Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Logísticas sociais e sustentáveis inspiradoras para indústria do jeans

O jeans carrega em sua história um pesado fardo: o de utilizar uma matéria prima altamente poluente, valer-se de processos deselegantes para com o meio-ambiente, necessitar de altíssimas quantidades de recursos naturais para girar, e ainda, um passado marcado por práticas de atividades laborais prejudiciais aos trabalhadores. Este, foi um fato que tornou-se evidente em sua linha do tempo, especialmente nos anos 80 com a adesão em massa dos processos de lavagem com pedra e a criação da indústria de lavanderias. Hoje, vivemos em um cenário onde os gostos e preferências do consumidor de moda dependem da aprovação do currículo de um produto, desde a sua origem até o descarte, somado à uma crescente corrente que pensa criatividade em moda não como um detalhe novo na roupa; mas sim como novas maneiras de se produzir, e formas mais conscientes de realizar negócios.

Assim para além do uso do algodão orgânico, e dos beneficiamentos mais sustentáveis, a indústria do vestuário, e em especial as marcas de jeans, vem também inovando em novos aspectos: criando novos desenhos para o ciclo de vida dos produtos, propondo novas formas de realizar negócios de moda, e enobrecendo o processo de fabricação de suas peças, através da inclusão da mão de obra de cunho social.

Em todas essas iniciativas, temos marcas internacionais, como a Mud Jeans, Re/Done e a JC Denim Co. Porém na questão social, felizmente podemos mencionar também admiráveis iniciativas nacionais, explorando o fazer consciente de acordo com nosso próprio contexto, como a Ton Âge e a grife slow fashion Mig Jeans. Na intenção de expandir a criatividade dos leitores e impulsionar o experimentalismo em todos estes tópicos, o Guia JeansWear inicia aqui a primeira de uma séria de matérias, onde aponta algumas iniciativas de valor ético que vem ganhando visibilidade nos temas já mencionados.

REDESENHO DO CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS

Mud Jeans: Na logística desenhada pela companhia, o cliente compra o jeans, porém o algodão é considerado apenas “arrendado” para o cliente. Isso quer dizer que a marca permanece com a responsabilidade pela trajetória da matéria prima até o final. Quando a peça torna-se ociosa no guarda-roupa do consumidor, ela pode e deve ser devolvida para a empresa, para que a própria marca se encarrega de encaminhá-la para o destino da reciclagem, através da fusão do algodão descartado com o algodão virgem, dando origem a um novo tecido.

Re/Done: a Re/Done é uma marca que se apropria dos melhores vintages da Levis, e promove a atualização do fit destas peças, realinhando-as às tendências, e transformando-as em ítens modernos e atuais. Sendo assim é uma grife que não fabrica jeans, apenas reformula ítens de excelente qualidade, ociosos pelo estilo ultrapassado. Assim, evita-se o descarte de tais peças, através de ítens únicos, mantendo o culto às marcas de luxo.

Mig Jeans: marca nacional criada em 2013, pelas amigas Isa Maria Rodrigues, Mayra Sallie e Luana Depp, enquanto faziam o curso técnico de produção de moda. Caracterizada pela prática do upcycling e alinhamento ao slow fashion, a Mig Jeans se apropria de peças em denim descartadas para criar peças exclusivas para o público jovem. Para tanto, aplica customizações, desenvolve tingimentos e promove transformações reaproveitando o jeans e tecidos em geral.

NOVAS PRÁTICAS NOS NEGÓCIOS DE MODA

Fashion Library: na Fashion Library as roupas são locadas, como um livro que se leva para a casa, se lê muitas vezes, e depois se devolve. Se o cliente realmente amar uma peça, ele pode comprar; mas a idéia principal é a de um grande guarda-roupa coletivo, onde as peças são compartilhadas entre associados. Nesta linha de pensamento, a adesão ao sistema de locação de roupas substituiria as compras frequentes por peças novas. Os membros tem acesso à todas as roupas da loja, que tem ambiência de boutique, porém ao invés de pagar com dinheiro, utilizam um cartão de associado. Cada ítem disponível vale um determinado número de pontos, variando de 25 a 100, e dependendo do plano de sociedade adquirida, o cliente pode ter um valor maior ou menor de pontos revertidos em roupas, as quais podem ser levadas para sua casa. A vantagem é que os membros podem estar sempre trocando as peças, respeitados os limites de pontuação definidos, assim como também podem colocar temporariamente a disposição da Fashion Library algum ítem do seu próprio acervo pessoal.

MÃO DE OBRA DE CUNHO SOCIAL

JC Denim Co.: marca recente mas que já possui uma legião de fãs em função da admiração pelo estilo das suas peças. No entanto a companhia também cativa a atenção de qualquer um que se intere de suas práticas produtivas. O jeans da JC, é produzido em parceria com uma organização de combate à escravidão sexual, e é enviado para prover suporte e treinamento às garotas resgatadas de tais condições, sendo que cada jeans é confeccionado manualmente por uma destas vítimas resgatadas. Ou seja, ao vestir um jeans da marca, você está ajudando a salvar e sustentar uma ex-vítima de escravidão sexual. É sem dúvida, uma forma de mudar o valor de um produto de vestuário, a partir do currículo que envolve sua confecção.

Ton Âge: A Ton Âge é uma marca gaúcha que não enfatiza o jeans como produto principal, no entanto reserva sempre um espaço importante para o mix em denim nas suas araras, com peças que chamam atenção pela presença de um minucioso bordado em pedrarias. Este trabalho, que define o estilo das peças da marca, e também dos demais ítens, é feito dentro do presídio feminino, em um projeto que ensina um novo ofício às detentoras, enquanto reduz a pena. Se pensarmos que as confecções nacionais seguidamente declaram encontrar dificuldades para encontrar mão de obra para o desenvolvimento de peças trabalhadas, tal iniciativa nos faz pensar, que novos olhares, para novas soluções, podem revelar que tal realidade efetivamente nem sempre corresponde: basta livrar-se do caminho trivial.

http://www.guiajeanswear.com.br/noticias/5895/moda-etica.aspx

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