Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Paulo Borges fala sobre moda, renúncia fiscal e futuro e chama classe para reflexão e união

Interior da mostra sobre Carmen Miranda no SPFW, uma das únicas iniciativas de homenagear a artista em seu centenário ©Arquivo SPFW

Nestes últimos dias recebi mais de uma dezena de solicitações de entrevistas, para falar, dar opinião, aspas, ponto de vista sobre “o assunto do momento”, pelo menos para o mundo da moda.

Moda é Cultura?

É Arte?

Desfiles poderiam se utilizar do instrumento público e federal de renúncia fiscal (lei Rouanet) para o seu financiamento?

A Ministra da Cultura acertou ou errou?

A moda pode ou não pode?

Enfim, muitos pontos, diversas opiniões…

É claro que eu tenho uma opinião a respeito.

Porque tenho responsabilidade na crença lapidada nestes mais de 30 anos trabalhando para a Moda Brasileira.

Resolvi escrever este texto, e publica-lo em nosso portal ffw.com.br, para não correr o risco de ser mal interpretado, editado, “aspado” (se é que pode escrever assim), tirado fora do contexto, o que infelizmente muitas vezes acontece. O texto é longo porque quero abrir o raciocínio para um processo que vem sendo desenvolvido há muito tempo e não apenas de forma pontual. Para quem tem interesse sobre o assunto, dedique um pouco do seu tempo a uma leitura que pode ser esclarecedora em muitos pontos.

E também porque, ao escrever, posso discorrer sobre os muitos anos de trabalho sério, duro, inovador, de muito amor e dedicação, numa construção coletiva e constante.

Antes de qualquer coisa, gostaria de ressaltar que nestes quase 20 anos de SPFW, nunca utilizamos recursos da Lei Rouanet para a sua realização. Tudo nasceu e se desenvolveu através da iniciativa privada.

Neste período, posso afirmar que foram investidos para o desenvolvimento desta plataforma da moda brasileira nada menos que R$ 600 milhões, em média e em valores atualizados.

Desde seu início, o SPFW promoveu, apoiou e incentivou vários projetos ligados à moda ou não, para serem expostos durante a semana de desfiles. Projetos estes que fazem parte da nossa crença na construção de uma cultura de moda para o país. Em apenas três deles, em momentos diferentes, experimentamos abrir ao público, por um período de três semanas após o evento, com acesso geral e gratuito. Dois destes projetos foram realizados 100% com recursos privados, e apenas um deles contou com recursos incentivados.

De forma inédita no mundo, o SPFW nasceu oferecendo ao mercado um ambiente e um espaço com a maior e melhor infraestrutura para se realizar os desfiles. Desde o primeiro dia (e volto lá para 1996), sabemos da nossa capacidade e necessidade de transformar e desenvolver um setor que andava às beiras e às soltas, sem datas de lançamentos coordenadas, sem ambiente ou mesmo iniciativas coletivas e assertivas para esse necessário desenvolvimento e alinhamento, e assim iniciamos uma trajetória hoje mundialmente conhecida e reconhecida.

Diferentemente de Paris, Milão e Nova York, não cobramos das grifes e dos estilistas para compartilharem esta infraestrutura, além de trazer jornalistas e compradores para os lançamentos, com um único propósito de fomentar o desenvolvimento de todo o mercado e de toda a cadeia produtiva, conectando todos os players existentes e possíveis, do começo ao fim desta cadeia, do tecido ao varejo, passando pela comunicação e educação.

Sabendo do valor e do potencial existente em nosso mercado, em nosso país, da nossa vocação para a costura, para o têxtil, para a criatividade, e assim rabiscando 30 anos futuros, ousamos plantar, semear, disseminar e difundir todos os valores, atores e processos desta cadeia de produção criativa, sem nunca parar para reclamar projetos de governo (ou, na maioria das vezes, da ausência deles) que pudessem fomentar e desenvolver uma indústria tão importante para o país. Não só pela capacidade de gerar riquezas básicas como empregos e impostos, mas para, além disso, gerar transformação, cultura, autoestima, imagem positiva, etc.

O Brasil, infelizmente, ainda é uma sociedade altamente preconceituosa, presa a estereótipos que não valem mais nada, e que não vê o mundo que se transforma ao seu redor. Aqui, na grande maioria das situações, as pessoas só conseguem expressar as opiniões de forma horizontal ou vertical, por isso sempre vemos gráficos para explicar qualquer coisa ou situação, seja na TV, nos jornais ou nas revistas.

Daí a grande dificuldade de ver e entender muitos movimentos que acontecem, principalmente na moda. O ponto é que somos uma sociedade contemporânea transversal, e o mundo é transversal. E assim seguirá. Não podemos mais dizer “Independência ou Morte”, e sim INTERDEPENDÊNCIA ou Morte! Transversalmente dizendo.

O ponto principal é somar e não dividir. Unir e não separar. Ampliar todas as possibilidades disponíveis e construir novas.

Paulo Borges e Dilma Rousseff no Palácio do Planalto em janeiro de 2010 ©Arquivo SPFW

Temos grandes exemplos no mundo de como a moda é utilizada como plataforma de desenvolvimento para todo um país, fomentando diversas áreas importantes, como turismo, arquitetura, gastronomia, design, tecnologia, e acima de tudo, tangibilizando um pool de atividades importantes para o país.  É inegável a transformação do Japão, criando desejo de identidade cultural e de produtos, associados ao seu projeto de globalizar seu design de moda como parte de seu processo cultural. Assim como a Bélgica, a Coreia do Sul e a Inglaterra. E digo de antemão: aguardem a China. Não quero reclamar mais da situação solitária em prol do desenvolvimento da indústria da moda para o Brasil, principalmente quando olhamos para países como Inglaterra, que cria várias formas de fomento aos processos criativos, e sempre de maneira colaborativa.

A moda como um todo já viveu (e ainda vive) momentos de muito preconceito em relação a seus processos, valores e demandas.

Modelos, por exemplo, eram vistas como pessoas de profissão duvidosa. Estilistas, estes nem existiam na cabeça das pessoas. E jornalistas de moda então? Espaços para informar a notícia de moda? Somente nos poucos cadernos femininos, ao lado de receitas de bolo. Outra dezena de profissões dentro dessa cadeia criativa nem existia de maneira formal e com projeto de desenvolvimento profissional, como maquiadores, cabeleireiros, stylists e produtores, entre outros.

Nestes quase 20 anos fizemos uma revolução neste país. Uma grande revolução, posso afirmar. De Norte a Sul. Demos luz a um ambiente produtivo, transformador, educador, inovador, gerador de grandes riquezas aos cofres públicos.

Em 1996 não existia mais do que três cursos de nível superior no Brasil voltados ao ensino da moda e dos negócios da moda, e hoje passam de 150 espalhados por todo o país, de ponta a ponta.

A moda virou tema de novela em vários momentos, refletido no hábito cultural do brasileiro ligado à teledramaturgia, provando a força de todo o sistema e o valor e o interesse de todos pelo assunto.

Sempre defendi que Moda fosse reconhecida e tratada como Cultura neste país sim, porque de fato ela o é. Não no conceito de cultura que muitos ainda insistem em aprisioná-la, mas como manifestação e expressão artística, e retrato estético e histórico de períodos de uma sociedade.

O então ministro da Cultura Gilberto Gil foi o primeiro a enxergar essa transversalidade e reconhecer e incluir Moda como Cultura, fazendo questão de declarar isto no SPFW, integrando a Moda ao Plano Nacional de Políticas Culturais (do qual fui conselheiro por dois anos, juntamente com Ronaldo Fraga), e criando o primeiro colegiado de moda dentro do MinC.

Muitos já gritaram naquele momento. Moda na Cultura? Que absurdo!

Todos nós queremos um país moderno, novo, brilhante, solto das velhas amarras colonizadoras, que ainda insistem em nos colocar única e exclusivamente ao lado de uma bola de futebol, numa roda de samba, e de preferência com um copo de caipirinha na mão.

Somos muito mais do que isso.

Somos para além disso. E temos o dever de redesenhar este futuro como nação, como povo. É evidente que o Brasil carece com urgência de mudanças gerais. Estamos vendo e vivendo isto todos os dias nas ruas. Falta plano para quase tudo.

Não é papel do Estado financiar, mas é dever do Estado fomentar, investir, criar ambiente, semear, instigar. Cuidar, antes de mais nada.

Para ser mais exato, a cada edição do SPFW, período de pré-evento, evento, e showrooms, que pode chegar a um mês de movimentação na cidade de São Paulo, a Moda fomenta e atrai consumo para todas as áreas econômicas da cidade. Nos restaurantes, hotéis, teatros, museus, serviços gerais, comércio, direcionando para os cofres púbicos mais de R$ 30 milhões em impostos. Enriquece a cidade, dá forma e vida a sua vocação.

