Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Diversificação do mercado, infraestruturas e mão de obra qualificada figuram entre os principais desafios enfrentados pela indústria de vestuário do Bangladesh, rumo à sua ambiciosa meta de exportação. Porém, no curto prazo, o país deverá dar resposta às questões de segurança, para assegurar a afluência de compradores estrangeiros.

O receio face à segurança de cidadãos estrangeiros no Bangladesh, depois dos recentes assassinatos de dois cidadãos italianos e japoneses, resultou no adiamento de viagens de negócios por parte de alguns compradores internacionais. Os EUA alertaram para uma «contínua ameaça contra os estrangeiros» que viajam para o país, enquanto o Reino Unido, a par das embaixadas australiana, italiana e japonesa, tem emitido alertas semelhantes.

Faruque Hassan, recém-nomeado vice-presidente da Associação de Produtores de Vestuário do Bangladesh (BGMEA, na sigla inglesa), reconhece que isto é uma preocupação, não sendo favorável à imagem do país. «É especialmente vergonhoso quando consideramos a história do Bangladesh», admitiu em entrevista, no decorrer da conferência da Federação Internacional de Vestuário (IAF, na sigla inglesa), que teve lugar este mês, em Istambul. «Isto prejudicou a nossa imagem, mas acredito que os media e alguns governos ocidentais têm exagerado nas suas reações relativamente a este assunto», advogou. No entanto, descarta a hipótese de qualquer impacto de longo-prazo. «Viajo atualmente para Barcelona ou ​​Hamburgo para receber encomendas. Temos procurado reunir-nos nos países dos compradores e, também, através de videoconferência», acrescentou.

A retalhista sueca H&M e o grupo americano Gap Inc. figuram entre as empresas que cancelaram viagens ao Bangladesh, enquanto a BGMEA foi obrigada a anular uma conferência de compradores no início deste mês, depois de diversas empresas convidadas se terem recusado a participar. Embora encarado como um incidente isolado, é certamente indesejável para um país que procura atingir uma meta ambiciosa de exportação.

Daqui a seis anos, o Bangladesh irá comemorar o Jubileu de Ouro da Independência, mas antecipa uma dupla comemoração, caso atinja a meta de 50 mil milhões de dólares de exportações. Alcançar este resultado, no entanto, será um desafio, considera Hassan, dada a faturação de 25,5 mil milhões de dólares registada pelo sector em 2014. Contudo, mostra-se confiante. «Atualmente, o maior desafio é a moeda», apontou Hassan. «As moedas desvalorizaram em todos os países importadores: euro, dólar australiano, dólar canadiano. E as moedas dos nossos concorrentes também desvalorizaram: Paquistão, Sri Lanka, Índia e até China. O Bangladesh é o único país onde a moeda é estável. Mas [o taka] não é uma moeda de exportação convidativa, pelo que representa um grande desafio», revelou.

Escassez de mão-de-obra qualificada

Apesar das questões relativas à segurança e imagem do país na sequência do incêndio Tazreen em 2012 e do desastre de Rana Plaza no ano seguinte, as exportações de vestuário do Bangladesh continuaram a crescer a um ritmo constante.

Em 2013, as exportações de pronto-a-vestir do Bangladesh totalizaram 21,52 mil milhões de dólares, concentrando uma quota de 5,2% do mercado de vestuário global, avaliado em 460 mil milhões de dólares, superando a quota de 2,6% assinalada em 2000. A meta atual passa por alcançar 8% da quota mundial em 2020, no entanto, para a alcançar, o Bangladesh terá de abordar a falta de competências do sector.

Atualmente, o país emprega cerca de 4,4 milhões de trabalhadores na indústria de vestuário, a maior empregadora nacional, na qual cerca de 20 mil dos trabalhadores são estrangeiros. Hassan defendeu que é necessária mão de obra mais qualificada através de uma melhor educação, um desafio ao qual a BGMEA está já a dar resposta, com a associação credenciada Universidade de Moda e Tecnologia do Bangladesh (BUFT, na sigla inglesa).

