Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Numa altura em que as marcas pretendem aprovisionar-se em novos mercados, como consequência da crescente incerteza nas políticas comerciais, a crise migratória e a cibersegurança são os principais riscos que a cadeia de aprovisionamento mundial irá enfrentar ao longo de 2019.

Segundo o relatório do BSI (British Standards Institution), analisado pelo just-style.com, cinco dos maiores riscos para a cadeia de aprovisionamento mundial, para o corrente ano, prendem-se com fatores como a exposição a diversas ameaças em África, alterações políticas profundas, crise migratória em crescendo, cibersegurança e mudanças na Parceria Comercial Contra o Terrorismo (na sigla inglesa, o CPTAT), do serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP, na sigla inglesa).

«Este ano, estamos a verificar grandes mudanças na cadeia de aprovisionamento mundial, motivadas por alterações profundas no mapa geopolítico», afirma Jim Yarbrough, gestor do programa de inteligência mundial da BSI. «Estamos preocupados com as modificações nas cadeias de aprovisionamento, numa altura em que as empresas chinesas estão a transferir as suas operações para África, por exemplo, e os EUA estão a aprovisionar bens de países do Sudeste Asiático», aponta.

De acordo com o relatório “Screen Global Intelligence Report: Top Potential Supply Trends for 2019”, a crescente exposição à exploração de trabalhadores, ao terrorismo, à corrupção e a desastres naturais deve ser considerada pelas empresas que estão a proceder a alterações na sua cadeia de aprovisionamento. Além disso, as empresas devem apostar nas melhores práticas, no sentido de prevenir ameaças à continuidade dos negócios ou à responsabilidade social corporativa, alerta o BSI.

O desafio africano

As empresas com operações na China estão, cada vez mais, a olhar para África como um novo mercado de sourcing, uma consequência da atual guerra comercial entre a China e os EUA. No entanto, o BSI avisa que as empresas devem medir os riscos dessa decisão, tendo em conta fatores como o terrorismo em países africanos, onde ocorrem 23% dos incidentes na cadeia de aprovisionamento, além da corrupção, que abrange trabalhadores da área de segurança e das alfândegas.

Um país que tem vindo a ser escolhido por várias empresas é o Egito, com as empresas de vestuário chinesas a, alegadamente, instalarem-se no país africano, de modo a evitar taxas dos EUA, explorando também os benefícios comerciais das Zonas Industriais de Qualificação (QIZ, na sigla inglesa).

O Egito atrai as empresas chinesas pelos seus tempos mais reduzidos no envio de mercadorias, tanto para os EUA como para a Europa, pelos salários bastante mais baixos e também pelo programa QIZ. No âmbito deste programa, estabelecido pelos EUA em 1996, as empresas que aprovisionam pelo menos 10,5% de um produto de Israel podem finalizar a produção no Egito e beneficiar de isenções fiscais dos EUA, que oscilam entre os 5% e os 40%. O Egito já estabeleceu, desde então, outros acordos de livre comércio, que acabaram por fortalecer a atratividade do país.

Não obstante, segundo o BSI, as empresas que estão a mudar a sua localização também ficam expostas a diferentes desafios, com riscos significativos e frequentemente ligados à segurança, à continuidade dos negócios e à responsabilidade social corporativa.

Enquanto o trabalho infantil, o trabalho forçado, a discriminação e as más condições laborais são riscos para as cadeias de aprovisionamento tanto em África como na Ásia, as frequentes alterações nos regimes políticos em muitos países africanos podem dificultar a garantia de condições laborais dignas e de proteção dos trabalhadores. A corrupção, altamente difundida, é, igualmente, outro fator que pode abrandar a aplicação da proteção dos direitos humanos em África.

Em termos de continuidade dos negócios, deficiências nas infraestruturas, como em estradas ou portos marítimos, geram atrasos significativos no envio de encomendas, enquanto outros fatores externos, incluindo conflitos, práticas e tecnologias ineficientes, subornos e corrupção, contribuem ainda mais para perturbações em África.

As mudanças no CPTAT

Entre outros riscos para a cadeia de aprovisionamento, que foram identificados no relatório, surge a exigência de as empresas que estão certificadas ao abrigo do CPTAT cumprirem com novos critérios.

