Representantes do agronegócio se reúnem com especialistas e governo para discutir soluções para logística e infraestrutura

Melhorias na estrutura de escoamento dos produtos brasileiros e revisão de entraves burocráticos nos portos foram pautas primeiro Fórum Geopolítica e Logística, promovido em Brasília.

Na última quarta-feira, 10/09, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) em parceria com a Associação Mato-Grossense de Produtores de Algodão (Ampa) e com a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), realizou o Fórum Geopolítica e Logística, em Brasília.


A programação teve mais de oito horas de debate, dividida em dois painéis e uma palestra sênior. O vice-presidente da Abrapa, Paulo Sérgio Aguiar participou da abertura do evento, ao lado do presidente da Ampa, Orcival Guimarães, e o presidente da Aprosoja Brasil, Maurício Buffon.


Na ocasião, Paulo Aguiar defendeu que, para minimizar os impactos dos problemas logísticos do país é necessário que exista um projeto nacional. De acordo com o vice-presidente, “Nós crescemos exponencialmente nos últimos anos, em relação à produção agrícola e dos produtos para exportação, mas infelizmente em termos de logística e infraestrutura o Brasil fica muito aquém”. Aguiar também falou sobre os gargalos enfrentados pelos produtores rurais atualmente, "De Sorriso até o porto de Santos, levamos quase uma semana para colocar um caminhão de pluma, mais de 45 dias para pôr esse contêiner na Ásia. Isso nos deixa frágeis perante os concorrentes.”, ponderou.


Para o coordenador do Fórum e especialista em logística, Luís Antônio Pagot, o país precisa solucionar três tópicos centrais para que haja uma melhoria logística efetiva: o custo Brasil; mais investimentos em infraestrutura; e a necessária desburocratização. Segundo Pagot, “O custo Brasil tem crescido especialmente nos últimos dois anos, a ponto de começar a inviabilizar negócios brasileiros no exterior. Essa é uma questão muito grave.”



O presidente da Ampa, representante do estado que mais produz algodão e grãos do Brasil, reforçou alguns dos problemas enfrentados pelos produtores da região. “Mato Grosso é como um país continental. Temos um déficit enorme de infraestrutura, com muitas pontes de madeira que precisam ser substituídas. É uma luta diária”.


Portos, trilhos e navegação: os caminhos para o Brasil mais eficiente


No primeiro painel, o superintendente da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Alessandro Baumgartner, o gerente do Observatório IBI, Bruno Pinheiro, o coordenador temas ambientais da Organização Marítima Internacional (IMO), Flávio Mathuiy e a Diretora da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), Flávia Takafashi falaram sobre a diversificação dos modais de transporte e escoamento da produção nacional.


Na ocasião, Baumgartner anunciou que, após 10 anos de obras, a ferrovia Transnordestina fará sua primeira viagem em outubro de 2025. “Já temos 680 quilômetros prontos e estamos concluindo a verificação técnica para autorizar a primeira viagem em outubro.”, afirmou o superintendente da ANTT. Baumgartner aproveitou o momento para falar sobre o andamento da Ferrogrão, outro projeto de ferrovia que é muito aguardado pelo setor produtivo. “A Ferrogrão está com o leilão previsto para o primeiro semestre do ano que vem, o entendimento da Consultoria Jurídica (Conjur) do Ministério dos Transportes é que não existem mais impedimentos para seguir com o leilão. Embora se fale muito da questão do licenciamento da Ferrogrão, a interpretação da Conjur é de que o projeto é fundamental para o Brasil de uma maneira geral.”, pontuou.


Flávia Takafashi, esclareceu o trabalho da ANTAQ em relação à logística de contêiners nos portos. De acordo com Takafashi, medidas legais estão sendo tomadas para solucionar o conjunto de problemas que geram um desarranjo logístico em toda a cadeia de exportação e importação. “Desde 2020, a agência vem se aprofundando nas discussões da logística de contêineres. E recentemente tivemos o acórdão 521 de 2025, que dá algumas bases, alguns entendimentos regulatórios que são importantes para esse setor. E as questões principais que estão ali apontadas são em relação à cobrança da demurrage e a cobrança da detention. A gente sabe que hoje, o setor de logística passa por desafios diversos, mas passa também pelo enfrentamento de busca de soluções”.


