Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Quando Isaac Osae começou sua carreira de alfaiate, no ano passado, fazia vestidos de cores tropicais. Hoje esse operário de 24 anos está aprendendo a costurar uniformes hospitalares.

Ao longo da costa atlântica da África, fábricas de vestuário estão desistindo de produzir roupas africanas e preferindo montar batas, aventais e jalecos de laboratório. A mudança ocorre agora que os fornecedores globais buscam a mão de obra africana, de baixo custo e de língua inglesa, assim como os portos da África Ocidental, que ficam a uma distância dez dias menor da costa leste dos Estados Unidos do que as fábricas de vestuário asiáticas.

"Dez dias fazem uma diferença enorme no ramo do vestuário", diz Clifford Schiffman, diretor de compras mundiais para a Itochu Prominent USA LLC. Essa atacadista de roupas, divisão do conglomerado japonês Itochu Corp., pretende encomendar de Gana até US$ 50 milhões em camisas e calças sociais ao longo dos próximos três anos, com planos de vender a maior parte para a rede Wal-Mart Stores Inc.

"A África, para mim, é o novo polo de fabricação de vestuário", diz Schiffman.

Pessoas que buscam locais para fabricar têxteis, como Schiffman, estão procurando a África Ocidental agora que a Índia, Malásia, Tailândia e China vêm aumentando seus salários mínimos. Na China os salários subiram 10% apenas nos dois primeiros meses deste ano, reduzindo as margens de lucro para os atacadistas, de acordo com o banco de investimentos Standard Chartered PLC.

Este ano, a Wal-Mart comprou mais de meio milhão de uniformes hospitalares da Lucky 1888 Mills Ltd., de Gana. A Liberty & Justice, uma empresa de desenvolvimento sustentável, fabrica 350.000 calças por mês em Gana para compradores americanos. Na Libéria, país próximo de Gana, a Liberty & Justice fabrica sacolas de pano para a Godiva Chocolatier Inc., de Nova York.

Mas a fabricação de roupas é um setor instável, que no passado já entrou e saiu da África.

Fábricas de roupas informais surgiram na África Oriental em 2000 e triplicaram a produção em cinco anos, depois que o Congresso dos EUA aprovou a Lei do Crescimento e Oportunidades para a África. A lei permite que os países democráticos do continente vendam produtos para os EUA com isenção de taxas alfandegárias.

Mesmo com essa vantagem, as fábricas da África Oriental lutam para conseguir as encomendas gigantescas que as fábricas chinesas recebem. A lei expira em 2015, e os magnatas da indústria têxtil africana dizem que serão obrigados a parar a produção se ela não for prorrogada.

A África Ocidental, por sua vez, não está no mapa do comércio mundial de vestuário. Décadas de ditadura militar em quase todos os países da região afastaram os investidores.

A economia de Gana, país de língua inglesa que se libertou do domínio britânico em 1957, ficou estagnada durante 35 anos de ditaduras intermitentes. Em 2005, Gana produziu metade da quantidade de roupas que fez em 1977, segundo o governo. Mas agora Gana é uma democracia estável, com uma das economias que mais crescem no mundo.

Isso melhorou as perspectivas para empresas como a Dignity Industries. No mês passado, um fornecedor da walmart.com manifestou interesse em fazer encomendas da Dignity, onde Osae se esforça para dominar sua máquina de costura.

Primeiro, porém, a equipe de costureiros autodidatas precisa dominar os processos de produção em massa. Uma instrutora filipina, contratada pela Dignity, apontou para uma gola mal costurada de um uniforme. "Comece de novo", aconselhou a Osae.

"Eu já sei costurar", diz Osae a um visitante. "Só que meus pontos têm que sair em linha reta."

Os costureiros da Ásia e da América Latina em geral são mais rápidos. "Muito mais rápidos", diz Sandra Garcia, uma hondurenha que é instrutora de costura na Lucky 1888. Para que as fábricas locais consigam fazer Gana competir com os maiores fabricantes mundiais de roupas, terão que montar um uniforme hospitalar em oito minutos.

Alfaiates como Osae ganham US$ 100 por mês, um terço do que costureiros em algumas regiões da China podem esperar, de acordo com o Banco Mundial. Por outro lado, as fábricas de roupas africanas sofrem com quedas de energia que fazem parar as máquinas.

A dona da Dignity, Salma Salifu, abriu sua fábrica nos anos 1990 com a ambição de exportar roupas de alta moda de Gana para as vitrines americanas. Na melhor fase da empresa, a Dignity enviava anualmente centenas de roupas coloridas, que os estilistas chamam de afrocêntricas, por até US$ 300 cada vestido. O ex-presidente americano, Bill Clinton, fez uma visita à fábrica em 2002.

Mas nos EUA o interesse pelas roupas afrocêntricas parece estar caindo. Muitas das fábricas que o presidente Clinton visitou foram fechadas. Butiques de moda africana em Filadélfia e Washington que pediram concordata devem US$ 36.000 a Salifu, diz ela.

Foi então que ela decidiu transformar sua fábrica. "Não podemos ficar aqui vendendo roupas uma a uma, diz. "Vamos pegar uniformes hospitalares. Nosso pessoal vai ter trabalho."

Em outubro, Salifu enviou seu primeiro protótipo para um fornecedor da walmart.com. Ela espera vender uniformes hospitalares por US$ 1 acima do seu custo de tecidos e fios, conseguindo um lucro liquido de US$ 0,02. Outros donos de fábricas nas proximidades estão competindo pelos mesmos clientes.

Desde o ano passado, a Lucky 1888 vendeu quatro contêineres de uniformes por mês a um fornecedor da Wal-Mart, vindos de uma fábrica antes ociosa, perto do porto de Acra. Jonathan Simon, diretor-presidente dessa empresa americano-paquistanesa, planeja triplicar a produção até 2015, instalar uma fábrica de tecidos e trazer o algodão por caminhão da vizinha Burkina Faso. Ele pretende contratar mais 2.000 operários na fábrica de roupa, onde Janet Azure trabalha.

Azure, de 25 anos, antes tinha sua própria oficina, costurando as tradicionais roupas africanas de duas peças usadas na igreja, que os estilistas aqui chamam de "slit" e "kaba". Ela agora ganha US$ 10 a mais por mês costurando uniformes hospitalares.

"É aqui que está o dinheiro", diz ela.

Exibições: 259

Responder esta

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço