Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Antes da chegada de uma nova linha de jeans Levi’s às prateleiras das lojas, Bart Sights e a sua equipa do Eureka Lab dedicam-se afincadamente à conceção das novas criações que irão inspirar consumidores leais em todo o mundo.

Quem procura o responsável pelo Eureka Innovation Lab da Levi’s, um laboratório de teste de denim, sediado numa antiga fábrica localizada a 10 minutos da sede da empresa, na área de Embarcadero, deve procurar alguém que parece ter unhas azuis.

Bart Sights, de 51 anos, fala com a cadência suave do Kentucky, mas a sua característica mais distintiva é o azul que pinta as suas unhas, uma cor que, dependendo do dia, pode estender-se também às mãos e antebraços. A cor entranha-se nas unhas e «não sai facilmente – não sai, às vezes, durante um mês», afirma Sights.

A substância, índigo fermentado de forma natural, é mantida no laboratório Eureka, onde é aquecida e alimentada com farelo de trigo (índigo morto não tinge). Esta substância, ou parte dela, tem viajado com Sights ao longo de 25 anos por todo o mundo.

O índigo natural é caprichoso e para os jeans que a Levi’s produz em grande escala, a empresa utiliza principalmente a substância sintética, como é norma na indústria. Essas caldeiras de corante, com o seu odor rico, são mantidas principalmente como fonte de inspiração, uma ligação a uma era anterior que, dado o papel da Levi’s nos primórdios dos jeans, são uma referência constante. «É como o nosso sangue», sustenta Sights. «Foi daqui que viemos», acrescenta.

Enquanto marcas de menor dimensão apregoam o recurso à confeção manual e uso de índigo natural, a Levi’s é uma gigante – apesar da ameaça das calças de ioga e chinos – registando um volume de negócios superior a 4 mil milhões de dólares (3,73 mil milhões de euros) no ano fiscal de 2014. Tudo o que faz, tem de ser em grande.

O nome da marca tende a evocar a imagem de um par de jeans icónico, mas a Levi Strauss & Co. (que inclui também a Dockers) produz mais de 100 milhões de peças por ano numa incontável variedade de ​​estilos.

O laboratório Eureka, inaugurado em 2013, é o centro nervoso da inovação da empresa, o espaço no qual são testados novos tratamentos, novos acabamentos e novas ideias.

Algumas, como a recente colaboração com a Mr Porter ou a Unionmade, são concebidas à mão na Eureka e chegam diretamente aos consumidores. Outros estilos são concebidos, inicialmente, em pequena escala na Eureka, com o propósito explícito de produzir, eventualmente, dezenas de milhões de exemplares.

Sights é um especialista em tecido, formado basicamente desde a infância. Em Henderson, estado do Kentucky, o seu avô fundou uma empresa de aluguer de uniformes e lavandaria industrial, que Sights visitava diariamente. Após a conclusão da faculdade, uniu-se ao seu pai na Sights Denim Systems, uma ramificação da empresa que, com o crescimento do mercado de denim de luxo, optou por arrendar instalações nas quais as empresas de jeans podiam efetuar a lavagem prévia por atacado. Eventualmente, desenvolveu-se para se tornar num laboratório semelhante ao Eureka.

Quando a Sights Denim Systems encerrou em 2008, Sights foi para a Índia para produzir tecidos, desembarcando posteriormente na Turquia, onde supervisionou o laboratório da Levi’s em Corlu, o antecessor do Eureka.

Ter as operações de desenvolvimento a 12 horas por via aérea da sede da empresa, na Bay Area, não era a situação ideal. Os membros da equipa de design da Levi’s tinham de viajar para a Turquia, trabalhar muitas horas num curto período de tempo e retornar à base. «Os desafios pré-Eureka eram muito, muito maiores», considera Jonathan Cheung, vice-presidente sénior de design na Levi’s. «Muitos materiais e muito esforço eram desperdiçados», acrescenta Sights.

Atualmente, com o laboratório mais próximo da sede, Jonathan Cheung está todos os dias no Eureka. A cada estação, a equipa de design está no laboratório durante seis semanas para o início da coleção, lado a lado com Sights.

Sob a sua supervisão, uma equipa de 27 especialistas coopera na criação de novos acabamentos, desde a aplicação de lasers a rasgos. As suas proveniências profissionais são diversas: um dos membros  foi anteriormente um chocolateiro numa fábrica de doces, outro, um pintor de móveis.

Em todos os momentos, estão em curso oito a dez projetos de grande escala. Cada par de jeans tem uma “receita” numerada, um guia passo-a-passo dos processos manuais, químicos e mecânicos inerentes à criação do modelo, que devem ser sistematicamente organizados, registados e testados.

Na sala principal do laboratório, os jeans são dispostos em montículos dispersos pelo chão. Esta linha de jeans, num espectro de cores, tons, acabamentos e graus de desgaste variados, comprova as várias opções que o Eureka consegue fazer com recurso a um único tecido.

Cada par de jeans desgastado implica um enorme esforço. Nos primórdios do denim, esse efeito era alcançado através de trabalho árduo, muitas vezes, literalmente. A Levi’s mantém um arquivo que remonta ao século XIX, no qual se inclui um par de jeans encontrado numa mina, com um profundo padrão estriado.

Os utilizadores de denim do século XXI, ao contrário dos seus antecessores, não conseguem alcançar este efeito em resultado do seu trabalho diário. Mas a equipa de Sights consegue criar versões quase idênticas.

Os padrões dos jeans que chegam hoje ao mercado, que apesar de novos são velhos no seu aspeto, podem ter sido criados por um membro da equipa do Eureka, gravados num modelo de amostra com recurso a uma lixa. Câmaras GoPro instaladas em cada estação de trabalho registam o processo e, uma vez concluído, o vídeo é editado sob a forma de um manual de instruções digital, tendo como destino aqueles que executarão o processo em larga escala nas fábricas da Levi’s.

Mas até este processo já sofreu inovações. A tecnologia laser pode gravar padrões de desgaste em jeans, muitos dos quais são criados tendo por base padrões de modelos vintage, melhorando-os simultaneamente, como forma de iludir e melhorar a figura. É um processo que Sights compara ao contorno do rosto com maquilhagem ou bronzeamento com spray, mas numa fração de tempo mais curta.

O laser permite gradações de tons mais variadas do que a lixa, podendo replicar o efeito denim mesmo quando os jeans são produzidos com recurso a outras fibras, uma característica essencial com a inclusão crescente de elastano.

Sights afirma que este é, cada vez mais, o padrão da indústria. Ele próprio confessa que nem sempre consegue distinguir entre os jeans desgastados manualmente e aqueles que recorrem ao laser para o fazer. «Creio que nos apercebemos há alguns anos atrás, quando construímos o Eureka que tínhamos a oportunidade de definir o futuro», conclui.


FONTETHE NEW YORK TIMES


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