Recentemente, Michael Jordan e o time Chicago Bulls foram tema da minissérie documental Arremesso Final, parceria da Netflix com o canal ESPN. Considerado o maior jogador de basquete de todos os tempos, a série retrata que o seu legado vai muito além das quadras. O atleta de 57 anos foi pioneiro na cultura dos sneakers, graças à linha de tênis Air Jordan, em parceria com a Nike, que estreou nos anos 1980. Curiosamente, a marca não era a etiqueta esportiva favorita do norte-americano. Porém, a colaboração rendeu muito mais que o esperado: só no primeiro ano, as vendas do Nike Air Jordan 1 atingiram US$ 126 milhões.
Vem comigo conhecer essa história!
GIPHY/REPRODUÇÃOMichael Jeffrey Jordan nasceu no dia 17 de fevereiro de 1963, em Nova York. Poucos meses depois, sua família se mudou para a Carolina do Norte, onde ele cresceu e praticou esportes durante o ensino médio. Um deles foi o basquete, que rendeu uma vaga no time da Universidade de Carolina do Norte quando ele começou o curso de geografia cultural, no ano de 1981.
Em 1984, MJ ingressou na NBA pela franquia Chicago Bulls, time que defendeu até 1998 e pelo qual conquistou seis títulos NBA (a liga de basquete dos EUA). O detentor da camisa 23 fez uma breve pausa no time entre 1993 e 1995.
Em junho de 1984, o agente David Falk procurou um patrocínio para ajudar na carreira do jogador. A ideia era transformá-lo em uma celebridade dos esportes, como os tenistas Stan Smith e Arthur Ashe. Esse status era algo comum nos esportes individuais, e muitos atletas tinham seus próprios produtos assinados.
Na época, a Converse era a principal fabricante de sneakers para a prática de basquete, e chegou a ser procurada por Falk. Entretanto, a marca recusou a oportunidade de trabalhar com Jordan, até então desconhecido, pois não queria colocá-lo na mesma posição de outros nomes já contratados, como Magic Johnson e Larry Bird.
Outra label que se destacava entre os jogadores de basquete era a Adidas. Os tênis da empresa alemã eram os favoritos de Michael Jordan. Contudo, como mostra a série documental, a marca estava “desestruturada” e sem condições de patrociná-lo.
Em ascensão, a Nike era conhecida pelos tênis de corrida. Suas tentativas em adentrar o basquete até ali não foram bem sucedidas. Porém, a empresa estava tão disposta a arriscar que cogitou contratar um calouro para ser o seu rosto no basquete, pois a Converse já detinha a maioria dos grandes nomes da NBA.
Jordan, o “garoto da Carolina do Norte”, foi um dos atletas sugeridos em uma reunião da empresa. A oportunidade seria perfeita, se não fosse por um pequeno detalhe: o jogador não gostava da Nike e dos solados altos dos produtos da marca.
BRIAN DRAKE/NBAE VIA GETTY IMAGESFalk sugeriu um contrato com a Nike para Jordan. Relutante, ele não queria assinar com a label e se recusava até mesmo a participar de reuniões para negociar. A tarefa de convencê-lo foi dos pais, mas a proposta também foi tentadora: um alto cachê, incluindo o lançamento de um modelo exclusivo. O acordo foi fechado, antes mesmo de MJ começar a jogar pelo Bulls. Em 1985, a marca lança o Air Jordan 1, desenhado por Peter Moore no ano anterior.
“Naquela época, os melhores jogadores ganhavam cerca de US$ 100 mil. Ele conseguiu um contrato de US$ 250 mil. As pessoas diziam: quanto vocês vão pagar para um calouro que não fez nada? Vocês estão loucos?”, contou Howard White, vice-presidente da Jordan Brand, em Arremesso Final.
O nome “Air” (ar), que batiza a linha, surgiu como um trocadilho. Na época, a Nike estava trabalhando com uma tecnologia chamada Air Soles, enquanto Michael Jordan, metaforicamente, “jogava no ar”. À medida em que o jogador e o Bulls ganharam destaque, os tênis se tornaram uma obsessão. O desejo de ser como ele fez a cabeça de crianças e adolescentes que, antes disso, não davam importância para os tênis.
SOTHEBY'S/DIVULGAÇÃO“Meu jogo era o meu trunfo. O que eu fazia nas quadras me levou a tudo isso. Se eu não tivesse uma média de dois pontos e três rebotes por jogo, eu não teria assinado nenhum contrato. Foi o meu jogo que falou mais alto”, justificou Jordan na série documental.
Dali em diante, o logotipo do Jumpman, que decora os tênis, foi eternizado por uma onda de publicidade que beneficiou tanto o jogador quanto a própria marca. A expectativa de lucro ao fim do quarto ano de vendas dos Air Jordan era de US$ 3 milhões. Só no primeiro ano, a collab vendeu US$ 126 milhões.
A NBA chegou a proibir que Jordan jogasse com um calçado “vermelho e preto” da Nike, pois as regras só permitiam calçados pretos ou brancos. Ele descumpriu a ordem e precisou pagar multa de US$ 5 mil sempre que desobedecia a instrução.
