Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Indústria têxtil chinesa procura o equilíbrio após a crise

Juntamente com os artigos de luxo, a produção chinesa de sportswear  poderá ser o último setor a escapar ao abrandamento do têxtil e vestuário. Mas, numa altura em que tanto as exportações como o consumo interno estão em queda, os fabricantes chineses enfrentam um aumento da concorrência interna, enquanto a ascensão da Shein e as polémicas relacionadas com Xinjiang interferem na imagem que o setor gostaria de ter.

Intertextile - M.Guinebault/FNW


A feira de materiais Intertextile e o evento de fios e fibras Yarn Expo realizaram-se de 6 a 8 de março em Xangai, em simultâneo com a feira de vestuário Chic e o evento de malhas PH Value. Eventos realizados pouco mais de um ano após a reabertura das fronteiras e num clima de “otimismo cauteloso”.
 
No ano passado, a China exportou 269,4 mil milhões de euros em têxteis e vestuário. Ou seja, uma queda de 8,1% no domínio têxtil e de 2,9% no domínio do vestuário, depois de um ano de forte crescimento em 2022. No lado doméstico, o exercício de 2023 não foi mais promissor, com a moda a não escapar ao baixo consumo. Fraqueza que esteve, portanto, sem surpresa, no centro da reunião anual do Parlamento Chinês em Pequim, no dia 6 de março, enquanto os primeiros visitantes se aventuravam nas feiras comerciais de Xangai.

Existe um duplo perigo para uma “fábrica do mundo” que desde o início da década de 2010 tem gradualmente orientado a sua indústria têxtil da exportação para o mercado interno. Uma estratégia que se baseou sobretudo num forte crescimento local, levando muitos fabricantes de vestuário a lançarem as suas próprias marcas. Mas, “um coelho esperto tem várias saídas para a sua toca” (ditado chinês sobre ter várias opções alinhadas): numa altura em que a atividade está a abrandar, tanto a nível internacional como a nível interno, a indústria têxtil-vestuário chinesa procura, mais do que nunca, um equilíbrio entre os seus dois mercados de destino, esperando que um deles compense com o tempo as fraquezas do outro.
 

Sportswear, um paraíso para o crescimento



Dois mercados parecem, no entanto, estar a escapar ao abrandamento. O primeiro é, sem surpresa, o luxo, no qual a crise sanitária acabará por ter apenas um ligeiro impacto. O segundo é no domínio das ofertas mais técnicas. Wendy Wen, diretora executiva da Messe Frankfurt Hong Kong, e à frente do salão Intertextile, afirma: “Estamos a assistir a um forte desenvolvimento no mercado do sportswear, que é o outro setor que atualmente funciona bem, com o luxo e a alta gama.” Na feira Intertextile, o espaço de Functional Outdoor & Sportswear Fabric ganhou efetivamente força com quase 200 fabricantes.

Esta tendência para o sportswear é também constatada entre os fabricantes de vestuário. “O vestuário desportivo é definitivamente um tema 'quente' no momento”, confirma Chen Dapeng, dirigente da Associação Nacional da Indústria de Vestuário (CNGA), bem como do salão Chic. Salão no qual, como um sinal claro, a área de  Sports Outdoor equivale agora em superfície à dedicada ao denim.


M.Guinebault/FNW


O representante do setor explica: “As nossas vidas mudaram, usamos menos fatos, vestimo-nos menos formalmente. É uma nova tendência, por isso precisamos de mais empresas nesta área.” E acrescenta: “Obviamente, esperamos um dia ver a Adidas ou a Nike a exporem connosco.”
 

Competição entre cidades


 
A escassez de encomendas, tanto estrangeiras como domésticas, terá, no entanto, tido um efeito esperado: o de aumentar ainda mais a concorrência entre os fabricantes, tanto em termos de materiais como de produtos acabados. “Sempre foi assim”, confidencia um representante de vendas da empresa de malhas Changshu Xinhui. “Mas sentimos, no entanto, que o ambiente já não é o mesmo de antes da Covid.”
 