Água, energia e conformidade: os caminhos para o Agro mais potente


Durante a tarde, o segundo painel debateu a atuação das agências reguladoras, dos gargalos e obstáculos legais para as exportações do país. Participaram o secretário de defesa agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Carlos Goulart, o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (ANEA), Dawid Wajs, e o professor da Universidade Federal de Itajubá, Afonso Henriques.


Em sua fala, Carlos Goulart defendeu a necessidade do certificado fitossanitário, emitido pelo Mapa para que as exportações sejam operadas corretamente. Segundo Goulart, “O processo de exportação, principalmente de fibra de algodão, está sempre sujeito a alguma anuência. Porém, o Ministério da Agricultura, não é anuente obrigatório na exportação. Ter anuência não significa que é anuência obrigatória”.



O Secretário usou a exportação de soja como exemplo, “Se eu quiser exportar uma carga de um navio de soja sem uma autorização do Mapa, a operação ocorre legalmente. Porém, quando a carga chega no país de destino, o exportador será questionado sobre certificado fitossanitário do Brasil. Se a carga não estiver certificada, ela não entra.” E justificou, “Por isso é muito importante para quem opera no comércio exterior saber dessa regra capciosa. Este caso é muito frequentemente, até por uma questão de defasagem de conceito dos despachantes.”



Crescimento da população mundial deve ampliar a participação do Brasil na economia global


O ex-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como “Banco dos Brics”, Marcos Troyjo, encerrou a programação com palestra sobre as perspectivas do setor produtivo brasileiro diante dos desafios do cenário econômico mundial. O economista, cientista social e professor, serviu durante 10 anos o corpo diplomático brasileiro antes de se tornar presidente do Banco.


Troyjo afirmou que o crescimento da população mundial deve ampliar a participação do Brasil na economia global. Ele relacionou o potencial agropecuário brasileiro à necessidade de segurança alimentar, sobretudo diante da expansão populacional prevista para a África Ocidental e a Ásia, em especial Índia, Indonésia e Paquistão. Para ele, o Brasil precisa aproveitar essa oportunidade investindo em infraestrutura, indústria e tecnologia, a fim de diversificar sua oferta e promover desenvolvimento social.


O economista destacou ainda que a Ásia concentra hoje o maior crescimento econômico do mundo, com países que chegam a registrar até 7% ao ano. “O Brasil é um dos poucos países capazes de atender essa demanda em velocidade, escala, qualidade e confiabilidade. Mesmo diante da disputa econômica global, há uma chance importante de expandir nossas exportações”, disse.


Troyjo afirmou que o cenário internacional mudou de um mundo intensivo em globalização para um mundo intensivo em geopolítica, no qual as decisões comerciais e estratégicas já não se pautam apenas por eficiência econômica, mas por fatores de segurança e previsibilidade. “Ao mesmo tempo em que os Estados Unidos continuam sendo a maior economia e exercem forte influência global, também adotam políticas comerciais protecionistas, impondo tarifas pesadas até a parceiros estratégicos, como Brasil e Índia”, avalia.


De acordo com Troyjo, os norte-americanos vivem uma fase de grande poder econômico relativo, em que seus acertos ou erros têm impactos globais amplificados. “Além disso, com medidas de desregulamentação e cortes de impostos, transformam-se em um polo cada vez mais atrativo para os investimentos, funcionando como uma verdadeira bomba de sucção de capitais que poderiam ser direcionados a países emergentes. Essa combinação faz com que os erros e acertos norte-americanos tenham impactos muito maiores e mais rápidos sobre o restante do mundo.”, explicou.


Assista ao evento completo no link:


https://www.youtube.com/watch?v=6Jq0TSBAcNI

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