Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Estilista Eloisa Artuso, diretora educacional do Fashion Revolution Brasil, defende uma indústria da moda mais ética e transparente

A estilista Eloisa Artuso, diretora educacional do Fashion Revolution Brasil (Foto: Marcus Steinmeyer)

Durante doze anos, trabalhei como estilista para marcas de todos os tipos; grandes, pequenas,  conceituais, de luxo. Passei por diferentes experiências. Enquanto uma coleção era lançada, eu já estava desenhando a próxima. Até que percebi que a moda andava em uma velocidade muito rápida, e meu trabalho estava ligado no automático. Já sabia as cores, estampas e modelagens que vendiam melhor e apostava naquilo, sem pensar.

Comecei a me questionar e vi que estava desconectada do que mais gostava. Não fazia mais sentido. Meudesejo era contar a história das coleções, criar produtos com significado, prezando pela qualidade da matéria-prima e do acabamento, respeitando as pessoas envolvidas no processo.

Decidi parar e me mudei para Londres em 2012, onde fiz mestrado em Futuros do Design. Fiquei dois anos estudando e resgatei os valores que achava que a moda tinha perdido. Comecei a trazer questões éticas para a minha profissão. Pesquisei e escrevi sobre moda sustentável, vi que era possível trabalhar de uma maneira completamente diferente e me interessei pelo tema educação.

Em 2014, de passagem pelo Brasil, mas com a intenção de voltar para Londres, vi que o Fashion Revolution dava seus primeiros passos por aqui, o que me fez ficar. O movimento nasceu após o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, em 24 de abril de 2013, matando mais de mil pessoas e ferindo outras 2.500. O prédio era ocupado por fábricas de roupas, e as pessoas trabalhavam em condições análogas à escravidão. Foi o pior acidente na história da indústria da moda. Esse desastre virou um marco, e o dia 24 de abril ficou internacionalmente conhecido como Fashion Revolution Day, o dia de dizer basta e alertar o mundo de que pessoas não podem perder a vida para alimentar o ritmo frenético da moda. A campanha #QuemFezMinhasRoupas foi lançada para questionar as marcas, o mercado e os consumidores e mostrar que, por trás de cada peça, há pessoas envolvidas no processo.

O Fashion Revolution vinha ao encontro de tudo que fazia sentido para mim. O movimento luta por mais ética e transparência na cadeia da moda, por práticas mais sustentáveis e promove mudanças de mentalidade e comportamento em todos os envolvidos. Procurei a Fernanda Simon, que estava trazendo o movimento para o País, e me tornei a diretora educacional do Instituto Fashion Revolution Brasil.

Promover a transparência na indústria da moda está diretamente ligado à melhoria das condições de trabalho das mulheres. No Brasil elas ocupam 75% dos postos no setor. Seja nas confecções ou em cargos de gerência, os esforços que fazemos por uma cadeia mais justa fomentam a luta pela igualdade salarial e combatem preconceitos relacionados a gênero e violências como assédio moral e sexual.

"Promover a transparência na indústria da moda está diretamente ligado à melhoria das condições de trabalho das mulheres, pois elas ocupam 75% dos postos no setor". (Foto: Marcus Steinmeyer)

Ano passado, apoiadas pelo Instituto C&A, lançamos a primeira edição do Índice de Transparência da Moda, uma metodologia do Fashion Revolution Global que analisa o nível de transparência das marcas. Estudamos as informações divulgadas publicamente por 20 marcas que operam no Brasil em relação a práticas sociais e ambientais, rastreabilidade, condições de trabalho, mulheres, resíduos, entre outras. Dessa forma, fazemos com que cada marca olhe para as suas práticas e crie mudanças efetivas para garantir que aquelas informações estejam de acordo com as suas condutas. Enquanto o mundo trabalhar só com o lucro como meta, não haverá mudança.

Há quatro anos lidero os projetos e levo esses temas para as universidades em forma de palestras, ações, oficinas, debates, com o objetivo de orientar os novos designers a olharem para essas questões, ainda tratadas superficialmente no meio. Em 2018, estivemos em 47 cidades e 73 faculdades e escolas técnicas. O movimento ganhou força no mundo todo e se transformou na Fashion Revolution Week.

Por causa de uma busca pessoal, acabei mudando meu trabalho e outros aspectos da minha vida. Mudei completamente a maneira como consumo moda. Hoje, só compro roupas de marcas locais de que conheço a procedência e que saiba que trabalham de maneira justa ou de brechós. Virei vegetariana e passei a consumir orgânicos. Tudo é muito mais coerente; não dá para falar de sustentabilidade na moda sem mudar o entorno. E o melhor é que isso reverbera nas pessoas próximas a mim.”

O Fashion Revolution vinha ao encontro de tudo que fazia sentido para mim. O movimento luta por mais ética e transparência na cadeia da moda, por práticas mais sustentáveis e promove mudanças de mentalidade e comportamento em todos os envolvidos. Procurei a Fernanda Simon, que estava trazendo o movimento para o País, e me tornei a diretora educacional do Instituto Fashion Revolution Brasil.

Promover a transparência na indústria da moda está diretamente ligado à melhoria das condições de trabalho das mulheres. No Brasil elas ocupam 75% dos postos no setor. Seja nas confecções ou em cargos de gerência, os esforços que fazemos por uma cadeia mais justa fomentam a luta pela igualdade salarial e combatem preconceitos relacionados a gênero e violências como assédio moral e sexual.

https://revistamarieclaire.globo.com/Publicidade/Instituto-CA/notic...

Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - CLIQUE AQUI

Exibições: 471

Responder esta

Respostas a este tópico

  Promover a transparência na indústria da moda está diretamente ligado à melhoria das condições de trabalho das mulheres. No Brasil elas ocupam 75% dos postos no setor. Seja nas confecções ou em cargos de gerência, os esforços que fazemos por uma cadeia mais justa fomentam a luta pela igualdade salarial e combatem preconceitos relacionados a gênero e violências como assédio moral e sexual.

Responder à discussão

RSS

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço