Reforço nos pedidos para o Natal foram insuficientes para frear queda de 5,5% no volume de peças em 2012
Os produtos de vestuário costumam puxar as vendas do varejo em muitas datas comemorativas. No Natal, principal evento do ano para os lojistas, não é diferente. Entretanto, nem sempre a explosão generalizada de consumo possui a força necessária para atingir a outra ponta da cadeia, principalmente no Rio Grande do Sul, que além da concorrência desleal dos importados, ainda precisa conviver com o polo têxtil de Santa Catarina e as especificidades climáticas.
Se por um lado o comércio deve concentrar alta de 4,7% em volume de peças e de 7,6% em valores, por outro, o inverno pouco rigoroso reduziu o ritmo das vendas e atrasou o escoamento da coleção primavera-verão, ampliou os receios com a crise internacional e a entrada continuada de produtos importados. Com isso, segundo estimativas da pesquisa Projeções de Mercado, elaborada pelo Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), a estimativa é de que a produção nacional despenque 5,5% no acumulado do ano.
A boa nova é que 2013 pode reservar perspectivas mais promissoras para a indústria, como o aumento da produção (em peças) de 2%, e de 5,5% em valores. A notícia ruim diz respeito aos estrangeiros, que pela primeira vez abocanharam uma fatia superior a 12% do mercado brasileiro. Mais de 50% é de origem chinesa e 10% da Índia.
Um novo dado preocupante se refere à outra ponta da balança comercial. Na década de 1990, cerca de 35% da produção nacional era destinada exclusivamente às exportações. Entre 2007 e 2011, os embarques reduziram em 67%. No ano passado, pela primeira vez em duas décadas, as vendas externas registraram déficit comercial de US$ 182 milhões.
A retomada, entretanto, conforme avalia o diretor do Iemi, Marcelo Villin do Prado, começou com o aquecimento nos pedidos de Natal. “O varejo de vestuário tem conseguido se posicionar em uma curva de crescimento forte. Em 2013, porém, o que verificamos é que o setor deverá se alinhar ao PIB e à expansão do consumo das famílias. A indústria, por outro lado, não acompanha. Não é fácil, mas a melhor forma é dar competitividade por meio de desonerações que permitam condições de favorecer o crescimento interno, a modernização e o ganho de escala. Se formos competitivos aqui, podemos pensar em conquistar o mercado lá fora. Mas para isso, precisamos buscar o equilíbrio”, comenta.
Prado ainda considera que perda de competitividade é justificada pela falta de infraestrutura ineficiente e pelas cadeias longas que passam pela agricultura, indústria química até gerar a matéria-prima e o beneficiamento, acumulando um peso excessivo de tributos. “Quando se exporta, o governo desonera. Mesmo assim, criou-se um nível de competição muito acirrado com os importados, e a exportação caiu muito, levando a produção a ser destinada ao mercado interno. Atualmente, não mais do que 3% da produção nacional deixa o País. O segmento de cama, mesa e banho chegou a exportar 50% da produção e agora não passa de 7%”, exemplifica.
Na avaliação do diretor da Fenim e da Expovest, duas das mais tradicionais feiras do setor no Estado, Julio Viana, os números são positivos na comparação com 2011, com o período acumula condições favoráveis. A concorrência com os importados, no entanto, é um caminho sem volta, mesmo que alguns segmentos apresentem dificuldades de planejamento para os pedidos externos. O governo tem certa culpa em razão da carga tributária elevada. Isso gera uma concorrência desleal. Sem os impostos, seríamos a China da América Latina”, afirma.
Para Viana, as importações representam uma necessidade. Mesmo assim, as feiras ainda conseguem manter a média de participação dos produtos estrangeiros abaixo de 15%. “Os lojistas precisam contar com os importados. Se perguntarmos para o importador se ele quer importar, ele dirá que prefere fabricar.”
Na contramão do restante do País, as indústrias gaúchas de vestuário não conseguiram sequer aproveitar o incremento dos pedidos de Natal que poderiam sinalizar o início de uma retomada. Por aqui, o setor produtivo que emprega mais de 37 mil pessoas não tem muito que comemorar.
Isso porque, em razão do curto inverno, os lojistas não conseguiram repassar os produtos da estação. O fato deve comprometer, inclusive, o próximo inverno em razão dos estoques elevados. Ainda assim, em valores nominais, o setor produtivo termina o ano com saldo positivo de 2,5% nas receitas geradas pela indústria, já que os preços na fábrica tiveram que ser reajustados para fazer frente ao aumento dos custos de produção.
Conforme o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e Malharias da Região Nordeste do Estado (Fitemasul), Carlos Araújo, a redução nos pedidos ultrapassou os 30% na média entre as 533 indústrias representadas pela entidade. O dirigente credita o desempenho que acumula decréscimos desde 2010 à falta de ações em esfera estadual.
“Conseguimos vencer uma batalha que é a unificação das tarifas. Isso já quebrou a guerra fiscal sobre os importados em Santa Catarina e Espírito Santo. Agora precisamos da unificação da tarifa em 4%. Todos os fabricantes têm uma diferenciação de ICMS muito mais competitiva, em Santa Catarina 2,5%, no Rio de Janeiro 1,5%, São Paulo 2%. Aqui apenas há um ano começamos a mexer nos 7%”, informa. O presidente do Sindivest Serra, Thiaraju Vieira Barbosa, concorda com a proporção, mas revela que muitos itens - como a lycra - têm de ser exclusivamente nacionais. No entanto, fibras e outros materiais já não encontram similares no mercado interno. Sobre os indícios de uma possível retomada, ele revela certo pessimismo, e considerou o incremento da produção no final do ano como “natural”.
Fonte:|http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=112108
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