Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A Coordenadora do curso de Design de Moda da UFC, Cyntia Tavares, analisa a passagem da concepção formativa em moda, do estilismo ao design. O foco sai da figura do criador e mira um profissional conectado com o aspecto da viabilidade produtiva do vestuário

Sempre que se questiona sobre o sentido da moda, alunos, professores e profissionais apresentam dificuldades. Elas ocorrem porque a moda é um significante flutuante, não apenas pela sua universalidade, mas também por ser apropriada por diferentes campos do saber. Laclau (2006) vai defender que na relação entre o particular e o universal, este apresentará relação com um significante vazio ou flutuante, a ser preenchido por significados distintos, que variam de acordo com os discursos em que se insere.

Assim, a moda é fenômeno social, inserido em um contexto histórico, afetado por fatores políticos e econômicos. Relaciona-se também com a esfera de produção intelectual e ideológica, no que diz respeito à produção de significados apreendidos em uma coletividade, como postulam Lipovetsky (1989) e Barthes (2005).

Como linguagem, está associada aos objetos de consumo presentes no nosso cotidiano, mas também aos usos e costumes culturais do corpo e à própria forma de produção e acesso à comunicação. Cidreira (2005) defende que a abordagem da moda pode suscitar indícios muito interessantes para o conhecimento da cultura contemporânea, principalmente os aspectos relacionados ao apego às aparências, em uma espécie de amplificação dos simulacros. Na verdade, há um reiterado jogo de contato com a imagem do outro, como substitutivo do amor. Assim: eu mostro uma imagem de mim inscrita nos códigos visuais do vestir e outros, como forma de me eximir de contactar com o que sou e com o que o outro é - o que reforça a lógica do consumo que se evola, então, para a lógica das relações entre as pessoas.

Quem produz o vestir produz imagens do corpo como produção social de diferenças e simulacros, embora isso não aconteça de modo absoluto. Há resistências, confrontos de lógicas diversas e a lógica do mercado, que vê o corpo como mercadoria, não é algo que se ergue sem conflitos. As visualidades da cidade e dos corpos mostram, muitas vezes, dentro do próprio signo visual, os conflitos entre as formas como tomamos o corpo na contemporaneidade.

Esta produção do vestir, fruto do trabalho daquele que cria o vestuário, recebeu, durante muitos anos, o status de produção artística e, portanto, autoral. Historicamente, podemos explicar esta percepção, ao observarmos o contexto do início da moda, na Idade Média (Lipovetsky, 1989), quando a burguesia alternava a sua indumentária em um duplo movimento de imitação e distinção. Pela primeira vez, surgiu a figura do criador autoral, que cria sua “obra de arte” a partir de uma demanda específica.

Esta visão do autoral na moda foi perpetuada nos modelos curriculares dos primeiros cursos de moda europeus, que serviram de modelo para que fossem construídos os currículos brasileiros. Foi assim em São Paulo, com o surgimento da Santa Marcelina, em 1987, e em Fortaleza, na Universidade Federal do Ceará (UFC), com a criação do curso de Estilismo e Moda, em 1993.

Apesar da influência estrangeira, que favoreceu a dimensão artística na formação, os interesses do mercado local apontavam para a necessidade de estilistas industriais, que pudessem atuar e potencializar a condição do Ceará de 2º Polo Têxtil e de Confecção à época.

Os estudantes, portanto, viviam o paradoxo de uma formação em construção. Ao mesmo tempo em que se envolviam com as demandas industriais, através de experiências de estágio, viam-se seduzidos pela possibilidade de transformar o seu trabalho em obra de arte. Além de o currículo favorecer esta dimensão, a presença forte na cidade, de um dos maiores criadores da moda nacional, o Lino Villaventura, também contribuía para uma aspiração coletiva ao status de criador.

Com o passar dos anos e a incorporação de novos docentes ao curso da UFC, este paradoxo foi desaparecendo e ficou, cada vez mais clara, a necessidade de se vincular a produção do vestuário à sua viabilidade produtiva. Reforçando esta visão, em 2004, o Ministério da Educação aprovou as Diretrizes Curriculares próprias ao Design, com base nos pareceres CNE/CES 67 e 195. Dois anos mais tarde, em 2006, os catálogos dos cursos superiores de tecnologia foram publicados. A partir destas publicações, os bacharelados em Moda, que até então possuíam uma infinidade de nomenclaturas distintas, passaram a pertencer à área do Design, enquanto os tecnológicos utilizaram o termo Design de Moda.

A passagem da concepção formativa em moda, do estilismo ao design, estabelece um ponto final, pelo menos no que diz respeito à formação, nesta questão da produção artística e autoral na moda, eliminando esta possibilidade. O trabalho do designer é interdisciplinar, sua função requer o acesso a uma formação de base que lhe permita adquirir as competências adequadas ao desenvolvimento individual de capacidades de pensar e produzir o vestir, focadas na criatividade, no trabalho em equipe, na visão global das empresas, na dimensão humana, técnica e social.

Neste contexto de formação, outros cursos de moda surgiram na cidade. Contudo, como o primeiro deles datou de 2004, já trouxe consigo esta vinculação ao Design. Assim, em 2013, parece não fazer mais sentido falarmos em moda autoral. Apesar disso, percebe-se que o estudante de design de moda traz consigo, intimamente, o desejo pela autoria do seu trabalho, ou não seria esse o desejo da sociedade contemporânea?

Cyntia Tavares é coordenadora do curso de Design de Moda da Universidade Federal do Ceará.

Fonte:|http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2013/03/16/noticiasjorn...

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Criar enquanto designer na cadeia têxtil da forma autoral,

é quase que impossível. Todavia, a moda como sistema

é  ávida por novidades e estas se colocam quando existe

o conteúdo estilo, identidade, conceitos que se aplicam

a uma marca, uma coleção e experiencia de compra.

O ato de vestir-se, por desejo, necessidade e outros

fatores explícitos, estão sempre embutidos de signos

mesmo quando quem o assume, desconhece conscientemente. 

FIM DA MODA??????

A MODA É E SERÁ ETERNA, SUA MAIOR ANALISE E DESCRIÇÃO, ME FOI DITA A ALGUNS ANOS ATRAZ E QUE GUARDO COMIGO E AGORA COM VOCES.

MODA : É UM SONHO, UMA IMAGINAÇÃO QUE FOI TRANSFORMADA EM ALGO VISIVEL,TANGIVEL E GRATO AOS OLHOS.(Odette Cardoso-1927/2010 - modista)

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