no próximo ano.”, concluiu a presidente. 


Exportações brasileiras 


O diretor de relações internacionais da Abrapa, Marcelo Duarte, apresentou dados do fechamento do ano safra, que confirmam que o Brasil segue exportando mais do que qualquer outro país, porém com uma receitar menor. “Isso se deve ao fato de que os preços de algodão seguem em queda, incentivados pelo grande volume de oferta no mercado mundial”, analisou o diretor A projeção do Cotton Brazil é de que em 2026, a participação do Brasil nas exportações globais de algodão aumente em 2%, alcançando o patamar recorde de 33%, com um volume total de 3,1 milhões de toneladas.  


Apesar da diminuição do volume exportado do Brasil, a China ainda aparece como o principal comprador da pluma brasileira, representando 20% da participação no ano comercial 2025/2026, enquanto o Brasil detém 41% do market share do mercado chinês. A Índia está entre os destaques mais positivos. O país importou 92 mil toneladas de algodão brasileiro e atualmente ocupa a segunda colocação entre os maiores compradores, com 17% do total das exportações realizadas entre julho e novembro de 2025.   


Duarte também aproveitou a reunião para mostrar como Agência Brasileira de Promoções de Exportações e Investimentos (Apex) influenciou no crescimento das exportações brasileiras, destacando o papel das parcerias público privadas no sucesso da pluma nacional. De acordo com o diretor, “Desde que a Apex começou a trabalhar conosco, na consolidação do Cotton Brazil, a receita das exportações brasileiras dobrou. Saltamos de US$ 2,6 bilhões em 2019 para US$ 5,2 bilhões em 2024”. 


O presidente da Anea, Dawid Wajis, citou a conjuntura internacional como um gerador de incertezas para o mercado. Para Wajis, “O acordo entre Estados Unidos e China trouxe um pouco mais de clareza ao mercado, contudo ainda existem muitas incertezas de será o funcionamento em relação ao algodão”. 


Desafios do consumo doméstico 


O diretor-superintendente e presidente emérito da Abit, Fernando Pimentel, chamou atenção para os desafios competitivos enfrentados pela indústria nacional, sobretudo diante do preço do fio importado da China, que chega ao Brasil por valores inferiores ao do próprio algodão exportado pelo país asiático. “Essa assimetria compromete a competitividade da indústria brasileira e exige a adoção de medidas que equilibrem o jogo e protejam uma cadeia que é estratégica para o país”, disse Pimentel. 


Ele também pontuou que o avanço das fibras sintéticas precisa ser enfrentado com uma agenda integrada de comunicação, modernização regulatória e aproximação do varejo e do consumidor. De acordo com Pimentel, as fibras sintéticas avançaram no país, em 2005 elas representavam 37% do total utilizado pela indústria, hoje são 56% das fibras consumidas pela indústria. “O Brasil tem condições de ampliar o uso do algodão, mas isso requer informação, previsibilidade regulatória e articulação setorial. É um movimento que precisa partir de toda a cadeia”, completou. O presidente da Abit também apresentou uma proposta da indústria para aumentar o consumo do algodão no Brasil, contemplando os seguintes eixos de ação: 


- Pesquisa, desenvolvimento e inovação; 


- Competitividade e mercado; 


- Comunicação e sustentabilidade; 


- Articulação institucional; 


- Inteligência de mercado. 


A próxima reunião da Câmara Setorial está programada para 23 de março de 2026, quando serão retomadas as discussões sobre competitividade, expansão do consumo interno e estratégia para o fortalecimento internacional da pluma brasileira. 

https://abrapa.com.br/2025/12/02/camara-setorial-do-algodao-de-deri...

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