Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br)
Os empresários brasileiros iniciaram nos últimos dias um movimento histórico. Diante da inanição do governo, da corrupção sem fim e da ruína econômica, eles decidiram apresentar à sociedade um manifesto que defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O texto, chancelado por mais de 400 signatários, pode ser entendido como um grito de desespero, mas é muito mais do que isso. Ele surpreende por diversos motivos. Empresários são discretos por natureza e só se envolvem em escaramuças políticas quando a situação chega ao limite. O segundo ponto que chama a atenção diz respeito à abrangência do documento. Estão lá as entidades mais representativas do setor produtivo, como a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica e a Associação Brasileira de Engenharia Industrial, para citar dois exemplos relevantes. O manifesto, portanto, tem lastro para provocar desdobramentos. O terceiro aspecto está ligado ao tom incisivo do material. Ele resume em duas palavras o sentimento geral do empresariado: “Impeachment Já!”
VOZ DAS RUAS
Fachada do prédio da Fiesp com a palavra impeachment: líderes querem mudança já
A revolta do setor produtivo com o governo Dilma não é novidade. Especialmente depois do início do segundo mandato, quando a presidente tomou uma série de decisões econômicas equivocadas, diversos líderes empresariais demonstravam um grau crescente de insatisfação. Faziam isso, porém, sem estardalhaço, reservando as lamúrias para o campo privado. Agora é diferente. Eles não só escancaram suas opiniões como se organizam para acelerar a destituição da presidente. A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) é uma das protagonistas do movimento, encarregando-se de reunir forças de diversos setores. “Precisamos colocar velocidade para sair dessa situação”, diz o presidente da entidade, Paulo Skaf. “Ela está custando caro demais aos brasileiros.”
Os indicadores da economia falam por si só. Até o final de 2016, 8,4 milhões de brasileiros devem engrossar as listas de desemprego. O PIB vai recuar pelo menos 3,6% neste ano, ou despencar ainda mais do que isso. Apenas em São Paulo, a crise provocou o fechamento de 4,4 mil fábricas em um ano, número assombroso especialmente em se tratando do Estado mais rico da nação. Desde que Dilma tomou posse para o segundo mandato, quase 10 mil indústrias paulistas fecharam as portas. Em 2015, a queda da indústria nacional foi de 8,3%, o que representa o pior desempenho da série histórica iniciada em 2003. O País vive um cenário de desânimo generalizado, que ceifa investimentos, sufoca a vida de milhões de brasileiros e compromete o futuro das novas gerações.
Pior: tudo isso em meio à corrupção generalizada, motivo mais do que suficiente para justificar o impeachment. “É preciso estancar o problema”, diz Gustavo Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira. “O governo perdeu a confiança da sociedade. Isso não vai mudar e o Brasil não pode esperar mais 2 anos e 9 meses”. Professor do campus da New York University em Xangai, na China, o economista Rodrigo Zeidan vai na mesma linha. “O Brasil vive uma crise de confiança que se retroalimenta”, afirma. Em sua experiência no exterior, o professor diz que, apesar de a crise econômica afetar principalmente os países em desenvolvimento, “ninguém está em uma situação tão difícil como a brasileira”.
Para uma corrente cada vez maior de especialistas, a questão não é mais discutir se o impeachment virá, mas quando ele será. Segundo o professor de economia e finanças do Ibmec Rio, Ruy Quintans, “o mercado não só prevê a saída da presidente como já a precifica. Inclusive, alguns investidores trabalham com o cenário de Dilma fora em 60 dias”. E como ficaria o País após o impeachment? “A volta dos investimentos seria instantânea”, diz Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, uma das maiores redes varejistas do País. “É o que está acontecendo na Argentina. Não precisou de dez dias para a criação de um círculo virtuoso.” Na visão dele, o tempo urge e não há mais espaço para protelar o problema. Um dos sócios da Natura, Pedro Luiz Passos defende a renúncia no lugar do impeachment, porque ela seria mais rápida. “Qualquer saída que não seja essa só dará sobrevida à situação de inoperância do governo”, afirma Passos.
SEM SAÍDA
Nelson Barbosa, da Fazenda, não consegue emplacar o ajuste fiscal
Até empresários que mantiveram uma relação de proximidade com os governos petistas defendem abertamente a saída da presidente. Josué Gomes da Silva, dono da Coteminas, maior empresa do setor têxtil do Brasil, é taxativo. “Dilma perdeu as condições de governar o Brasil”, afirma. Filho de José Alencar, vice-presidente nos dois mandatos de Lula, Josué foi convidado no final do ano passado para assumir o ministério da Fazenda no lugar de Joaquim Levy, mas não aceitou. Agora, é um severo crítico da política econômica de Dilma. Um caso ainda mais emblemático é o de Lawrence Pih, fundador do grupo Moinho Pacífico e um dos primeiros empresários a se aproximar de Lula, muito antes dele se tornar presidente. Pih está indignado com a inoperância do governo. “O PT não fará as mudanças necessárias, porque elas não fazem parte do projeto ideológico do partido”, diz. “Seu projeto é de socialismo e não de uma social democracia. Eu mesmo levei tempo para notar isso.”
Sob Dilma, o Brasil recuou no tempo. A última vez que o PIB nacional sofreu um baque em torno de 4% foi em 1990. Do ponto de vista econômico, portanto, significa que o País retrocedeu 25 anos. O coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, traduz o que dizem as estatísticas. “Com a crise e a alta do desemprego, muitas pessoas entram para o mercado de trabalho antes do desejado”, afirma. “Filhos que estão na faculdade ou no Ensino Médio se vêem na necessidade de ajudar os pais. Também é possível observar um aumento no número de empregadas domésticas, inclusive com salários mais baixos. É um passo atrás que estamos dando.”
Não são apenas os grandes empresários que gritam pela saída da presidente. Os microempreendedores também fazem coro pela destituição de Dilma. “É estarrecedor o número de pequenos negócios fechando as portas”, afirma Ronaldo Dias, vice-presidente da Associação Brasileira de Micro e Pequenas Empresas. “Eram justamente eles que, nas crises anteriores, seguravam o emprego.” O cidadão comum também não suporta mais enfrentar um cenário tão asfixiante. “Desde o ano passado, observamos um aumento brutal da inadimplência” diz Marcela Kawauti, economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). “O Brasil tem 58 milhões de pessoas negativadas, o equivalente a quase 40% da população adulta”. É consenso no mercado que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, não terá força para emplacar os ajustes necessários para fazer a economia respirar. Os empresários têm a solução, que é a saída imediata da presidente Dilma.
Fotos: CACALOS GARRASTAZU/VALOR/Agência O Globo; Claudio Belli/Valor/Folhapress
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Muitos dos empresários que hoje criticam estavam desfilando com Dilma em carro aberto ou apoiando-a na ultima eleição.
Josué Gomes da Silva, dono da Coteminas, maior empresa do setor têxtil do Brasil, é taxativo. “Dilma perdeu as condições de governar o Brasil”, afirma.
Os microempreendedores também fazem coro pela destituição de Dilma. “É estarrecedor o número de pequenos negócios fechando as portas”.
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