O estrelato de Michael Jordan veio com tudo nos anos 1990, quando ele se consolidou como ícone cultural global. Naquela década, os Estados Unidos levaram ouro no basquete das Olimpíadas de 1992, em Barcelona, sem falar nos seis títulos NBA do Chicago Bulls, conquistados entre 1991 e 1998. A Nike foi sua maior patrocinadora até a aposentadoria definitiva.
FOCUS ON SPORT/GETTY IMAGESAlguns famosos cresceram admirando Jordan e consumindo sua linha de tênis. Entre eles, o cantor e ator Justin Timberlake. “Todos diziam: ‘Você precisa comprar um par de Jordans’. Então, economizamos dinheiro todos os anos. Eu cortava grama, fazia uns bicos e depois esperava na fila da Foot Locker”, relembra Timberlake no episódio 5 de Arremesso Final.
O rapper Nas relembra que calçar um par de Air Jordan era o equivalente a segurar um sabre de luz de Star Wars, na época. “Era mais como um símbolo de status. Você sabia que ele era o cara. Os tênis tinham estilos diferentes, as outras marcas variavam pouco. Os Jordans mudavam com o passar do tempo”, comentou.
A série documental também teve a participação de ninguém menos que Barack Obama. “Há grandes jogadores que marcam apenas seu esporte. Já outros esportistas são grandes forças culturais. Michael Jordan ajudou a criar uma forma diferente de se pensar o atleta afro-americano, de ver os atletas como parte do mundo do entretenimento. Ele se tornou um extraordinário embaixador não apenas do basquete, mas também para os EUA no exterior”, declarou o ex-presidente americano.
Os Air Jordans também deixaram um rastro cultural na cidade de Chicago, um point marcante da trajetória do ex-jogador. Lá, se estabeleceram nomes como os designers Virgil Abloh, Don C e o rapper Kanye West, todos conhecidos por suas marcas e linhas de tênis.
@JUSTINTIMBARLAKE/REPRODUÇÃO/INSTAGRAMA fusão entre o basquete e a cultura urbana ficou ainda mais evidente quando a Nike contratou Spike Lee para produzir um comercial de Michael Jordan. Anteriormente, o modelo Air Jordan 4s apareceu no filme Faça a Coisa Certa (1989), produzido, escrito e dirigido por Lee. O cineasta é conhecido pelas referências à cultura afro-americana em suas produções. Para os jovens negros norte-americanos, os tênis do jogador foram um símbolo de autoestima.
A produção de Spike Lee não foi a única a mostrar os icônicos sneakers, que também aparecem em cenas de filmes como O Ataque (2013), Pequenos Grandes Astros (2002), Homem-Aranha no Aranhaverso (2018) e o lendário Space Jam – O Jogo do Século (1996). Este último, uma mistura de animação e live-action, foi estrelado pelo próprio Jordan ao lado dos Looney Tunes.
CHUCK KUHN/NIKE/DIVULGAÇÃO
Segundo a Forbes, a parceria com a Nike é responsável por 90% da renda anual de Michael Jordan atualmente. Aliás, a maior verba de grandes nomes do basquete fora das quadras, normalmente, vem dos sneakers. Outros nomes do esporte podem até superá-lo no quesito pontuação, mas quando o assunto é tênis, Jordan continua liderando. No ano fiscal encerrado em 2019, Jordan faturou US$ 130 milhões. A receita da Jordan Brand nesse período foi de de US$ 3,14 bilhões.
Depois que foi ao ar, a própria série Arremesso Final causou um boom na procura por sneakers na internet. Na plataforma de revenda StockX, como informa o WWD, houve um aumento de 63% nas pesquisas por modelos da linha Air Jordan. Desde o momento em que a série estreou, em 19 de abril, os pedidos cresceram 90%. Já no site The RealReal, os preços médios dos tênis aumentaram 53% semanalmente.
JORDAN BRAND VIA GETTY IMAGESAté hoje, os lançamentos da linha do ex-jogador estão entre os mais cobiçados do ano, apesar de ele ter deixado as quadras definitivamente em 2005. Dos anos 1980 para cá, as variações foram as mais diversas, com um modelo principal lançado a cada ano. À medida que evoluíram, os tênis ganharam detalhes modernos e deixaram a pegada clássica do primeiro, que também é revisitado vez ou outra.
As construções dos solados e dos cabedais ficaram cada vez mais experimentais, especialmente a partir do Air Jordan VIII, lançado em 1993. Já nos anos 2000, a pegada predominante foi o futurismo, com destaque para o Air Jordan XIX de 2004. O modelo tem uma espécie de cobertura sobre os cadarços.
O XX8, de 2013, tem um zíper que dá impressão de dois tênis em um. Alguns ganharam também versões co-assinadas por rappers como Travis Scott, Eminem e o cantor Drake. Um modelo recente que fez grande burburinho foi a colaboração com a Dior, estampada com o icônico monograma Dior Oblique. Esta teve o lançamento atrasado pela pandemia e deve ser comercializada ainda em 2020.
Veja alguns modelos icônicos do Air Jordan ao longo da história:
Colaborou Hebert Madeira
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