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Coleção Verão 2012 da marca Clara Rosa Teen |
“Crescei e multiplicai-vos”. Em franca expansão no Brasil, os evangélicos entram definitivamente para mundo da moda e estão dispostos a investir em produtos relacionados à religião. Segundo o IBGE, o número de evangélicos no Brasil cresceu quase seis vezes em 60 anos. A estimativa é de que até o início de 2011 o número de brasileiros adeptos a essa doutrina tenha atingido a marca de 55 milhões. Este crescimento favorece a ascensão de um mercado econômico que interessa tanto às igrejas quanto ao empresariado, isto porque os evangélicos correspondem a uma população consumidora de um grande volume de produtos pertinentes a sua religião. Responsáveis pelo consumo de aproximadamente 35% dos instrumentos musicais no País, agora é o mundo da moda que abre espaço para um novo segmento: a moda gospel. Somente na região do Brás, em São Paulo, são mais de 30 estabelecimentos especializados no atendimento ao público evangélico.
“A roupa é uma mídia humana”, analisa João Batista, administrador da loja on-line Mais Alto nas Asas da Fé, que há quase dez anos trabalha com confecção e venda de camisetas com mensagens religiosas. Batista comenta que a maior parte da produção da loja é vendida em lotes para igrejas, festivais musicais e congressos religiosos. O empresário é otimista em relação à expansão desta área. “Com o aumento das igrejas evangélicas, a expansão desse mercado é um movimento natural”, diz. O administrador, que tem também formação religiosa, destaca a mudança no perfil de seus consumidores. “Nós pesquisamos nosso público alvo e estamos atentos às mudanças nos padrões de exigência, como as cores e a sobriedade”, conta.
Moda comportada
A adaptação das tendências da moda aos preceitos religiosos é a grande preocupação dos estilistas especializados no público gospel. “O design precisa ser bem elaborado,
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Campanha 2012 da marca Joyaly |
mas, ao mesmo tempo, discreto. Não podemos, por exemplo, usar brilho ou destacar decotes”, diz o diretor comercial da marca paulistana Joyaly, Alison Flores. Ainda que as regras a respeito do comprimento de saias e mangas sejam rigorosamente respeitadas, existe hoje uma maior flexibilização quanto à modelagem, uma vez que os consumidores têm mostrado interesse na estética e na exclusividade. “Nosso público, principalmente o mais jovem, tem muito acesso a informação e pedem por um produto mais moderno”, comenta o diretor.
A Joyaly, que investe também na produção plus size, envia seus estilistas a capitais internacionais da moda para inserir as principais tendências em seus produtos e atenta para a nova percepção de seu público sobre o assunto. “Nossos clientes têm procurado roupas que se adaptem à religião, mas que também possam ser combinadas a roupas comuns”, comenta Flores. Embora o mercado esteja em notável expansão, o diretor da Joyaly ressalta os efeitos da desaceleração econômica nas vendas da marca. “Nós atendemos principalmente às classes B e C, bastante sensíveis à situação do mercado”, comenta o diretor. Embora não tenha revelado os lucros, a marca - que também vende parte da produção para os Estados Unidos e Europa - espera mantê-los em 2012.
Em contrapartida, para a estilista Maria Martins, produtora da Clara Rosa, no Paraná, a procura por este mercado é satisfatória e a expectativa para as vendas nos próximos meses é positiva. A marca, que atende às mulheres evangélicas de igrejas tradicionais, segmentou sua produção e criou a linha Clara Rosa Teen, especializada na criação de vestuário para adolescentes cristãs. De acordo com a estilista, o grande desafio para a consolidação da moda gospel é surpreender as clie
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Modelo da camiseteria Mais Alto nas Asas da Fé |
ntes, que procuram por roupas que estejam dentro dos padrões da doutrina preservando a elegância.
“Procuro me vestir de uma maneira comportada sem ser ridícula. Como eu não uso bijuterias, visto uma echarpe, um cinto diferente, um sapato ou bolsa moderna”, comenta a consultora de moda Iolanda Wultz, que é adepta à religião e procura sair do estereotipo “crente”. “Busco roupas que valorizem meu corpo, não em sedução, mas em elegância. Acredito que a mulher deve transmitir certa santidade”, diz. Já a estudante de comércio exterior Laísa Garcia, que frequenta a Igreja Batista, não concorda com a restrição do vestuário que pode ser usado pelos evangélicos. “É uma questão de doutrina. Respeito isso, mas não acho necessário. Essa maneira de se vestir é um pouco ultrapassada”, comenta. “Não posso negar minha crença pela vaidade extrema, mas acredito que tudo em nossas vidas seja, de certa forma, vaidade”, acrescenta Wultz.