Uma competição que agora se fará por vezes sentir entre províncias e cidades, com investimentos impulsionados por questões político-económicas locais. Jiangsu, Changzhou, Anhui, Zhejiang, Ouhai… Certas regiões são omnipresentes na lista de expositores da Intertextile e às vezes assumem a forma de enormes pavilhões na Chic. Vários expositores, separados por vários milhares de quilómetros, indicam que partilham a mesma constatação de uma corrida pelo desenvolvimento industrial entre grandes metrópoles.


Chen Dapeng - M.Guinebault/FNW


Uma observação que, para Chen Dapeng, deve ser relativizada. “Temos certamente muitos clusters industriais”, indica o dirigente do setor. “Mas, devemos ter em mente que muitos se especializaram em determinados produtos.” Entre os compradores, Zheijiang é, de fato, amplamente associado à seda, e Jiangsu aos têxteis técnicos. Ou, entre outros exemplos, algodão e lã para Shangdong e calçado de desporto para Fujian. “Há, portanto, concorrência, mas também uma operação coordenada em toda a nossa indústria.”
 

Shein, o embaixador inesperado


 
Esta edição das principais feiras comerciais chinesas é a primeira sessão da primavera a assinalar um regresso esperado dos visitantes ocidentais, após quatro anos de encerramento das fronteiras. Clientes europeus e americanos cujos mercados estão preocupados com a crescente quota de mercado conquistada pela moda de baixo custo da Shein. Uma preocupação que não passou despercebida aos expositores da Intertextile e da Chic, nenhum dos quais nos pôde confirmar que trabalha para a marca, que desde então se tornou um marketplace.

“Fomos abordados, mas o seu funcionamento muito particular em pequenas e médias séries é muito diferente do funcionamento clássico de um fabricante. É por isso que originalmente dependiam de unidades pequenas”, conta-nos um expositor de Guangdong que não esconde alguma preocupação. “Aqueles de quem a Shein está a conquistar quota de mercado no Ocidente são potencialmente nossos clientes. Portanto, não devemos permitir que esmague o mercado.”

Em 2019, o CCPIT-tex (Sub-Conselho Têxtil Chinês, co-organizador da Intertextile) e o CNGMA discutiram a sua intenção de tornar o “Made in China” um selo de qualidade. Coloca-se, portanto, a questão da perceção que têm deste jovem embaixador chinês, associado no Ocidente a preços baixos e a baixa qualidade. “Na verdade, em termos de melhorar a nossa imagem, a Shein é mestre, porque a qualidade e os designs melhoram muito com o tempo”, diz Chen Dapeng. “Mas, continua a ser uma empresa e não pode e não deve representar a China ou a sua indústria.”
 

O algodão de Xinjiang



Uma indústria que passou pela sua pior controvérsia internacional desde o início da década, desde a do trabalho infantil entre os fornecedores da Nike em 1997. O que é referido como integração laboral da minoria uigure em Xinjiang foi descrito como trabalho forçado e possíveis crimes contra a humanidade pelas Nações Unidas. Por trás das questões humanas e de imagem, a polémica levanta questões de aprovisionamento.


Intertextile - M.Guinebault/FNW


“Quase todo o algodão chinês vem de Xinjiang [NR: que gera 20% do algodão mundial, incluindo as melhores sementes], e já não temos o direito de o exportar para os Estados Unidos. O que aconteceu é que esse algodão foi redirecionado para o mercado interno”, sussurra um especialista em tecidos, lembrando que a China é também o maior importador mundial de algodão.

“Neste momento, estamos a ver o que a Europa vai fazer sobre o assunto”, confidencia um expositor da feira Yarn Expo, que observa que caberia à UE provar que um produto está comprometido. “Se o ónus da prova se voltasse contra nós, exportadores chineses, acrescentaria uma enorme quantidade de burocracia a um mercado que já é um pesadelo administrativo.”
 
Os salões em Xangai terminaram na noite de 8 de março e agora regressarão em agosto. A Shanghai Fashion Week arranca a 25 de março. A indústria da moda chinesa, diante dos caprichos do mercado, não se esquece de apostar também na sua criatividade.

TRADUZIDO POR
Estela Ataíde

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