Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Fabricantes de Vestuário - Produtividade pode Compensar o Custo dos Salários mais Altos

Parte1

Os luditas do século XIX não tinham como saber que a mecanização acabaria por levar a uma melhoria na produtividade. Mas, hoje em dia, os fabricantes de vestuário não têm desculpa para não perceberem que as melhorias de produtividade podem compensar o custo dos salários mais altos.

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Mudança na roupa – Parte 1

 É pelo menos o que defende Mike Flanagan, CEO da Clothesource Sourcing Intelligence, uma reputada consultora britânica especializada no sector do vestuário
O mês de Março de 2011 marcou o 200.º aniversário dos luditas, um grupo de trabalhadores anti-mecanização da indústria têxtil e de vestuário (ITV), concentrado em torno da região de Nottingham na Inglaterra. Hoje em dia, a maioria das pessoas acha que ninguém pode parar o progresso: a mecanização da ITV era inevitável, e, na Inglaterra do início do século XIX, o processo acabou por ser responsável pelo mundo moderno industrializado.

O que realmente aconteceu foi que nos primeiros anos do século XIX, a Inglaterra estava em guerra com a França. Ambos os lados tentaram matar o outro de fome, bloqueando o comércio – o que levou a graves problemas financeiros para os exportadores de vestuário da Grã-Bretanha. A solução encontrada foi espremer os seus trabalhadores (o único custo sobre o qual tinha algum controlo) e mecanizar.

Os trabalhadores, em muitos casos famintos, pediram ajuda ao Governo, especialmente para prevenir que os seus salários fossem reduzidos. O governo recusou-se, pois, nas palavras do então primeiro-ministro, «a Assembleia Legislativa não deve interferir, mas deve deixar que tudo encontre o seu próprio equilíbrio».

Eloquente, realmente, considerando os problemas que surgiram com a proibição do livre comércio por parte desse mesmo governo. Mas independentemente dos erros e acertos, os trabalhadores decidiram que os teares ameaçavam os seus meios de subsistência e, em Março de 1811, começaram a destruir as máquinas de tricotar peúgas, pertencentes aos proprietários que tinham cortado os salários.

E, claro, os luditas estavam em determinada medida certos e os seus adversários errados. Novas máquinas significavam salários drasticamente mais baixos. Uma geração mais tarde, a mecanização generalizada tornou a Grã-Bretanha mais rica, mas a previsão dos luditas de que os tecelões seriam seriamente prejudicados nas duas décadas seguintes estava totalmente correcta.

A História raramente se repete. Duzentos anos depois, ao contrário dos britânicos em 1811, a maioria dos governos em todo o mundo adora interferir na forma como estão definidos os salários no vestuário. Hoje temos os novos luditas, divididos igualmente entre empresários que reclamam que essa interferência está prestes a destruir as suas vidas e activistas sindicais que parecem não ter percebido o que motiva os governos hoje em dia.

De forma mais extrema, a Federação das Indústrias de Hong Kong (FHKI) prevê que uma em cada três fábricas de propriedade hongueconguense na China – ou 22.000 das cerca de 65.000 unidades – seja obrigada a cortar as suas operações ou encerrar nos próximos três a cinco anos, como resultado das regras laborais mais exigentes, falta de mão-de-obra, aumento dos salários, apreciação do yuan e preços elevados das matérias-primas.

De recordar que, em 2008, a mesma FHKI previu que milhares de fábricas localizadas no Rio das Pérolas iriam fechar à medida que o aumento salarial ficava fora de controlo e, três anos depois, ainda estamos à espera que tal aconteça.

A FHKI está a fazer os luditas originais parecerem brilhantes analistas: depois do aumento do salário mínimo em cerca de 20% em toda a China em 2010 – e muito mais do que em Cantão e Xangai – a quota da China no comércio mundial de vestuário em 2010 foi a mais elevada de sempre. Com efeito, a absolutamente terrível noção que muitos proprietários de fábricas modernas têm do que está a acontecer, deveria fazer-nos melhorar a opinião sobre os luditas do século XIX.

No início de 2010, os fabricantes de vestuário do Bangladesh juraram que não se podiam dar ao luxo de aumentar os salários. Após intensa pressão dos compradores e do governo, foram obrigados a aumentar o salário mínimo em 80% a partir de Novembro – e simplesmente não conseguem responder à crescente procura dos compradores.

Em Março deste ano, a Associação dos Fabricantes das Honduras queixou-se que os aumentos irrealistas nos salários mínimos estavam a levar as empresas de vestuário do país para a vizinha Nicarágua e El Salvador (onde os salários são inferiores) desde 2009. Mas, durante 2010, os salários ditos “irrealistas” ajudaram as Honduras a aumentar a sua quota nas importações de vestuário dos EUA em relação a 2009, enquanto os salários “realistas” na Nicarágua causaram a queda da sua quota.

Pelo menos os luditas de 1811 mantiveram uma mensagem consistente.