Isto é Moda. Isto é SPFW, e por isso tão importante para cidade, para o estado e para o país.

Dados do órgão SPTuris mostram como a moda movimenta a cidade 

Muito já se conquistou, principalmente no plano municipal e estadual. A cidade de São Paulo já trata há muitos anos o SPFW como um patrimônio para seu desenvolvimento e economia, como de fato é. E as relações são assim, uma via de mão dupla. Sempre.

Infelizmente, no campo federal existe um abismo, um longo corredor para ser conquistado e desbravado. Por isso dou meus parabéns à ministra Marta, pela sua coragem no gesto provocado. Em sua crença no desenvolvimento e na mudança de paradigma. É claro que ela sabia o que estava fazendo, no que estava se metendo. Que seria questionada. Confrontada. Mas pessoas com visão não temem a guerra.

O fato é que ainda não temos um plano de desenvolvimento para a moda no país. Plano de visão, de longo prazo, transversal, que conecte todos os dispositivos de Estado, e que deveria estar muito além do Ministério da Cultura. Moda no Brasil começa, na verdade, pela agricultura, com as fibras naturais, o algodão, que já poderia ser um dos melhores do mundo, mas não é.

http://ffw.com.br/noticias/moda/paulo-borges-fala-sobre-moda-renunc...

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Respostas a este tópico

a unica revoluçao que estou vendo e na fortuna do senhor paulo borges  e seus amigos alias todos tres, chamar para unir, logo ele que é um dos mais questionados por fabricar "talentos" pois basta ter 160 mil que vai para a passarela, nao teve este valoe na conta bancaria, nao tem talento, a moda precisa deixar de ter um dono, semana de moda tem que ter concursos de novos talentos e estes sim irem para passarela financiados pela lei rouanet, ele precisa e se preocupar com a venda dos produtos destes talentos, pois o salao bossa nova foi rechaçado matando o povo de calor e sequer tinha onde comprar uma agua porque a equipe ja era ruim e depois ficou pior sai do rio a porter por nao aguentar mais perder cliente por causa do projeto comprador que selecionava os clientes e e nao mandavam passagem depois de perder uma das minhas maiores clientes sai do salao no segundo dia e pedi para pelo menos dispensarem o pagamento do restante do stand e sabe o que fizeram protestaram meu titulo e se eu quiser agora tenho que ir para justiça para recuperar o prejuizo, pois nao ia ficar com meu nome sujo ai eu pergunto e este  a pessoa que chama o setor pra se unir ,  ele deve chamar seus outros amigos para irem buscar dinheiro no minc e gastar na semana de moda que traz paris hilton como estrela, pura cultura.

concordo com essa crítica... Não parece que a Moda é "nossa", mas; "minha"... e isso não é cultura, cultura tem base, história de luta e dedicação, e infelizmente o que vemos no SPFW é uma demostração de poder individual onde a cultura que envolve as raças e as gentes se é que posso chamar assim; ficam bem de longe curtindo pela "tv"...

não gosto do spfw,participei da ediçao venda de pedido,o mesmo dia de exposição tinha uma estande na feira da sara,buff Humberto,vendi no buff da sara mais de 80 mil peças para Venezuela, avista. no spfw que era chique, niquem comprou por que nao era marca.............. 4 anos atras..........


concordoooooo.
sambento disse:

concordo com essa crítica... Não parece que a Moda é "nossa", mas; "minha"... e isso não é cultura, cultura tem base, história de luta e dedicação, e infelizmente o que vemos no SPFW é uma demostração de poder individual onde a cultura que envolve as raças e as gentes se é que posso chamar assim; ficam bem de longe curtindo pela "tv"...


