O estilista Renan Serrano criou o Biosoftness inicialmente para aumentar o tempo de vida das roupas de sua marca, a Trendt (foto: Thays Bittar).
Revolucionar completamente nossa relação com a limpeza das roupas que vestimos todos os dias. Esse é o propósito do Biosoftness, produto criado por uma empresa paulista que une tecnologia e sustentabilidade para diminuir drasticamente o impacto ambiental da prática cotidiana de lavar roupas. Mas como funciona isso? O spray Biosoftness possui nanopartículas biodegradáveis que são ativadas pelas enzimas do corpo presentes no suor ou através de fricção. Ele previne a proliferação de bactérias e fungos nos tecidos, eliminando odores indesejáveis.
Você pode dizer adeus ao desodorante, mesmo usando a mesma peça a semana toda. Pode também usar suas peças preferidas com mais frequência, sem receio do desgaste da lavagem. O Biosoftness pode ser aplicado em roupas, calçados e até mesmo estofados. Em pesquisas desde 2015, o produto foi apresentado pela primeira vez em 2016 no festival de inovação SXSW (South by Southwest), que acontece todos os anos em Austin, nos Estados Unidos, onde garantiu um Grant, uma espécie de emblema, que viabilizou sua participação na edição de 2017.
A versão spray com 45 mL é vendida por 65 reais no site da empresa.
Tudo começou com um desejo do estilista Renan Serrano, 29, que tomou forma junto com mais dois amigos: o estudante de Business na Minerva Schools João Jönk, 21, e o designer e estrategista Jackson Peixer, 33. Formado em Moda pela Santa Marcelina, logo que saiu da faculdade, em 2010, Renan criou a sua marca, a Trendet, dentro da empresa de estamparia dos pais.
Escalar a Trendt não estava em seus planos, já que sua opção de negócio vai na contramão do mercado tradicional e aposta em um design atemporal e na criação de poucas peças. É aí que entra o Biosoftness, que inicialmente foi elaborado para garantir maior durabilidade e conforto aos clientes de sua marca. Logo, ele percebeu que era uma ideia boa demais para ser mantida como algo exclusivo. “O ato do lavar é o mesmo há séculos. Temos novas máquinas e novos produtos, mas tudo ainda se resume à água e sabão”, diz Renan.
A empreitada traz no seu DNA a preocupação com a questão ambiental, principalmente com a economia de água. Desde a extração da fibra, a manutenção das nossas peças de roupas, ou seja, lavagem, secagem e passadoria, representa metade do impacto ambiental do ciclo de vida de uma peça. Luz, água, energia e produtos de limpeza industrializados, como sabão em pó e amaciante, aumentam nossa pegada ambiental drasticamente. É um ciclo sem fim de produção, manutenção e descarte contínuos que Renan se propôs a quebrar.
“Cada frasco de Biosoftness pode preservar mais de 200 litros de água, presumindo que a lavagem de roupas caia pela metade”
A Biosoftness já atraiu olhares não só de potenciais investidores, como a multinacional Procter & Gamble, mas também de millenials em busca de ressignificar sua relação com o planeta. E eles são muitos – de acordo com estudo feito pela empresa, a estimativa de faturamento para 2018 é de mais de 2 milhões de reais. Mas Renan diz que, apesar da paquera com empresas de venture capital e do potencial da empreitada, eles estão lidando com muita cautela com as propostas de investimento. “O produto tem muito propósito e um investimento pode mudar o rumo do projeto. Queremos que o Biosoftness esteja afinado com a transformação do mundo que a gente quer”, conta.
Até agora, todo o investimento saiu do bolso de Renan, enquanto seus sócios João e Jackson entraram com habilidades e contatos que agregam ao negócio. É por isso também que a empresa está crescendo no boca a boca, sem muito marketing. O objetivo é escalonar organicamente. Marcas e empresas também estão de olho no produto. As peças da brasileira Helen Rödel já saem da loja com o Biosoftness, mas o atacado ainda é um passo que Renan e os parceiros estão analisando com cuidado.
TESTANDO O MERCADO E REMODELANDO O PRODUTO
Ser pioneiro e inovador tem suas desvantagens. A primeira delas é a falta de referências de mercado. As opções mais comuns no mercado são os fungicidas e bactericidas, spray desodorizante e amaciante com cápsulas de cheiro para disfarçar o mau odor. Como o público iria entender o Biosoftness era uma incerteza. Além do mais, lançar um novo produto neste mercado não era tarefa fácil.
A versão amaciante não convenceu de imediato, mas o produto está passando por melhorias.
Os primeiros testes de aceitação de público começaram com os próprios clientes da Trendt. Cada consumidor recebeu um sachê para máquina de lavar na aquisição de uma peça da coleção. O formato não vingou. “Eles não queriam adicionar mais um produto na lavagem então começamos a pensar em novas possibilidades”, diz Renan.
Depois de mais alguns meses de pesquisa, a versão amaciante foi levada ao festival SXSW no início de 2016. O formato também deixou brechas. Alguns clientes não se convenceram que um amaciante de 50 reais poderia representar uma economia posterior nos gastos com lavanderia. Outros, ao colocar as roupas no armário, não conseguiam saber quais peças tinham o Biosoftness e quais não. “Lá fomos nós de novo, para mais seis meses de trabalho com o objetivo de chegar numa versão spray, lançada no começo deste ano”, diz ele.
Hoje, o produto é embalado em frascos de 45 mL com conteúdo que pode ser borrifado no avesso das roupas, especialmente em áreas como as axilas. É possível usar a roupa por no mínimo dois dias seguidos sem necessidade de reaplicação. Mas Renan diz que o Biosoftness é um produto em constante evolução. O frasco, com embalagem retornável, custa 65 reais e pode ser comprado pelo site, ou então na House of Bubbles , uma lavanderia compartilhada. A versão amaciante não foi completamente descartada e pode ganhar um update se o número de usuários interessados for alto. Já o spray está na versão 1.22 e a cada feedback novo, o produto ganha melhorias. “É como um software, está em constante atualização para seu aprimoramento”, fala.
Para conquistar mais usuários, eles estão investindo em novas maneiras de se comunicar com o público. Foi criado um grupo de WhatsApp, que é usado para tirar dúvidas, reportar problemas e para estimular a conversa entre pessoas que já testaram o produto e aquelas que estão curiosas. Renan também mantém uma comunicação ativa sobre o desenvolvimento do projeto no seu canal do Medium, com o objetivo de construir uma comunidade forte e próxima.
Os esforços de comunicação também estão voltados para acompanhar a transformação do comportamento dos chamados early adopters com relação ao produto e com relação à cultura da lavagem de roupas. “Nós estamos observando de perto os passos do nosso público. Queremos caminhar juntos e estabelecer uma nova relação com as roupas, com as pessoas, com o planeta”, diz Renan.
http://projetodraft.com/o-biosoftness-quer-mudar-o-jeito-que-cuidam...
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