Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Entenda os possíveis impactos da tarifa de 50% de Trump na indústria têxtil e de confecção brasileira

A moda nacional, que exporta cerca de R$387 milhões por ano aos EUA, terá seu produto “inviabilizado”, diz especialista. No 1º semestre, as vendas de têxteis brasileiros por lá aumentaram 13%; crescimento que poderá ser freado.


A taxa que será aplicada ao Brasil a partir de 01 de agosto é a maior do mundo, sendo que os EUA são o segundo maior parceiro comercial do país, atrás somente da China. O cenário atual, ainda sem tarifa, é o seguinte: às fibras que o Brasil exporta para os EUA, pode-se adicionar até 17% de imposto; aos fios e filamentos vendidos para lá, o empresário brasileiro paga no máximo 13%. Tecidos e malhas, chegam a 25%. "E se você somar mais 50% a isso tudo, praticamente coloca-se o país fora do mercado", afirma Fernando Valente Pimentel.

Qual é a razão da tarifa?

Em abril deste ano, uma primeira tarifa foi criada pelo governo estadunidense às exportações brasileiras: 10%. O país, até então, estava no grupo de menor aumento. A partir de agosto, será somada à essa taxa os 50% recém-anunciados. "Esperamos que até essa data haja alguma razoabilidade. Não há nenhum fato econômico que leve os Estados Unidos a impor esse 'tarifaço'", explica Pimentel. "As questões são políticas."

Na carta enviada por Trump a Lula, alguns pontos justificam, segundo o governo federal dos EUA, a medida. Trump afirma que o Brasil adotou barreiras comerciais elevadas, que supostamente desequilibraram o comércio entre as duas nações. Porém, de acordo com um levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a balança comercial está positiva, há 16 anos, para os EUA em cerca de US$90.28 bi (R$499,42 bi). Ou seja, considerando tudo que os Estados Unidos compraram do Brasil, e vice-versa, o saldo é vantajoso para o primeiro há quase duas décadas.

Além disso, a carta diz que a decisão de aumento é uma resposta à suposta perseguição que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria sofrendo, devido ao processo criminal no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado. Como foi noticiado no G1, o Itamaraty declarou, em reunião com o governo estadunidense, ser inaceitável a intromissão dos EUA, e de qualquer outro país, em assuntos democráticos e judiciários brasileiros.

Como fica o algodão?

O Brasil é o maior exportador de algodão do mundo. Os Estados Unidos vem em segundo lugar. Estimativas da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) preveem que a safra 2024/25 chegue a 3.95 toneladas. Apesar de vender a pluma de algodão para 150 países, o Brasil não exporta para os EUA. O que não quer dizer que a produção nacional dessa commodity esteja ilesa ao aumento das tarifas. "A medida gera apreensão quanto aos possíveis desdobramentos econômicos e comerciais", afirma a Abrapa em comunicado à imprensa.

A maior parte do algodão brasileiro é utilizada para abastecer a indústria têxtil nacional . Vira roupa, tecido etc para consumo doméstico. O detalhe é que, entre os maiores compradores desses produtos do Brasil - muitos feitos com algodão -, encontram-se os Estados Unidos. Assim, indiretamente, a produção de algodão pode ser impactada. "O que indica que os efeitos das novas tarifas poderão alterar dinâmicas da cadeia produtiva", continua a declaração da Abrapa, que também reforça sua defesa dos interesses dos produtores brasileiros.

Inclusive, a última vez em que ambos governos entraram em um embate comercial direto foi por conta do algodão , em 2002. O período ficou informalmente conhecido como a "Guerra do Algodão". O Brasil criticava os subsídios que os EUA davam aos exportadores daqui, pois eles não permitiriam uma competição justa dos mercados internacionais. O Governo recorreu à Organização Mundial do Comércio (OMC), que deu ganho ao Brasil em 2007 mas, o então presidente George W. Bush resistiu em cumprir as determinações. Somente em 2014 a questão foi resolvida, sob a gestão Dilma Rousseff.

O pior dos dois mundos

"Desde abril (2025), nós estávamos trabalhando para aumentar a nossa participação no mercado dos EUA diante da cobrança superior das tarifas em outros países", afirma o diretor-superintendente da Abit. Com a maior elevação em abril da taxa de exportação para algumas nações, o Brasil, que tinha recebido "apenas" 10%, fortaleceu suas vendas para os Estados Unidos. Em outras palavras: para o comerciante dos EUA, há alguns meses, começou a sair mais barato comprar daqui do que de outros lugares. "Crescemos as exportações de têxteis e confeccionados em 13% para os EUA no primeiro semestre."

O mercado de venda aos Estados Unidos estava aquecido, o diretor-superintendente explica que o interesse de marcas brasileiras de vestuário em participar de feiras de negócios havia aumentado. "Nós nunca atendemos ao grande mercado de têxteis e confeccionados de lá. A China foi a maior fornecedora no ano passado e vendeu cerca de R$553 bi (em comparação com os R$387 mi do Brasil)", pondera o porta-voz da Abit. "Não ocupamos espaços massivamente nos EUA, mas progressivamente alguns que pudéssemos ter em conta." Atualmente, a taxa sobre os produtos chineses é de 30%. "E agora, a maior restrição (50%) ficou em cima da gente."

E agora?

Seria o caminho, então, elevar a taxa do que o Brasil compra dos Estados Unidos? O presidente Lula afirmou que, caso não haja redução do percentual com diálogos, ou que um possível intermédio da OMC não gere resultados, poderá ser aplicada a Lei de Reciprocidade Econômica. A medida, sancionada em abril e ainda não regulamentada, é uma proteção às medidas unilaterais de outras nações. Nesse caso, o Brasil cobraria a mesma taxa de produtos estadunidenses vendidos para cá.

"Nós temos uma relação histórica de mais de 200 anos com os EUA, eles foram o primeiro país a reconhecer a nossa independência e não há razões para esse 'tarifaço'. As questões políticas colocadas não podem entrar nessa linha de discussão econômica", pontua Fernando Valente Pimentel. "Nós temos hoje o pior dos mundos, tanto para o Brasil quanto para os Estados Unidos."

https://abrapa.com.br/2025/07/14/entenda-os-possiveis-impactos-da-t...

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