Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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O escândalo do lixo hospitalar ameaçou abalar a credibilidade dos produtos vendidos no Polo Têxtil de Pernambuco. Hoje, serve de lição para destacar a importância de uma atividade econômica que gera 150 mil empregos diretos e movimenta R$ 3,3 bilhões por ano. A população de 12 cidades do Agreste se mobiliza para vencer mais este desafio. A reportagem do Diario foi à região e, através das histórias de quem vive o dia a dia do local, fez um raio x do esquema invisível que já vinha sendo praticado há mais de 15 anos.

José de Arimatéia Silva, 40 anos, é um pequeno comerciante de Toritama, um dos 12 municípios que formam o polo têxtil do Agreste de Pernambuco. Na última semana, estava na calçada do seu estabelecimento, riscando e cortando moldes de tecidos, quando foi abordado pela reportagem do Diario. Desconfiado, queixou-se da queda nas encomendas ocorrida nos últimos dias. Um prejuízo de quase R$ 7 mil. O que ele jamais teria imaginado é que uma prática recorrente e antiga poderia ser a causa do esfriamento nas vendas. “Esse negócio de usar lençol de hospital já tem uns 15 anos. Hoje eu não pego essa mercadoria. Mas já peguei”, confessa.

José de Arimatéia Silva revela e sintetiza o que há anos vem acontecendo no polo de confecções do Agreste. Tecidos provenientes de hospitais dos Estados Unidos, produtos que não têm autorização para entrar no Brasil, eram reaproveitados integralmente ou como matéria-prima de bolsos de calças e bermudas por empresários do polo. Um esquema invisível aos olhos das autoridades e da fiscalização, mas organizado, ramificado e consolidado. Os tecidos com escritos em inglês estavam na cama de hotéis e clínicas e sobre o corpo das pessoas. Mas ninguém havia desconfiado de que algo estava errado. Foi preciso que o acaso se encarregasse de desvendar o que está sendo chamado de a máfia do lixo hospitalar.

No dia 11 de outubro, um contêiner com lençóis de hospitais norte-americanos manchados supostamente de sangue, além de seringas, agulhas, luvas e outros artigos médicos descartáveis, foi apreendido pela Receita Federal no Porto de Suape. A carga saiu do estado da Carolina do Sul e deveria seguir para o Agreste pernambucano, onde seria entregue a Altair Teixeira de Moura, dono da empresa Na Intimidade, que utilizava os tecidos como matéria-prima para a confecção de bolsos. Foi apenas a primeira de uma avalanche de denúncias que, no início, colocaram em xeque a credibilidade e o futuro do polo têxtil do estado.

A notícia de que roupas vendidas nas tradicionais feiras da sulanca de Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe poderiam estar contaminadas com lixo hospitalar norte-americano correu o país. Comerciantes e consumidores começaram a vasculhar suas peças à procura de rastros das unidades de saúde estrangeiras. Muitos encontraram. Foi preciso uma intervenção do governador Eduardo Campos para não deixar que o caso sujasse a imagem da principal cadeia produtiva do Agreste, que fatura R$ 3,3 bilhões por ano. Ele vestiu a camisa em defesa do polo e acionou o governo dos EUA, que enviou agentes do FBI para colaborar com as investigações. Os comerciantes do Agreste também reagiram, propondo a criação de um selo para atestar a qualidade dos seus produtos. Para o polo de confecções, que teve suas feridas expostas a partir desse fato, existe o desafio de não só conter a crise, mas de encontrar nela as lições de como construir uma economia justa e sustentável e o fôlego para retomar o ritmo de ascensão.

Por Ana Cláudia Dolores, colaborou Juliana Colares

Fonte:|http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20111023091838&a...

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