Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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SPFW: Diversidade de corpos e tecnologias deu o tom do evento

Nesta edição “phygital”, com desfiles presenciais e digitais, marcas mostraram que estão cada vez mais focadas em aproximar o consumidor final das coleções

Modelos desfilam criações da grife João Pimenta durante o terceiro dia da SPFW Modelos desfilam criações da grife João Pimenta durante o terceiro dia da SPFW

Diversidade, tecnologia, universo dos games e uma moda que misturou conforto e glamour foram os grandes destaques da 52ª edição da São Paulo Fashion Week, que chegou ao fim neste domingo (21). Intitulado “Regeneração”, o evento foi realizado de forma física e virtual, com desfiles presenciais no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Ibirapuera.

Na maioria das apresentações, seja digital ou física, um dos grandes destaques foi a presença de modelos com corpos diversos, de todos os tamanhos, cores e gêneros, que transformaram a passarela em um Brasil mais realista, como conta Thaís Carla, ativista contra a gordofobia e que experimentou, pela primeira vez, pisar na passarela de uma semana de moda.

“Me senti em um Brasil real. As pessoas vivem em uma bolha e não entendem que existem milhares de tipo de pessoas: gordas menores, maiores, muito magras, não tão magras, negras, com vitiligo, cadeirantes. Uma infinidade de belezas. O Brasil é isso, é diverso. Eu me senti feliz porque é assim que a gente é. Todos lá nos sentimos reis e rainhas”, contou à CNN.

Quem levou Thaís, ex-bailarina da cantora Anitta, para o desfile foram Céu e Junior Rocha, irmãos e criadores da Meninos Rei, marca que nasceu em Salvador e que fez sua estreia fisicamente no evento.

“É de extrema importância ter o corpo gordo, uma travesti, uma cantora trans, um cadeirante e a militante gorda Thais Carla na passarela. A nossa marca quer falar sobre isso, corpos, ancestralidade, raça. Queremos fortalecer cada vez mais esses temas”, avisa Junior Rocha.

“Quando a gente apresenta um casting real é porque queremos falar que as pessoas não suportam mais alimentar esse regime que a moda instaurou no mercado, de que o aceitável é ser magro e branco, referências que não são nossas”, explica Céu. “O Brasil precisa beber do Brasil, gostar da sua cultura, respeitar o povo, respeitar os corpos, que são realmente corpos reais. A gente sai dessa São Paulo Fashion Week com a sensação de dever cumprido”, completa.

Rafaella Santos, mulher negra, influencer e irmã mais nova do jogador de futebol Neymar Jr, também desfilou pela primeira vez, como convidada da Baška, e revela que estava nervosa antes de pisar na passarela. À CNN, conta que sentiu uma energia muito diferente de tudo que já viveu, e salienta a força que um casting mais heterogêneo tem em uma semana de moda.

“Acho incrível essa diversidade, temos que vivenciar mais isso. Eu esperava muito que essa mudança acontecesse”, comemora.

Para Dani Rudz, especialista em moda e mercado plus size, acredita que a moda brasileira esteja passando por uma ‘verdadeira democratização’ mas ainda falta um caminho longo a ser percorrido para que a diversidade esteja realmente inserida neste universo.

“Não acredito que aos poucos olharemos com mais carinho para pessoas gordas. Senti falta de marcas que produzem exclusivamente para esse público. Senti falta de especialistas em moda e mercado plus size nas mentorias e capacitações, além dos debates e apresentações, senti falta de modelos gordas de fato nas passarelas. Ainda somos cota. E uma cota tímida. As marcas insistem que inserir apenas modelos ‘curvy size’ nas passarelas é promover inclusão. E não é.”

A especialista ainda destaca que, enquanto nos bastidores, entre o staff e frequentadores existe uma diversidade e variedade grande de corpos diversos, de numerações de manequim desde o 44 até o 62, o espaço na passarela precisa crescer e muito.

“Essas pessoas estão presentes no evento, sedentas por moda, trabalhando para a moda e não sendo contemplados nos desfiles”, reclama. “Nunca vi tanta presença gorda entre os frequentadores em uma edição da Fashion Week. Não podemos ir na contramão do apelo desse público”.

Tendências

O apresentador, escritor e consultor de imagem e moda Arlindo Grund acompanhou da primeira fila cada um dos desfiles dessa edição. De um lugar privilegiado, ele acredita que o evento continua sendo reflexo do comportamento da sociedade, mas que vivemos um período de adaptação a esses novos tempos, com roupas para serem usadas em qualquer lugar. O especialista indica que a moda funcional, não apenas confortável e criativa, com tecidos tecnológicos e modelagens modernas, são a tendência das próximas estações.

“São roupas que permitem que você tenha conforto ao usar uma peça, mas ao mesmo tempo consiga ter o retrato da sua personalidade por meio dela e comunicar aquilo que você deseja”, afirma. “O Weider Silveiro, por exemplo, fez uma coleção com malha e moletom e silhueta bem-marcada. Ao mesmo, apresentou casacos e blazers que pareciam roupões e que também traziam essa coisa do aconchego. Foi muito interessante”, elogia.

Sobre essas mudanças durante a pandemia, Dani Rudz acredita que a moda não tenha ficado adormecida e sim se transformado em uma ferramenta de escape para suportar esse período difícil. A especialista acompanhou os desfiles físicos e digitais e concorda que repensar sobre o conforto das roupas foi um dos pontos chave na escolha dos elementos que chegaram à São Paulo Fashion Week.



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