O universo da moda é envolvente, glamouroso, mas também é marcado por uma história complexa e muita luta. Por outro lado, sabemos que individualmente a moda é expressão de emoções, da maneira como queremos nos apresentar e nos comunicar com o mundo.
Essas duas coisas juntas são o bastante para afirmar que a moda também é expressão de ideologias diversas, que resultam em comportamentos sociais, como os hábitos de consumo por exemplo. Por isso mesmo, seria a moda o canal de reflexão e questionamento desses comportamentos sociais e suas consequências no mundo? Qual seria o papel de cada um de nós nessa reflexão, já que somos os consumidores finais de tudo o que é produzido e vendido em todos os lugares?
Quando escolhemos nossas roupas não paramos para refletir em como elas foram feitas
Até chegar às lojas e depois, aos nossos guarda roupas, por quantos processos e caminhos cada peça de roupa passou? Quantas mãos estiveram envolvidas na produção e distribuição? Quais as condições de trabalho destas pessoas? Provavelmente você, eu e quase todo mundo não podemos responder a essas perguntas. Esse é um dos motivos do surgimento do Movimento Global Fashion Revolution.
Edíficio Rana Plaza em Bangladesh após o desabamento em 2013
O Fashion Revolution surgiu por causa do desabamento do Edifício Rana Plaza em Bangladesh em 2013, que abrigava diversas confecções de roupas, sem condições dignas de trabalho e de segurança para os trabalhadores. O desabamento causou mais de 1100 mortes e deixou cerca de 2500 pessoas feridas. Essa tragédia comoveu o mundo e levou as pessoas a refletirem sobre a importância de saber "como e quem fez" as roupas que elas usam diariamente. Em outras palavras, levou as pessoas a perceberem que suas ações têm consequências no mundo e na vida de outras pessoas, mesmo os hábitos mais corriqueiros do nosso cotidiano, como por exemplo, comprar uma peça de roupa.
Em 2014 aconteceu a primeira campanha online #whomademyclothes
Em 2014 foi feito o primeiro Fashion Revolution Day, que levanta exatamente essa questão: "Quem fez minhas roupas?". Comecei a participar como voluntária já em 2015 e hoje sou a representante oficial do Fashion Revolution em Belo Horizonte. Entre os objetivos do projeto está aumentar a conscientização sobre os impactos dos processos de produção no meio ambiente e na sociedade, além de disseminar a ideia de consumir moda de forma sustentável.
Costureiras em Bangladesh, com a visibilidade após o desabamento do Rana Plaza, houveram mudanças, ainda que pequenas, nas condições de trabalho
O processo de produção das matérias primas - fibras, tecido, estamparia e beneficiamentos, bem como a confecção das peças, a distribuição até a venda direta de cada peça de roupa, é desconhecido pela maior parte da população. Para haver reflexão e mudança, é necessário que as pessoas antes conheçam os processos e os problemas. Só assim esse novo conceito de consumo com qualidade, consciência e valorização do ser humano pode ser disseminado no mundo.
A estilista e ativista ambiental Stella McCartney lançou em 2017 um editorial feito em um lixão mostrando a relação da moda com o excesso de resíduo que geramos
É muito importante divulgar que a indústria têxtil é a segunda indústria mais poluente do planeta. Cerca de 16% dos inseticidas do mundo são usados na produção do algodão. Apenas no Brasil, estima-se que sejam geradas 170 mil toneladas de resíduos têxteis e há dados que confirmam que 20% da poluição das águas no mundo é responsabilidade da indústria têxtil.
Em abril de 2018 as Hashtags oficiais foram utilizadas 173mil vezes
Atualmente a campanha do Fashion Revolution acontece em mais de 100 países e convida as pessoas a postarem fotos com suas roupas pelo avesso, com as etiquetas à mostra, acompanhadas de uma hashtag com o seguinte questionamento #whomademyclothes (#quemfezminhasroupas).
O crescimento da campanha colabora para que mais pessoas tenham condições dignas de trabalho
Inicialmente o evento Fashion Revolution ocorria sempre no dia 24 de abril, porém, a evolução da consciência da importância de disseminar e discutir os assuntos que envolvem a sustentabilidade, a moda ética e justa, o respeito ao meio ambiente e aos direitos humanos, exigiram a instituição da Semana Fashion Revolution.
No último ano quase 4000 marcas se engajaram e responderam às hashtags do Fashion Revolution
Muitas marcas brasileiras, inclusive algumas consideradas Fast Fashion, se engajaram e publicaram as fotos mostrando como funciona sua cadeia produtiva, acredito que o mercado percebeu a importância de ser justo e transparente com o seu público.
Telma Barcellos durante a Semana Fashion Revolution Belo Horizonte no Museu da Moda
A Modacad é uma das empresas que acreditam e apoiam o projeto Fashion Revolution. Na última semana, nossa CEO, Telma Barcellos fez parte da programação da Semana Fashion Revolution em Belo Horizonte. Ela ofereceu um workshop sobre Sustentabilidade e Rentabilidade mostrando que esta dupla pode andar junto.
Telma acredita que existem muitos recursos para construir modelos de negócio inovadores, sutentáveis e lucrativos. Uma das possibilidades apontadas por ela no workshop, foi a inclusão de "pessoas fora do padrão" no mercado da moda. Investir em modelagem e estilo para a produção de roupas que vistam bem os diferentes tipos de corpos pode ser uma ação bastante efetiva para conquistar mais rentabilidade, porque cria oferta para mercados ainda inexplorados, e mais sustentabilidade, porque o aumento das chances de vendas de uma roupa diminui o volume do descarte do que não é vendido.
Oficina Upcycling Jeans oferecida por Sarah Almeida no Fashion Revolution em Belo Horizonte
Além desse evento fixo, anual, o Fashion Revolution realiza ações durante todo o ano para valorizar a moda ética e sustentável, incentivar a produção e o consumo consciente, lutar contra os padrões de beleza excludentes e contra as péssimas condições de trabalho encontradas nesse mercado. Exemplo dessas ações são o Indíce de Transparência da Moda, lançado em outubro de 2019, e o Fórum Fashion Revolution, que abriu recentemente inscrições para sua segunda edição.
As exposições da Semana Fashion Revolution em Belo Horizonte abordaram os temas Feminismo, reaproveitamento de resíduos, transparência na comunicação das marcas e desenvolvimentos de novos materiais para a moda. Elas estarão expostas no Museu da Moda de Belo Horizonte até 12 de maio de 2019
O Fashion Revolution levanta outras bandeiras que abrangem áreas além da moda, como por exemplo as políticas de gênero, o feminismo e o uso da tecnologia a favor da revolução da moda. Uma das forças que me movem para trabalhar nessa “revolução da moda” é exatamente a paixão por levar para as pessoas uma nova concepção sobre moda e consumo. Incentivá-las a refletir sobre os impactos que simples ações podem gerar e, o principal, que através destas simples ações é possível ser e ver uma mudança real no mundo!
Fashion Revolution!
by Lívia Monteiro e Modacad
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