O processo BioTint desenvolvido pela Minority Denim permite tingir e estampar numa variedade de cores – do rosa ao verde, passando pelos castanhos e amarelos – usando resíduos da indústria agroalimentar e madeireira como base para os corantes.
Diogo Aguiar
Casca de cebola, sementes de urucum, folha de eucalipto, café, sapelli, faia, nogueira, carvalho e rubia tinctorum constituem, atualmente, as matérias-primas usadas pela Minority Denim para criar uma paleta de cores que vai dos castanhos e beges aos amarelos, verdes e rosa, depois de um processo de investigação que começou em 2017. «Começámos a desenvolver um processo de tingimento natural a pensar também na sustentabilidade. Tentámos vários tipos de tingimento e pesquisámos tingimentos orgânicos e naturais. Ou seja, fomos às técnicas que já existiam de tinturaria tradicional e tentámos passá-las para a tinturaria convencional, que era algo de que já tínhamos algum conhecimento», explica, ao Jornal Têxtil, Diogo Aguiar, fundador da Minority Denim.
Um complemento à vertente sustentável da empresa, que surgiu como um laboratório de desenvolvimento de coleções e amostras, especialmente direcionada para o denim. «Somos vocacionados mais para a parte da sustentabilidade e melhoria de processos, como redução do consumo de água e evitar produtos químicos tóxicos», adianta.
Depois de dois anos de investigação, o BioTint chegou ao mercado em janeiro de 2020. «Estivemos em ensaios, a testar muitas matérias orgânicas, a ver quais funcionavam melhor para criar uma paleta de cores diferentes que fosse atrativa», salienta Diogo Aguiar. Nos primeiros meses do ano passado, a procura «foi mesmo muito forte», tendo sido travada pela pandemia. «Parou tudo completamente. As pessoas não estavam preocupadas em arriscar e fazer alguma coisa muito inovadora, por mais que fosse positivo e interessante», assume o fundador da Minority Denim. «Mas agora já se está a sentir outra vez a voltar esta questão da sustentabilidade, há marcas que estão realmente preocupadas e não querem só a etiqueta a dizer que é sustentável. Os novos designers, pequenas marcas, há uma nova geração que se nota que está preocupada. E quando as pessoas sabem mais sobre o BioTint ficam apaixonadas pelo projeto», assegura.
Atualmente, o BioTint tem já «uma carteira de clientes interessantes» que justifica que a Minority Denim esteja a aumentar a capacidade produtiva. «Criámos uma máquina para poder ter maior capacidade de produção e de reprodutibilidade», revela Diogo Aguiar.
Minority Denim
Paleta em crescimento
O processo é todo realizado dentro de portas, incluindo, muitas vezes, a recolha dos resíduos. «As madeiras vêm de carpintarias da zona de Famalicão [onde a Minority Denim está sediada]. A casca de cebola é comprada também na zona norte e centro de Portugal – trabalhamos com armazenistas e distribuidores que fazem a triagem e a limpeza e vendem-nos a casca de cebola. Vamos ao eucaliptal quando limpam as matas e trazemos as folhas de eucalipto. Com o urucum é um bocadinho diferente, porque temos necessariamente de o importar do Brasil, mas já existia um canal criado para a cosmética francesa e, por isso, aproveitamos esse canal. Tentamos criar valor acrescentado», resume o fundador da Minority Denim.
Tanto as matérias-primas como a paleta deverão, em breve, ser alargadas. «Já temos mais três ou quatro cores em desenvolvimento e não vai acabar aqui. Há mesmo muitas possibilidades», sublinha.
Além de fazer o tingimento, a Minority Denim trabalha igualmente a parte criativa. «Tentamos sempre propor aos clientes aquilo que achamos que pode ser tendência, dar-lhes ideias para eles poderem criar as próprias peças. Usámos, por exemplo, uma combinação de cores para fazer um duplo batik porque achamos que funciona e que pode ser atrativo para uma peça de criança. Mas o cliente pode querer fazer outro tipo de combinação, pode querer o batik de outra forma. As nossas propostas são só para inspirar os designers e as marcas», afirma. E os mesmos corantes naturais servem igualmente para estampar. «Desenvolvemos uma técnica de estamparia – temos peças tingidas com cebola e estampadas com casca de cebola também, para o cliente perceber que pode estampar», acrescenta.
Inicialmente, os clientes da Minority Denim estavam essencialmente nos mercados externos, nomeadamente marcas francesas, alemãs, holandesas e dinamarquesas. «Agora já sentimos que os produtores portugueses começaram a perceber que este tipo de acabamento era requisitado por essas e outras marcas e já nos começam a abordar e acreditam no processo», refere.
Expandir com sustentabilidade
O BioTint, de resto, está certificado pela SGS como sendo um processo de tingimento feito a partir de 100% extratos orgânicos. «Neste momento não temos mais nenhuma certificação porque, quando começámos a tratar deste assunto, a meio de 2020, não havia nada que fosse realmente enquadrado naquilo que estávamos a fazer. Mas agora começámos a perceber que temos que ter mais alguma certificação – estamos a tentar ter o feedback dos clientes para perceber exatamente qual é a certificação que querem. Estamos disponíveis e tranquilos com isso. O processo está feito, a nossa natureza é tentar cumprir com muitas normas, o respeito pelos funcionários, as condições de trabalho, … são tudo coisas que, para nós, são óbvias. Por isso, quando for para avançar, vamos estar preparados», acredita Diogo Aguiar.
Em termos de negócio, a Minority Denim quer igualmente apostar na sustentabilidade para a expansão. «A ideia não é ser gigante neste tipo de processo. Somos uma pequena empresa, sem grande estrutura comercial. Neste momento vamos tentar servir bem os clientes que temos e, depois, ir reagindo à medida que temos feedback, até porque vai depender muito da aceitação do consumidor final, uma vez que há um conjunto de cuidados que são diferentes, como a questão da luz solar na secagem e a forma como se lava a roupa. O mercado não vai mudar todo de um dia para o outro. Convém alguma ponderação e crescer com sustentabilidade. Não faz muito sentido sermos demasiado ambiciosos e tratar menos bem quem já está connosco. A ideia é servir bem», garante o fundador.
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