Localizada em Daca, a universidade foi estabelecida como um instituto em 1999, tendo por objetivo formar recursos humanos tecnicamente competentes para o sector de vestuário do país. Desde então, tem crescido e há três anos atrás foi-lhe concedida permissão para se tornar uma universidade. A instituição é frequentada por mais de 5.000 alunos, um número que deverá aumentar para 14.000, de acordo com as previsões da BGMEA. assim que o novo campus estiver concluído, o que deverá acontecer no próximo ano.

«Teremos um laboratório para tudo, máquinas de fiação, tricotagem, tingimento», indicou Hassan. «Estamos a formar uma nova força de trabalho e temos a vantagem de 70% da população ter uma idade inferior a 40 anos, enquanto as populações da China e da Europa estão a envelhecer. É uma grande área na qual poderemos potenciar capacidades e maximizar resultados. Em última análise, [os licenciados] irão desfrutar de um bom salário e os seus meios de subsistência irão melhorar».

Custo de produção

Se bem sucedida, a universidade poderá ter um impacto considerável no preenchimento da lacuna de competências na indústria, assegurando a posição do país como o segundo maior produtor de vestuário do mundo.

O crescimento do PIB do Bangladesh estabilizou em volta dos 56% nos últimos 20 anos, devido, principalmente, ao sucesso da sua indústria de vestuário. No entanto, um dos aspetos que tornou o Bangladesh tão bem sucedido é algo que, atualmente, se tem revelado um desafio: o custo.

A BGMEA tem procurado dar voz na defesa daquilo que considera serem custos injustos impostos às fábricas na atualização das suas instalações, melhoraria das condições dos trabalhadores e investimento na sustentabilidade, advogando que os compradores devem pagar preços mais elevados pelas peças de vestuário provenientes do Bangladesh. Os trabalhadores da indústria de vestuário do país recebem, atualmente, um salário mínimo de 68 dólares por mês, contrastando com os 128 dólares mensais ganhos pelos trabalhadores do Camboja e o salário de 88,7 dólares a 126 dólares pagos aos trabalhadores da indústria de vestuário no Vietname.

Ocupando, simultaneamente, três cargos como membro do conselho da BUFT, vice-presidente da BGMEA e proprietário do Giant Group, Hassan referiu que se tornou um «grande problema» o facto das marcas pagarem apenas «um preço justo» pelas peças de vestuário. «Pedimos um preço que nos permita dar mais atenção ao meio ambiente, à segurança do trabalhador, à sua subsistência e pagamento de salários dignos. Francamente, os salários que estamos a pagar atualmente não cobrem os custos de vida, e estes estão a aumentar anualmente. Estamos a despender enormes quantias em conformidade e segurança e, no Bangladesh, as taxas de juros bancárias são muito elevadas», explicou.

«Não pode ser apenas justo. É importante que eles paguem mais. Não estamos a pedir uma margem ampla. Existe uma grande diferença entre o nosso preço de venda e preço de venda deles. Pelo que, 15 cêntimos, 20 cêntimos, 50 cêntimos, dependendo da peça, não representa nada para eles», acrescentou.

Diversificação de mercado

Apesar desses desafios, as exportações globais do Bangladesh continuam a crescer. Em 2014, a Europa permaneceu o maior mercado de exportação do país, com 51%, em resultado dos benefícios de isenção tarifária aplicados ao abrigo do programa Everything but Arms (EBA), integrado no acordo GSP, seguido dos EUA com 29% e Canadá com 4,6%.

Hassan disse que, anteriormente, o Bangladesh dependia muito destas três regiões e, embora a Europa permaneça o seu principal mercado, nos últimos anos, o país tem procurado diversificar e concentrar-se em mercados não-tradicionais e menos sazonais, como a América Latina, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e Médio Oriente.