Em Fevereiro, o sector de vestuário da Guatemala deveria perder 6.000 postos de trabalho em 2011, como resultado de uma decisão do governo de aumentar os salários mínimos em 14,8%. Duas semanas depois, o governo da Guatemala foi obrigado a intervir novamente, pois percebeu que os EUA poderiam ser forçados a suspender as concessões comerciais no caso da Guatemala, se os direitos sindicais não fossem mais escrupulosamente cumpridos. Outra semana mais tarde, os impulsionadores da América Central alegavam que a «proximidade do mercado torna agora [a região] mais competitiva do que a China para produzir vestuário».

Do outro lado do mundo, com os proprietários de empresas tailandesas a culparem os aumentos salariais irrealistas do seu governo pela deslocação das fábricas para o Vietname, a Top Form de Hong Kong está a comparar favoravelmente as suas operações tailandesas em relação ao ambiente de negócios na China, onde «as mudanças esmagadoras» nas leis laborais são «demasiado rápidas para compreender e reagir».

Então, serão os actuais proprietários de negócios de vestuário verdadeiros luditas?

Parte2

A actualização generalizada dos salários no sector de vestuário internacional está a originar uma transformação na realidade global do sector. No entanto, à semelhança da mecanização da indústria que esteve na génese da revolução industrial, há reacções à mudança sem ponderar os efeitos.

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Mudança na roupa – Parte 2

No século XIX, a industrialização na Inglaterra ficou marcada pelo movimento dos luditas, um grupo de trabalhadores da indústria têxtil e de vestuário (ITV) responsável por uma campanha contra a mecanização da produção. O papel que na altura era assumido pela tecnologia, está actualmente ocupado pela produtividade  e a reacção de diversas empresas no sector de vestuário leva o CEO da Clothesource Sourcing Intelligence, Mike Flanagan, a questionar se os proprietários das empresas serão os verdadeiros luditas de hoje.

Os empresários do sector de vestuário de hoje ficam aquém da Asia Floor Wage Campaign, cujo “Tribunal do Povo” no Sri Lanka anunciou, no finalde Março, que os governos asiáticos «devem (…) trabalhar em conjunto numa abordagem regional para evitar uma corrida para o fundo [do salário] pelas indústrias mundiais à procura de custos mais baixos».

Esta «corrida para o fundo» tem sido o mote entre os sindicalistas mais obcecados durante os últimos cinco anos. Durante esse tempo, os governos, desde Guangdong à Guatemala, têm empurrado activamente os salários para cima.

Na realidade, existe uma enorme diferença entre os luditas originais e os novos luditas de hoje. Os trabalhadores luditas do século XIX, como os seus congéneres actuais, estavam preocupados com o seu próprio bem-estar e não com o bem maior da sociedade. Eles acabaram por estar certos na previsão de que a mecanização iria destruir os seus empregos nos anos seguintes. Por seu lado, os proprietários do século XXI que passaram os últimos dois anos com os seus gritos de catástrofe iminente evidenciaram estar espectacularmente errados. Assim, como esta «corrida para o fundo» não é mais do que um desporto de fantasia.

Porquê? Em última análise: a produtividade.

Os luditas do século XIX não tinham forma de saber que a mecanização acabaria por transformar a produtividade do mundo e trazer uma incrível riqueza para a maioria da população.

Mas os proprietários de fábricas modernas não têm desculpa para não se aperceberem que as melhorias de produtividade podem facilmente aniquilar os custos dos salários mais elevados – e os propagandistas sindicais que ainda produzem este mito absurdo de uma «corrida para o fundo» também não ajudam.

A empresa de consultoria em economia Dragonomics estima que a produção de vestuário por trabalhador na China tem crescido 13% ao ano desde 2005 – o que significa que, mesmo com aumentos salariais generosos, os custos laborais na China por blusa ou camisa são em geral aproximadamente os mesmos que há cinco anos.

Se as reivindicações da América Central, do regresso de encomendas, se materializarem será porque o efeito global dos tempos de entrega mais curtos, menores custos de transporte e stocks mais baixos, possíveis ao produzir perto dos clientes norte-americanos vão tornar a subcontratação na região em geral mais barata, do que a subcontratação na Ásia.

Aumentar os salários também não significa automaticamente melhor produtividade. Os aumentos salariais de 2010 na área de Deli, por exemplo, não parecem ter ajudado a melhorar a produção por trabalhador nas empresas de vestuário indianas.

Os luditas do século XIX podem ser perdoados por não anteciparem o efeito de uma melhor produtividade. O mercado, no entanto, não vai perdoar a falta de visão dos novos luditas, quer eles mostrem uma oposição instintiva a salários mais elevados ou ainda acreditem nos slogans de propaganda desactualizados. Eles vão acabar por ser julgados como pessoas incapazes de se adaptarem ao mundo moderno, enquanto os seus clientes levam os negócios para fábricas que compreendem como funciona o mundo no século XXI.

Fonte:|portugaltextil.com|

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