A mudança de comando de uma das maiores empresas do ramo têxtil do país aconteceu sem alarde, de maneira bem discreta. Mas, desde novembro, o presidente do grupo Malwee atende pelo nome de Guilherme Weege, filho do hoje presidente do Conselho de Administração da empresa, o reconhecido empresário Wandér Weege. A sucessão entre pai e filho já vinha sendo preparada há três anos, mas bem antes disso, aos 12 anos Guilherme já iniciou seu contato com o mundo dos negócios e diz que sua missão a partir de agora é liderar o crescimento da empresa, que tem 43 anos, mantendo a visão social e de responsabilidade ambiental implantada por Wandér. Como nova estratégia, o Grupo já abriu seis lojas de marca própria em shoppings de Belo Horizonte e São Paulo. Ao todo são mais de 9.500 funcionários e a previsão de contratação de mais 1,5 mil pessoas em 2012. Sobre sucessão, mudanças e planos, Guilherme Weege fala na entrevista abaixo.
Patricia Moraes - Aos 12 anos o senhor começou a atuar na empresa. Desde cedo se preparou para assumir o comando em substituição ao seu pai?
Guilherme Weege - A transição começou de fato no ano de 2004, onde fiquei encarregado por algumas áreas da parte têxtil, e principalmente responsável pela diversificação dos negócios do Grupo. Após iniciar novos negócios e dar continuidade a outros já existentes, o foco voltou a ser 100% Malwee (que é também controladora da LMG), pois já havia subido ao Conselho das outras empresas, depois de tê-las profissionalizado.
Patricia - Quando foi tomada a decisão sobre a troca de comando da empresa? O que lhe veio à cabeça?
Guilherme - A transição foi muito bem pensada para termos certeza de que a cultura deste grupo familiar centenário, que teve origem em Jaraguá do Sul e que trouxe importante desenvolvimento para a região, seria mantida e fortalecida em todos os seus pilares. A nova administração começou a ser formada há três anos, e agora em 2011 finalizamos todas as mudanças gerenciais e estruturais dos negócios, estamos com a equipe 100% profissional e motivada para todos os desafios que temos pela frente.
Patricia - O seu pai, Wandér Weege, é um homem de sucesso reconhecido. Dá para imaginar que a responsabilidade de substituí-lo deve ser enorme e as comparações inevitáveis.
Guilherme – O senhor Wandér continuará no Conselho de Administração da Malwee, sendo ele um exemplo para mim, tanto pelas habilidades empresariais, quanto pela responsabilidade social. Tento me espelhar no seu estilo de administrar e na sua visão todos os dias, para que a Malwee continue trazendo oportunidades para nossa região e para que a empresa mantenha firme, de geração a geração, seus compromissos criados e seguidos há 43 anos em respeito ao meio ambiente, como por exemplo, o Parque Malwee, investimentos em processos produtivos cada vez mais sustentáveis e cuidado com as pessoas.
Patricia - O que muda na empresa com a nova administração?
Guilherme - O futuro é de muitos desafios. A Malwee está acompanhando as mudanças do cenário brasileiro e mundial e isso requer muito trabalho, dedicação e principalmente a união de todos. Para isso os valores da empresa serão mantidos, independente de qualquer mudança ou evolução. Acreditamos que o Brasil é um país cheio de oportunidades, por isso continuaremos investindo forte e incentivando o crescimento de nossa região, visto que mais de 60% de nossos funcionários estão em Jaraguá do Sul.
Patricia - A Malwee abriu neste mês as primeiras lojas próprias, há planos de expansão nesse segmento?
Guilherme – Na verdade foram inauguradas seis lojas em uma semana, sendo três lojas adulto (Malwee um Abraço Brasileiro) e três infantis (Malwee para Brasileirinhos). Quatro lojas estão em São Paulo e duas em Belo Horizonte, todas em shoppings. Acreditamos que seja uma constante, pois todo este investimento está reforçando nossa longa parceria com o canal multimarca abrindo um espaço para que os clientes multimarcas se espelhem e usem desta como uma vitrina para suas lojas, possibilitando ao consumidor final ter acesso a um maior mix de produtos no mesmo ponto de venda. Com esta estratégia, a Malwee alia suas novas lojas monomarcas aos mais de 25 mil pontos de venda multimarcas pelo Brasil, e se adéqua de uma forma sólida a um mercado cada vez mais exigente e competitivo.
Patricia - Hoje a empresa tem sedes em Santa Catarina e no Nordeste. Ao todo, são quantas fábricas e quantos funcionários?
Guilherme - A Malwee opera hoje sete diferentes plantas industriais em uma cadeia bastante verticalizada, cinco destas plantas estão em Santa Catarina, (Jaraguá do Sul, Pomerode e Blumenau) e duas delas no Nordeste (Bahia e Ceará). A planta do Ceará é a mais nova, acabou de completar um ano de operação da primeira etapa. Estamos finalizando as obras de ampliação desta unidade, e ampliando outras unidades também. De toda força de trabalho, apenas 15% hoje estão alocadas no Nordeste, todo o restante em Santa Catarina, principalmente em Jaraguá do Sul, cidade onde a Malwee foi fundada e que representa muito para a história da empresa. Este ano contratamos mil novos funcionários, e temos previsão de contratar outros 1.500 em 2012, sendo que ao total o grupo conta com aproximadamente 9,5 mil funcionários.
Patricia - Como as importações da China influenciam a competitividade do setor têxtil brasileiro?
Guilherme – O Brasil é um país cheio de oportunidades, porém alguns entraves políticos e fiscais fazem com que não consigamos explorar e aproveitar tudo que poderia estar ao alcance das empresas. O mercado nacional tem alto índice de informalidade entre os pequenos produtores de vestuário, fator que dificulta a competição em nível regional de uma empresa nacional. A carga tributária também é outro fator preocupante, com isto o Brasil importa cada vez mais, inclusive e expressivamente da China, fragilizando a geração de empregos e fomentando a temida desindustrialização.
Por outro lado, o crescimento do poder de consumo da nova Classe “C” (reflexo do baixo nível de desemprego, ganhos reais de renda e acesso a crédito), faz com que tenhamos um grande campo para explorar, com a inclusão de milhões de brasileiros no grupo de consumidores recorrentes de produtos de moda. Não é de hoje que a Malwee foca também esta classe e sempre tivemos orgulho de poder dizer que trabalhávamos para atendê-la. Mas não é só nesta classe que as oportunidades se encontram, temos que estar atentos de uma forma transversal em todas as classes sociais, pois muito mais do que classe social, podemos dizer que hoje precisamos estar atentos e buscar atender os diferentes modelos de comportamento dos brasileiros.
Fonte:|http://www.ocorreiodopovo.com.br/geral/entrevista-guilherme-weege-a...