A cidade de Guangzhou na China, sediou no mês de outubro a Canton Fair - China ImportExport Fair - evento especializado em vestuário, produtos de pele, couro e plumagem, peças e acessórios da moda, matéria-prima têxtil, tapeçaria, alimentos, produtos agropecuários, nativos e medicinais. A feira, maior evento comercial do país, acontece duas vezes por ano (primavera e outono), dura em torno de 30 dias e teve início em 1957. São 15 mil expositores e 32 estandes com visitação de mais de 210 países.
Marco Britto, presidente do grupo GBCanaã e da ANEL (Associação Nacional das Empresas de Lavanderias) foi conferir de perto essas novidades e nos conta o que descobriu por lá, além do mercado jeanswear e de lavanderia do país. Confira!
Guia JeansWear - O que é a Canton Fair?
A Canton Fair é uma feira exclusiva para exportação de tecidos, confecções, entre outros produtos da China. O próprio chinês é proibido de entrar na feira, é destinada somente a estrangeiros. É 15 vezes maior que a BBB e recebe visitantes principalmente da Europa e EUA.
GJ - E os preços dos jeans?
Os jeans tops custam em torno de 14 dólares, já as peças populares de jeans, em média 9 a 10 dólares.... todas com qualidade muito boa em relação a tecido, costura, mas precisam melhorar em questão de lavação e modelagem. Uma calça popular da China chega ao Brasil por 19 dólares devido aos impostos, frete, custos alfandegários, etc...
GJ - Como está o mercado chinês?
Guangzhou tem 10 milhões de habitantes, mais ou menos como São Paulo e é a região da confecção. O mercado chinês está otimista em relação à crise que vem acontecendo na Europa desde 2008, pois exportam muito para o EUA, seu principal mercado. Em segundo lugar vem o próprio consumo interno. A classe média gira em torno de 15 a 25% (são 180 milhões de pessoas) é mais do que a população do Brasil, muita gente consumindo com um salário que subiu 50% nos últimos quatro anos Em algumas cidades já está faltando mão de obra. O PIB deles cresceu em 2011 9,6 %, enquanto a média mundial ficou abaixo de 2%.
GJ - E em relação à industria de jeans? O que você viu de diferente?
O tecido, hoje, é de boa qualidade com preço inferior - 3,50 dolares (11 reais) - mas quando chega ao Brasil custa 13 reais pelos custos de importação e nacionalização - acaba ficando mais caro do que o similar nacional, não compensando importar. Os preços dos produtos estão subindo na China - por exemplo uma calça que é 10 dolares hoje, há dois anos atrás era 6 dólares, isso porque o salário e o tecido subiram. Mas enquanto a taxa de importação no Brasil se manter alta, nosso jeans está bem protegido da concorrência do jeans chinês.
GJ - O que viu de diferente em relação aos maquinários?
Os maquinários são cópias do Japão e Europa. As máquinas chinesas são muito baratas.
GJ - E as lavanderias?
A China é fraca em questão de lavanderia, eles não têm design. Eles não têm esta preocupação, este espírito de design. Eles não possuem água em abundância e os custos de lavações são altos. Um dos motivos de eu ter ido para a China foi analisar o mercado jeanswear de forma geral. Percebi que em termos de lavanderia eles estão no mínimo 20 anos atrasados. Muita gente acredita que uma lavanderia com excelentes máquinas e estrutura física pode desenvolver lavações com qualidade, isso não é verdade. Para se desenvolver bons processos de lavanderia, além de ter boa estrutura física e máquinas, tem que investir muito em pesquisa e em uma boa equipe de designers.
GJ - Nossas lavanderias estão na frente das lavanderias chinesas?
Os maquinários são os mesmos, mas em relação ao desenvolvimento o Brasil está bem na frente, eles só copiam. São cópias bem feitas, o diferencial é que as empresas brasileiras compram peças de marca, copiam, pegam a referência da Diesel, por exemplo, adaptam com o preço que nossos clientes pagam. Este processo de pesquisa européia com a realidade brasileira, eles não conseguem fazer, entender e adaptar ao mercado brasileiro. Esta é uma das razões em que o mercado brasileiro está a frente em lavanderias.
GJ - Há marcas brasileiras na China?
Somente sandálias Havaianas. Vi Guess, Diesel, todos os magazines europeus, com o mesmo preço praticado na Europa.
GJ - Qual a sua visão mercadológica em relação ao futuro do jeanswear na economia da China?
Com um crescimento de 9 a 10% ao ano, o país está ficando rico. O consumo interno está aumentando e o jeans é um desejo mundial. Eles usam muito tecido sintético, mas cada vez mais vão usar o jeans e consumir produtos de boa qualidade. A tendência é melhorar a qualidade e subir o preço. Se alguma marca brasileira com produtos diferenciados femininos quiser se instalar na China, consegue produzir e vender muito bem por lá, como as marcas europeias estão fazendo.
GJ - Como são as empresas na China?
É interessante visitar a China porque a informação que chega para nós é fora da realidade. Eles são competidores fortes e contam com a ajuda do governo. Os pólos industriais são agrupados por segmentos, ou seja, tudo fica próximo: confecção, fábrica de tecidos, de aviamentos, lavanderia.... onde há gás e trem para transportar.
Em minha opinião, o Brasil em vez de ficar falando mal da China sobre o trabalho escravo tinha que aprender com eles, que são muito educados, procuram atender muito bem quem vem de fora. O governo brasileiro deveria desenvolver uma política industrial igual a da China.
Fonte:http://www.guiajeanswear.com.br/entrevistas/42/industria-textil.aspx
VANESSA DE CASTRO
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