Deste modo, uma das prioridades de um novo roteiro, que a BGMEA está a desenvolver, tendo como objetivo atingir a sua meta de exportação, e que deverá ser concluído no início de dezembro, prende-se com a entrada em novos mercados, a par da criação de uma força de trabalho mais qualificada e da diversificação da gama de produtos.

O Bangladesh exporta atualmente para o Brasil, Chile, México, Colômbia, Austrália e Nova Zelândia. E começou também a exportar para os países vizinhos, como a Índia, China, Coreia do Sul e Malásia.

Assumir as rédeas

No curto prazo, a dúvida paira sobre se o Bangladesh estará preparado para, em 2018, assumir o trabalho realizado pela Aliance e pelo Accord nos últimos dois anos e meio. O embaixador da Alliance, James Moriarty, sugeriu, recentemente, que apesar do efeito positivo destas ações, existe uma preocupação sobre a capacidade do governo de implementar as reformas necessárias. Hassan, no entanto, está «fortemente» confiante de que a indústria será capaz de o fazer e que as fábricas de vestuário do Bangladesh irão tornar-se mais seguras e sustentáveis.

«Existem três áreas que estão a receber toda a nossa atenção: a segurança dos edifícios, segurança elétrica e segurança contra incêndios», explicou. «Todas as grandes marcas têm as suas próprias equipas de auditoria, escritórios e inspetores, e estamos todos a trabalhar em conjunto. O BGMEA tem um departamento de segurança contra incêndios, temos uma equipa de conformidade social e temos uma equipa de segurança de construção estrutural. Simultaneamente, estabelecemos um sector de Negócio de Formação Técnica, que auxilia as fábricas na redução dos problemas ambientais, tais como o consumo de energia.

«Acreditamos que os nossos parceiros de desenvolvimento continuarão a apoiar-nos, sendo, também, uma parte beneficiada. Em última análise, os parceiros europeus e mundiais obtêm peças de vestuário a um preço acessível», concluiu Hassan.

FONTEJUST-STYLE.COM

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Respostas a este tópico

Os trabalhadores da indústria de vestuário do país recebem, atualmente, um salário mínimo de 68 dólares por mês, contrastando com os 128 dólares mensais ganhos pelos trabalhadores do Camboja e o salário de 88,7 dólares

ATÉ O CAMBOJA PAGA UM SALARIO MELHOR DO QUE O DE FHC QUE TERMINOU O GOVERNO PAGANDO 74 DOLARES E SUA META DE CAMPANHA ERA CHEGAR A 100 DOLARES.

NAO COMPRO UMA PEÇA FEITA NESTES PAISES POR VALOR NENHUM, QUANDO ENTRO  NUMA LOJA DESTAS SE FOR UMA EMERGENCIA, OLHO LOGO ONDE É FEITO, NESTES PAISE QUE TRABALHAM COM ESCRAVOS (PORQUE TRABALHAR UM MES PARA RECEBER 68 DOLARES É TRABALHO ESCRAVO), EU NAO USO, PORQUE CERTAMENTE ESTAS ROUPAS SUGAM UMA VIDA PARA SABER MELHOR É SOMENTE LER O LIVRO DE JACK LONDON DE VAGOES E VAGABUNDOS, SE VOCE LER ESTE LIVRO VOCE NAO TEM CORAGEM DE VESTIR UMA ROUPA FEITA EM UM PAIS DESTE

Exatamente!!!

Mas o povo não quer nem saber onde e como são feitas, querem apenas pagar barato, independente de trabalho escravo...A indústria textil de uma forma geral é baseado em exploração não só de pessoas, mas também agreção ao meio ambiente, poluindo com tintas e fios artificiais...O detalhe que o ser humano é um ser que de deixa levar pela aparência e status...e outro detalhe é que são respeitados por tal "status"..e todos queremos ser repeitados...não existe consciência...enfim é uma mistura de ego e ignorância...

mas sempre tem aqueles que querem saber que tipo de roupa esta vestindo, infelizmente é uma minoria, mas nada começa sem ter o primeiro, o slow fashion é um movimento em crescimento e o planeta agradece

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