Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Dados do Ranking Cielo – SBVC 2024 revelam a força e resiliência das grandes empresas do varejo brasileiro.

Economia e varejo – o ano de 2023 foi desafiador para o varejo, mas teve melhoras graduais ao longo do ano. A inflação carregada de 2022 e que levou à subida nos juros manteve trajetória de queda; entretanto, a taxa Selic só começou a ser reduzida no 2o semestre, o que manteve juros reais muito elevados, contração e alto custo de crédito e afetou a liquidez e a demanda para o varejo.

De outro lado, o mercado de trabalho mostrou evolução positiva, com geração de quase 1,5 milhões de empregos formais, queda na taxa de desemprego ao menor patamar desde 2015, aumento de renda e massa salarial, que chegaram a níveis superiores aos do período pré-pandemia.

O varejo teve mais um ano de baixo crescimento, com aumento real das vendas de 1,6%. Isso marca um longo ciclo de nove anos difíceis para o setor, que viveu o pior biênio da história recente em 2015-2016, com quedas reais de 4,3% e 6,2%, respectivamente; a partir de 2017 houve crescimento moderado em todos os anos, oscilando entre 1% e 2,3%. Em 2023, o destaque ficou com os segmentos ligados a bens de alto giro, ou seja supermercados e farmácias. O segmento de eletroeletrônicos e móveis teve o primeiro crescimento após dois anos de forte queda e o segmento de materiais de construção teve mais um ano negativo.

Desempenho de vendas – desde a primeira edição do Ranking da SBVC, publicada em 2015, os dados revelam que as maiores empresas do varejo brasileiro crescem acima da média do setor. Em 2023,  dados comparávei de 216 empresas do Ranking Cielo – SBVC mostram aumento nominal de vendas de 11,4% contra 4,1% do crescimento nominal do varejo pelos dados do IBGE.  Em todos os segmentos o desempenho das maiores empresas ranqueadas foi superior ao crescimento médio do segmento como um todo. Das empresas com dados comparáveis, 78,2% cresceram acima da inflação no ano passado. Em todas as 10 edições do Ranking o crescimento das maiores empresas foi superior ao do varejo como um todo.

Expansão, emprego e produtividade – o varejo enfrentou o período de pandemia, seguido de dois anos com juros elevados que pressionaram caixa e liquidez, obrigando as empresas a racionalidade na alocação de capital, controle de despesas e esforços de desalavancagem para reduzir o impacto do aumento de despesas financeiras. Diversas empresas fizeram reduções em seus investimentos. Apesar disso, se manteve o aumento de base de lojas das empresas listadas no ranking, tanto por meio de abertura orgânica de novas lojas como aquisições.

Em amostra de 267 empresas do Ranking Cielo – SBVC houve aumento médio de 3,6% na base de lojas em 2023. Em 58% dessas empresas houve aumento de base de lojas no ano passado, 25,1% delas mantiveram a base e 16,5% delas tiveram redução no número de lojas, com diferenças setoriais: os destaques positivos foram farmácias/ perfumarias (+7,3%), óticas/ bijoux/ bolsas/ acessórios (+5,2%) e Supermercados (+4,6%); o destaque negativo veio de lojas de departamento/ artigos do lar (-5%); eletromóveis, materiais de construção e foodservice mantiveram base de lojas.

O grande varejo vêm mantendo expansão de parque de lojas desde a primeira edição do Ranking. O saldo líquido apurado na base de empresas foi positivo nos 9 últimos anos, incluindo os dois anos de profunda crise econômica – 2015 e 2016 e o ano de explosão da pandemia – 2020.

Em relação a número de funcionários, para base de 193 empresas houve aumento de apenas 1,1%. Em 35,8% delas houve redução e 6% mantiveram quadro. Isso reforça agenda de austeridade, foco em produtividade e racionalização por parte do varejo. A venda/ funcionário aumentou 10% sobre 2022 para grupo de 185 empresas.

Concentração e Regionalismo – os dados do Ranking revelam e confirmam a cada edição características estruturais do varejo brasileiro. O mercado brasileiro é complexo e apresenta elevados graus de concentração demográfica e geográfica. A consequência disso para o varejo se dá no baixo nível de concentração e peso relevante do varejo regional. As 10 maiores empresas de varejo do Brasil detêm somente 19% do mercado, as 50 maiores 34% e as 100 maiores apenas 41%. Apesar dos diversos movimentos de expansão orgânica, entradas de empresas internacionais, fusões e aquisições, o grau de concentração no varejo brasileiro cresce lentamente e a série histórica do Ranking revela que a participação das 10 maiores empresas sobre o total das 300 maiores aumentou pouco entre 2015 e 2023, tendo passado de 16% para 19% em 2023.

Em relação à dispersão regional, 48% das empresas só possuem operação em um estado e 67% em até 5 estados. Somente 13% das maiores empresas de varejo do Brasil operam nos 27 estados do País. Apesar de existirem diversas redes com presença nacional, o varejo brasileiro ainda é dominado por empresas de atuação regional e este é outro indicador no qual a série histórica do Ranking reforça característica estrutural do varejo brasileiro. O grau de regionalismo não vem mudando significativamente nos últimos 9 anos.

