O encontro contou com a mediação de Marco Túlio Ribeiro, da XP Invest, e a presença de Carlos Ferreirinha, da MCF Consult, Fábio Covolan, da Canatiba Denim Industry, Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Grasiela Moretto, da Ufo Way, José Maurício D’Isep, da Vicunha Têxtil, e Hadi Hamade, da Consciência Jeans.
Nunca vivemos uma situação como essa, por isso empresas de diferentes setores estão se unindo para pensar soluções que atendam às necessidades de todos. Grasiela da UFO Way, empresa Private Label disse que foram se dando conta do problema conforme as notícias começavam a chegar. A fábrica foi fechada na semana passada, mas voltou nesta terça com 50% do quadro.
“Estamos vivendo um dia de cada vez. Não sabemos o que vai acontecer. Todo mundo quer encontrar um equilíbrio. Vamos reiniciar com muito respeito a esse momento, mas não sabemos se isso vai permanecer, talvez a gente tenha que parar novamente”, comentou.
A convidada ainda apontou um problema importante: a indústria pode retornar, mas para onde esta produção irá escoar se o varejo está fechado? “A população está em choque e é essa população que consome”, afirma Grasiela.
José Maurício da Vicunha comentou que sete mil funcionários da companhia estão em isolamento em casa e remunerados. “Temos que pensar na cadeia pois existe muita gente frágil. O mais importante é a união de todo o elo, desde o fornecimento de fibras até o consumidor final”, destaca José Maurício.
Segundo Fábio Covolan, a indústria têxtil sempre teve um papel importante dentro da cadeia. “Nunca deixamos de estender a mão para nossos clientes. Estamos vendo caso a caso, fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance. Vamos sair dessa situação em pé e vamos construir tudo o que foi destruído”, comenta.
Hadi Hamade que mantém showroom no Brás, em São Paulo, disse que em cidades mais distantes, no interior, as pessoas ainda não entenderam o porquê de tudo isso. Ainda que não tenham nenhum caso de Covid-19 nessas regiões, os comércios considerados não essenciais foram obrigados a fechar.
“O varejo, principalmente o pequeno, não está conseguindo pagar nem o final de março devido aos meses fracos de janeiro e fevereiro. Agora que seria o lançamento de Inverno, onde iriam começar a vender bem, tudo parou”, apontou. Hadi afirmou ainda que está negociando com seus clientes, porque se não os salvar, quando tudo voltar ao normal não terá para quem vender.
Ferreirinha, que presta consultoria para diferentes clientes no Brasil e América Latina, colocou que essa crise chegou no país em um momento que não estávamos fortalecidos, mas sim vindos de um cenário de cinco, seis anos de recessão, o que por si só já é um obstáculo. “O brasileiro já vinha muito desgastado, machucado, exigindo muito em superação”, diz Ferreirinha.
Outro ponto curioso abordado pelo consultor é que as pessoas aqui acreditam sempre que estão em uma situação mais favorável. “O mundo em colapso e a gente não tinha feito nada ainda. Essa negação que nós temos como gestores é um grande defeito do brasileiro. Ele quer ficar bem o tempo inteiro”, afirma.
E, continua: “Nós não somos uma cultura de disciplina, é difícil seguir regras, mesmo o home office pode não ser tão produtivo. Esse vai ser um grande desafio como um todo. Essa crise é uma crise de todos e pela primeira vez todos os elos estão impactados e comprometidos”.
Ferreirinha ainda criticou a falta de união da cadeia têxtil que é a segunda que mais emprega no país. Ele comentou que o setor não tem nem um calendário de lançamentos. Agora é a hora de mudar tudo isso. “Essa cadeia vai ter que se falar, o pequeno, o médio e o grande. É um chamado para que toda a sociedade produtiva encontre a capacidade de entender que todos vão perder um pouco”, disse.
Para o consultor, não é hora de estimular o consumo, pois as pessoas estão machucadas. “É hora de trabalhar essa angústia como um combustível de energia para essa retomada de dinâmica de mercado”, completou.
A Abit também está empenhada na conexão com o governo e toda a indústria têxtil para ajudar os players da cadeia. O diretor da Associação, Fernando Pimentel afirmou que agora uma das frentes de trabalho é adaptar a produção para itens urgentes como máscaras cirúrgicas. O Governo também aprovou o valor de 600 reais para os trabalhadores autônomos.
Demandas pós-crise
Planejamento é essencial para quando a pandemia passar. E os participantes do webinar concordaram que o governo e indústrias irão contribuir com a volta gradual do varejo. Para José Maurício, se for necessário os bancos poderão injetar recursos. Além disso, a companhia vai dosando para administrar a capacidade de produção, capital de giro, entre outras ações.
Grasiela também se preocupa com a manutenção dos empregos pós-crise porque são os que fazem a economia girar. “É preciso encontrar o equilíbrio porque não existe mágica. Uma solução seria fazer uma carga horária reduzida. Eu consigo ajustar a minha equipe com a demanda de trabalho que eu tenho […] Esse ano não é para ganharmos dinheiro mas sim manter a empresa estruturada”, apontou.
A indústria terá que “segurar as pontas” nesse primeiro impacto, para Fábio Covolan, e é hora de pensar em como podem seguir adiante levando algo para ajudar os clientes em uma retomada rápida. Hadi Hamade apontou que o governo deveria liberar o seguro desemprego nesse período. Ele comentou que essa volta vai depender do cenário geral e, acredita que as pessoas vão estar com sede de consumir depois da quarentena.
Já Carlos Ferrerinha discorda de Hadi. Para ele as pessoas irão voltar aos poucos a consumir. “O que vemos é algo sem precedentes, então não há respostas. Há sim um desespero, porque há ausência de conhecimento. As pessoas vão ter problemas para pagar suas contas. As vendas não vão ‘bombar’ nos próximos meses. Nós precisaremos desenvolver outras competências não tangíveis como afeto, carinho, inteligência emocional”, afirmou, acrescentando que é hora de pensar, criar e desenvolver estratégias.
Para Grasiela, uma das palavras do momento atual é humildade, sabendo o quanto somos vulneráveis, o quanto dependemos uns dos outros. “Precisamos nos reinventar, ter um propósito. Não seja mais um no mercado. Tudo isso veio como uma grande oportunidade de vida. As pessoas vão sair desse momento transformadas”. Pimentel concordou e acredita que “em tempos de guerra saem grandes soluções para tempos de paz”.
Outro assunto abordado por Grasiela é a dependência do mercado asiático. “A China parou e se mantivesse parada por mais algumas semanas o mundo iria parar. Precisamos quebrar essa dependência. Nós não precisamos disso, algo tem que mudar”. Para ela, é preciso valorizar o produto brasileiro porque quanto mais consumimos itens nacionais, mais empregos estamos gerando.
Pimentel ressalta a alta carga tributária para se produzir no Brasil e que isso vem sendo discutido há algum tempo. Para ele é importante mostrar o valor da nossa indústria. “Vamos gastar esse tempo para pensar em nossas vidas, nossos negócios, vamos energizar essa força para ser mais otimista, mas sem fechar os olhos para a realidade”, comenta.
E, acrescenta: “Devemos pensar em como organizar de forma bem-feita e estruturada esse retorno que será lento. Um país como Brasil tem que ter uma indústria forte, criando condições de competitividade com outros países”.
José Maurício salientou a importância do apoio do governo seguindo esse período com positividade para que a economia volte a crescer rapidamente, enquanto Fábio Covolan apontou como essencial repensar novos modelos de negócios. Hadi Hamade segue com esperança quando o varejo voltar a abrir e confiante na união do setor. “Juntos vamos atravessar isso e seremos mais fortes, priorizando o produto Brasil”, disse.
Por fim, Grasiela se mostra esperançosa com os pés no chão e respeito com essa situação que estamos vivendo. “Ninguém vai sair disso blindado. Todos serão afetados. A grande proposta é entender essa oportunidade, esse momento de paralisação total do mundo. Vamos evoluir, crescer e olhar para todos os elos dessa cadeia e para sair dessa situação juntos e melhores”, finalizou.
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