Os membros do CPTAT têm vindo a usufruir de vários benefícios fiscais, ao irem de encontro a vários critérios de segurança que não eram alterados há cerca de 20 anos. Contudo, ao observar as mudanças nas ameaças à cadeia de aprovisionamento mundial, o CBP deu início a uma revisão dos Critérios Mínimos de Segurança necessários para obter a certificado sob o programa CPTAT. Atualmente, depois da revisão dos critérios, em parceria com líderes industriais, a CBP espera estar perto de implementar uma nova versão dos mesmos, o que representa para as empresas (que já têm a certificação ou pretendem obter) novos desafios. Com os critérios revistos, as empresas serão obrigadas a levar a cabo novos esforços para manter a cadeia de aprovisionamento segura.

Migração em massa ainda é um problema

A crise migratória continua a representar riscos de segurança e de responsabilidade social corporativa. O relatório deste ano regista um aumento nos riscos de trabalho clandestino e nos abusos laborais, tendo em conta o número crescente de migrantes nas três principais rotas: da América Central para a América do Norte, entre o Sudeste Asiático e partindo da África e do Médio Oriente para a Europa. O BSI também assegura que houve algum retrocesso em países como Brasil – onde os cortes orçamentais estão a reduzir os recursos disponíveis para levar a cabo inspeções –, o que pode aumentar o risco de exploração laboral dos migrantes.

Aproximadamente metade (48%) de todos os incidentes de responsabilidade social corporativa registados pelo BSI, no ano passado, envolveu imigrantes. O relatório refere que «a necessidade e o desespero» por rendimentos leva a que muitos indivíduos estejam vulneráveis à exploração laboral. O BSI alerta que o problema irá persistir ao longo de 2019 e que as empresas devem investir num entendimento mais completo da sua cadeia de aprovisionamento para realmente compreenderem o risco de exploração dos trabalhadores migrantes.

As profundas alterações políticas

As recentes mudanças nas ideologias políticas em países como o Brasil, México, Reino Unido, Índia e EUA estão a «preparar o cenário para um 2019 agitado», admite o BSI. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro implementou medidas que podem constituir riscos de responsabilidade social corporativa para algumas indústrias que operam no país, particularmente no que diz respeito aos direitos dos trabalhadores, da comunidade LGBTI e dos territórios indígenas. O BSI recomenda às empresas que sejam mais ativas e executem as diligências necessárias, com os seus parceiros negociais no Brasil, para preencher lacunas deixadas pelo governo brasileiro.

O presidente do México, Andrés López Obrador, tem implementado medidas para reduzir a corrupção no país, historicamente ligada ao crime organizado e ao roubo de cargas. Ainda que as medidas estejam a diminuir as consequências para a continuidade dos negócios e a segurança das mercadorias, apesar das ações do presidente mexicano, o BSI estima que desafios relacionados com segurança irão continuar a afetar a continuidade dos negócios no próximo ano, em particular, no que toca aos roubos de cargas.

A guerra comercial entre os EUA e a China levantou novas preocupações relacionadas com a proteção da propriedade intelectual e a relocalização de importantes empresas. Contudo, as empresas que procuram novos mercados de sourcing no Sudeste Asiático devem ter em conta o custo do aumento de riscos nas suas cadeias de aprovisionamento. A exposição ao trabalho infantil, trabalho forçado e desastres naturais prevalece em países do Sudeste Asiático.

O resultado das negociações do Brexit é pouco claro, criando incerteza nas cadeias de aprovisionamento que operam dentro e através do Reino Unido e da União Europeia. As eleições da Índia podem conduzir a alterações na política do país, com efeitos na cadeia de aprovisionamento mundial. O descontentamento dos trabalhadores em relação a políticas recentes – com protestos relativos a salários reduzidos e aos preços dos combustíveis – pode causar uma disrupção imediata e mudanças a longo prazo.

A cibersegurança

Com o novo panorama mundial, a cibersegurança surge como uma luta abrangente e multifacetada para todos os envolvidos na cadeia de aprovisionamento. Para o BSI, garantir a segurança dos dados e das próprias empresas num mundo que evolui a um ritmo muito rápido, conectado pela Internet das Coisas, é um desafio emergente com o qual as empresas já lidaram em 2018 e que terão de continuar a enfrentar dura te o corrente ano.

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  A guerra comercial entre os EUA e a China levantou novas preocupações relacionadas com a proteção da propriedade intelectual e a relocalização de importantes empresas. 

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