Há 11 anos, noticia o portal just-style, um executivo venezuelano terá afirmado que a indústria têxtil e vestuário do país iria desaparecer gradualmente como consequência dos problemas políticos e económicos. As previsões desse executivo estavam certas.
Os produtores e retalhistas enfrentaram uma greve geral de 24 horas na passada quinta-feira, 20 de julho. Já os fornecedores de têxteis e vestuário registaram perdas profundas, depois das manifestações se terem agravado com o anúncio, no início de maio, do arranque do processo de criação de uma Assembleia Constituinte para reformar a Constituição – vista por Nicolás Maduro como a única forma de garantir a paz e pela oposição como um golpe de Estado e uma forma de Maduro conseguir manter-se no poder.
Os mais de 100 dias de confrontos já causaram 96 mortos, 1.500 feridos e 500 detenções.
O senador norte-americano Marco Rubio recorreu à rede social Twitter para ameaçar a Venezuela com a instauração de «sanções severas» por parte dos EUA caso os planos de Nicolás Maduro não sejam cancelados e não se realizam eleições livres
No entanto, face à reprovação internacional, o presidente venezuelano afirmou já que não se deixará intimidar por ameaças de outros países em relação à realização da Assembleia Constituinte.
Ruby Bautista, diretora de marketing da produtora de jeans Jeantex, espera que as vendas no retalho caiam mais de 30% este ano, considerando que os consumidores evitam comprar roupa, preferindo alimentos básicos num clima crítico de escassez. De acordo com pesquisas recentes, 93% dos venezuelanos não conseguem comprar alimentos suficientes e 73% perderam peso no ano passado.
Não obstante, Ruby Bautista reforça que as fábricas do grupo, que também produzem artigos para a unidade de tecidos Telares Maracai, continuam a laborar normalmente.
«Reforçámos a segurança, mas precisamos de cumprir com os nossos compromissos de exportação», numa altura em que as vendas domésticas estremecem.
A diretora de marketing da Jeantex explica ainda que a empresa se reestruturou rapidamente para impulsionar as exportações para mercados como o Peru, a Colômbia e o Brasil.
A desvalorização da moeda, entretanto, estrangulou muitos produtores, que são incapazes de importar matérias-primas, sendo obrigados a declarar falência.
«A indústria continua a desmoronar e este ano só vai piorar», antecipa um consultor, que preferiu manter o anonimato. Serão também cada vez mais os empregos – de uma indústria que garante postos de trabalho a 27.000 pessoas – a desperecer juntamente com as fábricas.
As coisas estão tão más que a Asociacion Textil Venezolana, o principal lobby da indústria, está a desmoronar-se à falta de uma liderança forte, revela o consultor.
Retalhistas em sofrimento
Enquanto isso, os retalhistas de moda também estão a enfrentar a quebra na procura.
«É uma situação muito bizarra e anormal», afirma Yenny Bastida, que tem duas boutiques de moda na capital. «Fechei cerca de 10 dias este ano. Março, abril e maio foram meses muito maus», sublinha.
Yenny Bastida adianta que as vendas caíram 50% desde janeiro e está, por isso, à procura de novos clientes em Miami, Panamá e México para sobreviver.
Entretanto, também as grandes marcas de moda estão de saída do país, como aconteceu recentemente com a Adolfo Dominguez e a Rapsodia.