Coluna Maria Rita - Desejos da temporada - Chanel (Foto: Getty Images)
Você está feliz de moletom? Ou isso abala a sua autoestima? Enquanto aguardamos a vacina para o coronavírus, travamos um embate entre a realidade e os nossos desejos. Foi a partir disso que os estilistas trabalharam suas coleções de Primavera-Verão 2021, apresentadas em Nova York, Londres, Milão e Paris.
MM6 Maison Martin Margiela (Foto: Divulgação)
Chanel (Foto: Getty Images)
Nasce agora uma estética descendente das linhas de roupas esportivas, com tecidos inteligentes que secam em um minuto e não precisam de ferro de passar. Só que a modernidade no momento gira em torno das antigas silhuetas de escritório, desconstruídas, escrachadas e amplificadas. Em termos práticos, trata-se de calças de alfaiataria folgadas ou longas. De moletons e camisetas pop, com explosões de cores e elementos gráficos, bombers confeccionadas com tecidos antivirais e vestidos de tricô. A bermuda ciclista agora vai da academia ao restaurante chique, os óculos escuros ficaram maiores, mascarando mais e mais o rosto.
Stella McCartney fez de seu desfile sem plateia uma espécie de curta-metragem, filmado em um jardim de esculturas contemporâneas na Inglaterra. O styling com chinelões de solado ortopédico e calças folgadas combinadas a blusas justas, tipo segunda pele, complementava a ideia do conforto pós-moderno. A grife de Victoria Beckham também brilhou com vestidos minúsculos de lingerie com renda em tecidos de coleções antigas, reforçando sua pegada sustentável.
Stella McCartney verão 2021 (Foto: Reprodução)
Victoria Beckham verão 2021 (Foto: Reprodução)
Na Louis Vuitton, em Paris, o estilista Nicolas Ghesquière promoveu uma experiência de realidade virtual. Entre o público presente na loja de departamentos La Samaritaine, havia câmeras de 360 graus que permitiam visão panorâmica da passarela e da primeira fila. Por ali, as calças foram projetadas com excesso de tecido e as bermudas, acima dos joelhos e sequinhas. Com elementos do guarda-roupa masculino e feminino, levantou a questão da moda não binária. Destaque para a camiseta com a palavra “vote”, dando conotação política à apresentação.
Nessa temporada, até quem não desfilou, caso do estilista norte-americano Marc Jacobs, deu um jeito de se posicionar. Em um documentário de 24 minutos, lançado em outubro, fez uma crônica pessoal retratando a alegria e a tristeza durante o lockdown em Nova York, no Hotel The Mercer. Ponto alto do curta, seu figurino tem peças femininas, unhas vermelhas, penteado retrô, olhos maquiados e adereços de pérolas.
A moda pós-confinamento se equilibra agora entre a roupa mal-ajambrada e o overdressing. Para isso, remodela a lingerie em várias frentes: nas transparências de Givenchy, no experimentalismo de Margiela, nos vestidos de noite da Chanel. Cetim, tule e babados moldam a moda festa, à espreita de dias mais livres. Enquanto isso, ficam as questões: qual a nossa necessidade de moda hoje? Que roupa queremos usar para levar que vida? Em uma evolução psicanalítica, dizem que o desejo está na fenda entre a necessidade e o amor. Talvez seja um alerta sobre o que achamos que precisamos ter e usar e o que, de fato, amamos vestir.
Maria Rita Alonso (Foto: Divulgação)
Maria Rita Alonso é jornalista e consultora de moda. Para ela, falar de moda é falar de como as pessoas vivem, se posicionam, se reúnem e se expressam (@mariaritaalonso).
https://revistamarieclaire.globo.com/Moda/noticia/2020/11/necessida...
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A moda pós-confinamento se equilibra agora entre a roupa mal-ajambrada e o overdressing. Para isso, remodela a lingerie em várias frentes: nas transparências de Givenchy, no experimentalismo de Margiela, nos vestidos de noite da Chanel.
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