Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Numa intervenção durante a 10.ª Convenção Europeia do Têxtil e Vestuário, Pedro Siza Vieira fez uma resenha do passado para perspetivar um futuro que, embora envolto em incerteza, se apoia na reindustrialização da Europa e numa dupla transição, para o digital e a sustentabilidade.

Pedro Siza Vieira

O fim da Guerra Fria e a entrada da China e da Rússia na economia mundial abriram portas à globalização, com o gigante asiático como produtor de bens, a Rússia como fornecedora de energia e a Europa e os EUA como especialistas em design e tecnologia. «O resultado disso foi que, ao deslocar a produção para países com custos mais baixos, baixamos os preços das mercadorias em todo o mundo, baixamos a inflação e as taxas de juro», explicou o ex-Ministro da Economia e da Transição Digital.

Mas a grande moderação, um conceito cunhado por Ben Bernanke, ex-presidente da Reserva Federal dos EUA e Prémio Nobel da Economia em 2022, parece ter chegado ao fim, primeiro com a crise de 2007 e, mais recentemente, com todos os marcos históricos da última década, com Pedro Siza Vieira a destacar a presidência de Donald Trump, que começou a colocar barreiras tarifárias ao comércio, sobretudo com a China, a pandemia, que mostrou a dependência de certos mercados, e, mais recentemente a guerra na Ucrânia, que gerou a crise energética. «A grande moderação foi o produto da globalização, e a globalização exige confiança entre parceiros, porque são todos países soberanos – os EUA são soberanos, a China é soberana, a Rússia é soberana –, mas a confiança está agora abalada. A confiança desapareceu. Por isso, a globalização que suportou esta grande moderação já não existe. Algo novo está a emergir», sublinhou.

O futuro será feito de novas regras e de intervenção por parte dos governos na economia, acredita Pedro Siza Vieira, com maiores investimentos ao nível da defesa no mundo ocidental, nomeadamente na Europa, mas também na dupla transição, para o digital e para a sustentabilidade ambiental.

Três tendências de futuro

Para o ex-ministro, há três tendências que parecem incontornáveis. A primeira é a reindustrialização, sobretudo dos EUA e da Europa. «Estamos agora a ouvir falar de reshoring, nearshoring, friendshoring», enumerou, acrescentando que «a reindustrialização já está a acontecer» e que Portugal está a ser um dos beneficiados, com investimentos estrangeiros de empresas que estão a diversificar a sua cadeia de aprovisionamento.

Uma segunda tendência tem a ver com a transição energética, uma área que vai exigir grandes investimentos. «Esta transição vai acontecer não só por preocupações com o clima, mas porque percebemos que se continuarmos a depender de combustíveis fósseis, estamos a construir uma dependência estratégica de certas regiões do mundo. E para a Europa, acredito que a suficiência energética, a redução da nossa dependência, é a questão mais crítica que enfrentamos», apontou. Uma área onde países como Portugal, com forte exposição solar, podem ter vantagens, até porque a tecnologia para aproveitar a luz do Sol está cada vez mais acessível. «É onde estiver a energia barata que estará a escolha dos grandes investimentos empresariais», garantiu.

A terceira tendência, em estreita ligação com a segunda, é o combate às alterações climáticas, uma área particularmente importante para a União Europeia, até porque, enquanto maior exportadora do mundo, tem necessidade de encontrar alternativas às matérias-primas que não produz. «A União Europeia terá de fazer investimentos não só na transição energética, mas na construção de uma economia circular. Não temos matérias-primas. Devíamos ser menos dependentes de materiais, por isso a reciclagem, encontrar novas matérias-primas, usar tecnologia para desenvolver outros materiais artificiais para fazer produtos» é importante, destacou Pedro Siza Vieira.

Oportunidades para a ITV

As novas políticas que estão a ser implementadas na Europa nesse sentido deverão ainda permitir nivelar o mercado interno, especialmente no que diz respeito à entrada de produtos de países terceiros na UE, que terão de cumprir as mesmas regras ambientais que os produzidos internamente, ao passo que as novas gerações, particularmente a Z, estão mais atentas e mais propensas a consumir artigos mais amigos do ambiente, salientou o ex-ministro. O próprio sistema financeiro está em evolução, com a responsabilidade ambiental, social e corporativa a entrar na equação dos investimentos e empréstimos das empresas, acrescentou.

Tudo isto terá de ser equacionado pela indústria, no geral, e pelas empresas da indústria têxtil e vestuário, em particular, que têm a resiliência às crises passadas como vantagem. «Todos os fabricantes de automóveis na Alemanha ou de químicos na Europa estão a passar pelo mesmo choque [da crise energética] e estão totalmente em pânico, mas vocês já passaram por isso e estão bem preparados para enfrentar a situação», assegurou. Aliás, referiu o key speaker da 10.ª Convenção Europeia do Têxtil e Vestuário, além do têxtil ter sido selecionado como um dos sectores estratégicos na nova política industrial da UE, «os que sobreviveram estão bem à frente em termos de eficiência, da capacidade de acrescentar valor e mesmo na incorporação de conhecimento e tecnologia». Para Pedro Siza Vieira, os empresários desta indústria «terão de navegar por mares muito difíceis nos próximos meses e terão de confiar nos governos e outras entidades para vos ajudar a atravessar esse terreno acidentado, mas, no fim, as tendências serão benéficas».

O têxtil, de resto, é «a indústria mais antiga do mundo, existe desde que o homem começou a usar peles para se cobrir, e vai continuar a existir enquanto formos humanos», concluiu.

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