parabéns..........
francisca gomes vieira disse:

a unica revoluçao que estou vendo e na fortuna do senhor paulo borges  e seus amigos alias todos tres, chamar para unir, logo ele que é um dos mais questionados por fabricar "talentos" pois basta ter 160 mil que vai para a passarela, nao teve este valoe na conta bancaria, nao tem talento, a moda precisa deixar de ter um dono, semana de moda tem que ter concursos de novos talentos e estes sim irem para passarela financiados pela lei rouanet, ele precisa e se preocupar com a venda dos produtos destes talentos, pois o salao bossa nova foi rechaçado matando o povo de calor e sequer tinha onde comprar uma agua porque a equipe ja era ruim e depois ficou pior sai do rio a porter por nao aguentar mais perder cliente por causa do projeto comprador que selecionava os clientes e e nao mandavam passagem depois de perder uma das minhas maiores clientes sai do salao no segundo dia e pedi para pelo menos dispensarem o pagamento do restante do stand e sabe o que fizeram protestaram meu titulo e se eu quiser agora tenho que ir para justiça para recuperar o prejuizo, pois nao ia ficar com meu nome sujo ai eu pergunto e este  a pessoa que chama o setor pra se unir ,  ele deve chamar seus outros amigos para irem buscar dinheiro no minc e gastar na semana de moda que traz paris hilton como estrela, pura cultura.

 

enquanto nos que batalhamos e investimos cada centavo em abertura de mercado internacional, vivemos pedindo, implorando para que os programas de exportação da apex invista em desfiles COMERCIAIS, e nao conceituais nos saloes que expomos, o custo de um desfile deste e em torno de 140 mil reais e beneficia 5, 6 empresas em uma so feira e nunca conseguimos, pois sempre se alega que a apex cortou a verba em 40% , o que sei que é verdade e agora esta ministra torra 9 milhoes com 3 estilistas, que ninguem sabe tamanho da equipe, porque uma delas nos sabemos que é diminuta e claro todos 3 sao amiguinhos de paulo borges e ai ele vem chamar o setor pra se unir, como? se é ele quem mais causa divisão na classe, se tem uma pessoa que divide o setor se chama paulo borges, pois ele divide o setor em quem tem e quem nao tem dinheiro para gastar  nas fashion weeks DELE, talento, trabalho fundamentado em  cultura, sustentabilidade, ou qualquer que seja outro atributo, isto nao interessa, o negocio é dinheiro e agora chama classe para se unir. ahh e demais

Divididos não vamos chegar a nenhum lugar.  Ou nos unimos ou vamos todos morrer abraçados na praia. Não é hora de defender interesses individuais sejam eles de ordem social ou empresarial.

É uma boa hora de reunir todos em torno de uma agenda para o Brasil onde comporte o interesse de todos, e a moda realmente seja definida como um negócio e não como uma fogueira de vaidades. Temos que definir e entender de modo claro como esse setor pode ser encarado com toda sua diversidade, até para que saibamos discutir e entender os interlocutores quando eles se manifestam. Temos faculdades, cursos, atividades sociais, empresariais, profissionais, órgãos estatais e de classe, onde cada um possui sua visão; não reuni-los para uma visão abrangente é como "olhar o elefante com uma lupa".

A discussão deve ser : como e quem pode fazer isso; e se os integrantes realmente discutirão pensando na amplitude dos setores ou irão defender apenas suas posturas individuais. Nesse momento não é hora tentar provar se estamos ou não certos, se temos viés socialista ou capitalista. É um momento em que será possível defender uma política pública e definições para o setor , para a cadeia têxtil.

Se for para ser cultura precisa ser respeitada ou seja nao e cultura alguma. Alguns anos atras o valor para um estilista mostrar sua coleçao era um absurdo hoje continua cara, ele  disse que eles nao cobram nada? Porque trazer celebridades de fora que sao milhionarias? Chega ser lamentavel as pessoas aguardam em suas cadeiras um show de desfile mas nao acontece aquele que recebeu 1 milhao para desfilar veio e ficou sentado na primeira fila. Pelo amor de DEUS gente eu fico sem palavras para descrever isto, se eu tivesse uma grife famosa vc acha que eu faria isto? Isto e lamentavel e nao tras nada de NOVO nao agrada ninguem nao mesmo.

Ele ficou rico sim e sua casa foi exposta pela CASA VOGUE a 2 meses atras pela primeira vez, acho digno ficar rico trabalhando muito porem para apresentar uma coleçao no SPFW e carissimoooooooooooo, e assim vai indo enquanto se fala em moda, e a mao de obra que vem do NORDESTE? Paga uma porcaria para as pessoas e as peças sao vendidas por um valor altissimoooooooo e isto ai trabalho escravo parece que nao tem fim mesmo. Moda so mostra o lado bom e o lado ruim como fica? Obvio ninguem vai mostrar o que tem por tras de tudo isto!

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