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Aceleração digital – a pandemia  provocou um salto na maturidade digital de consumidores e forte aceleração digital do varejo no biênio 2020-2021. O cenário econômico dos dois anos seguintes, com baixo crescimento, pressão inflacionária, juros elevados e contração de crédito obrigou o varejo a agenda de disciplina financeira, com controle de despesas e investimentos e busca por lucratividade e geração operacional de caixa. Isso levou as empresas a mudança de foco nas vendas digitais, de uma agenda de crescimento para lucratividade, via melhora de margens, redução de subsídios a fretes e parcelamento sem juros. O comércio eletrônico teve crescimento nominal de 0,7% em 2023 segundo dados da NielsenIQ (para inflação de 4,6%), com penetração digital de 12,8% e base de 108 milhões de compradores online.

O legado de aceleração digital da pandemia foi incorporado às práticas do varejo. Na base de empresas do ranking, 72% vendem online, com índice de 94% para empresas de segmentos não alimentares. No Ranking de 2016, com dados referentes a 2015, a penetração era de 37%% no total e 69% em não-alimentar.

Apesar da desaceleração nas vendas online, a aceleração digital do varejo brasileiro não perdeu força. O foco das empresas está em integrar canais, otimizar processos, capturar valor nos dados e melhorar a experiência do cliente. Exemplo disso é a disseminação no uso do WhatsApp como canal de venda, fenômeno que emergiu durante a pandemia. Em amostra de 214 empresas, 46% das empresas realizam vendas, número que sobe para 65% nos segmentos não-alimentares, com destaque para 73% das empresas de materiais de construção e 68% de farmácias e perfumarias.

Marketplaces – Apesar da desaceleração no crescimento do ecommerce nos últimos dois anos, os grandes marketplaces continuam ampliando escala, relevância e domínio nas vendas digitais. As seis maiores plataformas – Mercado Livre, Magazine Luiza, Shopee, Amazon, Casas Bahia e Shein – movimentaram 85,5% das vendas online realizadas no Brasil no ano passado.

As empresas estão aderindo às plataformas como sellers, com 108 delas já operando em marketplaces de 3os (marketplace out).

Diversidade – as pautas ligadas a diversidade, equidade e inclusão vêm ganhando foco por parte das empresas e passaram a ser vistas como elementos importantes de engajamento de clientes e colaboradores e de criação de ambiente favorável a inovação.

Há 3 anos iniciamos a coletar dados sobre participação de mulheres no quadro total e em posições de liderança e conselho das empresas do Ranking e há dois anos estamos levantando dados sobre participação de pretos e pardos.

Apesar de amostras limitadas (64 empresas que forneceram dados sobre participação de mulheres e 51 empresas sobre pretos e pardos), as empresas de varejo apresentam elevados índices gerais de diversidade. A participação feminina representa 55% dos colaboradores, mesma participação de pretos e pardos, para as empresas que reportaram os números.

O grau de diversidade vem crescendo em níveis de liderança e conselhos, com diferenças relevantes: 88% das empresas possuem mais de 30% de cargos de liderança ocupados por mulheres e 49% mais de 50%. Para membros do conselho, 22% das empresas possuem mais de 30% das posições ocupadas por mulheres e 5% mais de 50%. No caso de pretos e pardos a distância é maior: 55% das empresas têm mais de 30% dos cargos de liderança ocupados por pretos e pardos e 28% mais de 50%.

O varejo apresenta elevado grau de diversidade em suas estruturas, mas precisa criar incentivos para ampliar a diversidade em todos os níveis das organizações.

Conclusões – portanto, os dados do Ranking Cielo – SBVC 2024 revelam a força e resiliência das grandes empresas do varejo brasileiro. Apesar do longo ciclo de baixo crescimento do varejo, as maiores empresas vêm conseguindo manter expansão de vendas e de base de lojas e aumento de produtividade. As vendas digitais se diversificam e os marketplaces ganham relevância. Características estruturais do mercado brasileiro como baixa concentração e regionalismo se confirmam. O ambiente econômico apresenta elementos positivos no mercado de trabalho e confiança dos consumidores, mas desafios ligados às ainda elevadas taxas de juros e restrições a crédito. Empresas de varejo têm que enfrentar os desafios de manter disciplina na execução e capturar oportunidades trazidas pela digitalização, adoção de inteligência artificial para otimização de processos e captura de valor na relação com clientes pelos dados e melhora na experiência e relacionamento.

*Alberto Serrentino é fundador da Varese Retail, conselheiro de empresas, vice-presidente e conselheiro da SBVC. Consultor, autor e palestrante internacional. Top Retail Expert 2024.

Por Alberto Serrentino*

Fonte: Linkedin

https://sbvc.com.br/o-varejo-brasileiro-e-as-grandes-empresas/

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