House of Dreams: a solução da Kering para reduzir a sua dependência da Gucci?

Luca de Meo, o novo presidente-executivo (CEO) da Kering, planeia criar uma unidade dedicada a identificar marcas emergentes nas quais pretende investir, segundo documentos consultados pela Reuters, numa altura em que procura abrir novos vetores de crescimento e reduzir a dependência do grupo da Gucci, atualmente em dificuldades.


A Kering explora novos horizontes de investimento
A Kering explora novos horizontes de investimento - Reuters


Esta entidade, batizada ‘House of Dreams’, disporia de capital de longo prazo para adquirir participações ou estabelecer parcerias com empresas emergentes, numa fase em que os clientes abastados se têm vindo a afastar das grandes casas de luxo tradicionais.

O plano, partilhado em outubro num memorando até agora inédito dirigido à gestão de topo, esclarece a estratégia mais ampla de Luca de Meo para relançar o conglomerado de luxo de 20 mil milhões de dólares (mais de 17 mil milhões de euros), na iminência de uma apresentação muito aguardada aos investidores na próxima primavera. O grupo francês, controlado pelos Pinault, família multimilionária francesa, registou em outubro a marca ‘House of Dreams’ em França, como consta no site do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) francês.

No memorando, Luca de Meo aponta áreas como tecnologias experienciais, o artesanato indiano e um luxo chinês "centrado na cultura" como campos de atuação da nova entidade. Não especificou os montantes potenciais a investir.

A Kering afirmou, em comunicado, que a sua "prioridade número um" era impulsionar o crescimento reforçando as marcas existentes, mais acrescentando: "Em paralelo, a Kering está a preparar-se para todos os futuros possíveis do setor do luxo, sejam novos modelos de negócio, novos serviços ou novas geografias." O grupo precisou que os elementos comunicados às equipas não passam de "hipóteses de trabalho preliminares", ainda em evolução, antes da apresentação estratégica prevista para o próximo ano.

As ações da Kering caíram 3,5% na quarta-feira, depois de a Reuters ter avançado que Luca de Meo, que assumiu funções em setembro, estabeleceu um horizonte de três anos para retomar um "desempenho financeiro de primeiro plano". Numa versão abreviada de um memorando estratégico, apresentou planos para reduzir o que qualificou como "dependência excessiva" da Gucci.


Luca de Meo
Luca de Meo - DR


Numa versão mais detalhada do memorando, consultada pela Reuters, Luca de Meo descreveu a House of Dreams como a "proposta central" da sua reflexão. Afirmou igualmente pretender "reduzir a dependência" da Gucci e "reequilibrar", de forma duradoura, o peso da moda nos resultados do grupo. O memorando aponta como prioridade revitalizar a Gucci, que atualmente representa cerca de metade do lucro operacional da Kering, face a dois terços em 2022.

No memorando, Luca de Meo precisou que esta nova estrutura de investimento, à semelhança do que fazem a LVMH e a L'Oréal, poderá assumir participações minoritárias ou maioritárias ao longo do tempo, tirando partido da ligação direta do grupo aos clientes de gama muito alta.

A iniciativa remete também para a reestruturação da Renault conduzida por Luca de Meo e anunciada em 2021, quando o italiano, então diretor-geral do construtor automóvel francês, criou a ‘Mobilize’, uma nova divisão dedicada à inovação tecnológica e a soluções de mobilidade alternativas.

A intenção de desenvolver internamente marcas promissoras reflete igualmente a margem de manobra limitada para aquisições, devido ao elevado endividamento da Kering. No memorando, Luca de Meo indicou que a nova entidade deverá concentrar-se em tecnologias experienciais e modelos de luxo regionais durante uma fase-piloto inicial de 90 dias, com um fundo de arranque e uma equipa dedicada. O calendário de arranque operacional desta divisão não foi especificado.


As marcas de luxo europeias viram a sua base de clientes encolher após anos de aumentos agressivos de preços, embora se espere que o mercado global, superior a 400 mil milhões de dólares (cerca de 347 mil milhões de euros), recupere no próximo ano após um exercício de 2025 em estagnação, segundo um estudo da Bain & Company publicado esta semana.

Paralelamente, empresas de nicho emergentes — desde marcas de beleza sul-coreanas em voga a joalheiros chineses — registaram um crescimento meteórico. Cada vez mais clientes também se voltam para experiências como o bem-estar e a gastronomia, em detrimento de carteiras e vestidos.

As ações da Kering valorizaram mais de 70% desde o anúncio, em junho, da nomeação de Luca de Meo como CEO, atingindo o nível mais elevado desde julho de 2024.

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