Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O cinza está por toda parte, nas casas e objetos. Mas, apesar do que os tiktokers afirmam, o arco-íris ainda está vivo e forte.

Crédito: Ruslan Bardash/ Pierre Châtel-Innocenti/ Unsplash/ rawpixel.com

Se você acessou o TikTok ultimamente, deve ter notado uma repentina obsessão por cores – ou melhor, pela ausência delas. “As cores desapareceram”, diz uma usuária. “Agora estou com receio de gostar de cores neutras”, comenta outro.

Esse fenômeno foi relatado em um artigo de 2020 que aponta que as cores estão desaparecendo do mundo. A partir de visão computacional, pesquisadores analisaram 7 mil fotografias de objetos e a evolução do uso das cores de 1800 a 2020.

As fotos foram extraídas de cinco museus britânicos e divididas em 21 categorias, de equipamentos eletrônicos a objetos do dia a dia. A equipe concluiu que, nos últimos 200 anos, os tons de marrom e amarelo deram lugar ao cinza escuro e ao carvão.

É importante notar que o artigo não é um estudo revisado por pares. Quando contatado, o autor, que é cientista de dados, reconheceu que 7 mil objetos não são suficientes para fazer uma análise representativa das cores ao longo de dois séculos.

Percentagem de pixels no total das fotos (Crédito: Nesta)

A tecnologia usada também apresenta vários desafios. Apesar de tudo isso, uma análise mais ampla dos dados, realizada por dois especialistas em cores, revela que as descobertas são verdadeiras – em parte.

De acordo com a HueData, que vasculha as redes em busca de dados e análises de cores, o cinza é a cor mais comum na indústria automotiva, a mais utilizada em logotipos e é a segunda mais popular em desfiles de moda, depois do preto. Mas, apesar de as pessoas parecerem amar o cinza, as cores não estão desaparecendo do mundo. A realidade é muito mais complicada.

200 TONS DE CINZA

Hoje, consumidores se deparam com um novo arco-íris de cores a cada ano. A Pantone conta com quase 15 mil, enquanto a Benjamin Moore oferece 3,5 mil tons de tinta, incluindo quase 200 tons de cinza.

Em uma ampla análise de cores na internet, com todas as marcas de carros, 450 mil logotipos e 30 anos de desfiles de moda, a HueData registrou mais de 21 milhões de cores diferentes. Com novas técnicas e tecnologias, agora podemos criar inúmeras novas.

Crédito: quelqun/ GettyImages

Então, por que tons cinza são tão comuns? Por um lado, a cor não vem apenas dos pigmentos, mas também dos materiais. E, ao longo do tempo, mudamos drasticamente os materiais que usamos.

Em 1800, a maioria dos objetos eram feitos de madeira. Depois veio o plástico. Hoje, o alumínio está por toda parte, de produtos eletrônicos e eletrodomésticos até as esquadrias das janelas. “A cor principal de hoje é essa gama de cinzas”, diz Anat Lechner, fundadora da HueData.

PRODUÇÃO EM MASSA EM ESCALA DE CINZA

O ponto central é que vivemos na era do alumínio, como dito anteriormente. Quando se produz em massa, o cinza é considerado uma escolha segura. Por exemplo, toda vez que uma empresa lança um item com uma nova cor, seja um carro laranja brilhante ou um iPhone “rosa chiclete”, está adicionando novos produtos e aumentando seu catálogo.

Crédito: Apple/ Divulgação

Empresas avessas ao risco reduziram a variedade de cores na linha de montagem, enquanto os consumidores, impulsionados pela promessa de revenda, passaram a priorizar cores “básicas” quando se trata de coisas caras, ao pintar a casa ou ao comprar carros cinza (ou cores neutras).

Como vivemos em um mundo capitalista, os números de vendas importam bastante. Este ciclo vicioso atinge até mesmo os consumidores e as decisões que tomam em relação à cor dos produtos, afirma Leslie Harrington, diretora executiva da Associação de Cores dos EUA.

“Se virem que preto, cinza e branco vendem bem, vão continuar comprando preto, branco e cinza. Foi isso que aconteceu na moda”, explica.

FOCO NA MODA

O “vestidinho preto” simboliza como a moda há muito tem uma obsessão por esta cor e, até certo ponto, os dados confirmam isso. Somente em 2022, a HueData aponta que preto, cinza e branco, juntos, apareceram em 50% dos desfiles de moda em todo o mundo.

Mas há nuances importantes por trás desses números. Em primeiro lugar, os dados não incluem tendências de varejo, nem mesmo cores na indústria têxtil. Em segundo, só porque o cinza é um dos tons mais vistos em desfiles de moda não significa que seja a cor principal de todas as peças. O cinza combina com tudo e ressalta outras cores, então acaba sendo frequentemente utilizado. Mas não necessariamente é a peça principal.

O desfile da Valentino na Semana de Moda de Paris foi todo em tons de magenta (Crédito: Peter White/ GettyImages)

Essa discrepância é refletida na análise dos 7 mil objetos, que apontou o cinza-carvão como a cor mais comum, embora esteja presente apenas em uma pequena fração dos pixels em uma fotografia.

“Isso significa que mesmo a cor mais frequente, que é um tom de cinza muito particular, representa apenas uma pequena proporção de todas as cores observadas”, diz Cath Sleeman, chefe de descoberta de dados da organização sem fins lucrativos Nesta, do Reino Unido.

DE VOLTA AO NÃO-PRETO

Embora os tons de tons de cinza possam ser encontrados em produtos em geral, isso não significa que estão substituindo outras cores.

O desfile da grife Valentino na Paris Fashion Week foi todo em magenta e a Milan Fashion Week estava repleta de estampas chamativas e lantejoulas coloridas. Fora da passarela, alguns consultores de marca estão especulando que o crescimento do comércio eletrônico está causando um aumento na busca por cores brilhantes, já que fotografam melhor que o preto.

De acordo com Lechner, da HueData, outra tendência agora pode estar contribuindo com isso: a personalização. “Estamos em busca de personalização, e isso requer diferentes manifestações de cores.”

Hoje, você pode comprar um Porsche com uma cor sob medida ou customizar seu próprio par de tênis Nike. Pode até criar uma cor personalizada com IA a partir de uma descrição em texto. Mas o cinza, provavelmente, continuará sendo a cor líder na produção em massa.

Por um lado, ainda não estamos exatamente entrando na era do arco-íris. Por outro, o mundo não está perdendo as cores.

SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company.

https://fastcompanybrasil.com/co-design/como-o-cinza-se-tornou-o-re...

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