Os centros de recolha do país estão cheios de vestuário descartado, resultado da proibição europeia de exportação de resíduos têxteis. Os municípios pedem a responsabilização dos gigantes da moda rápida.
«É uma quantidade enorme que chega todos os dias. Tem sido uma loucura, um enorme aumento», afirma, à AFP, Brian Kelly, secretário-geral da loja social Artikel2, em Estocolmo, onde filas de bidões estão completamente cheios de vestuário descartado.
Desde o início do ano, os países da UE têm de separar os resíduos têxteis, tal como já acontece com o vidro, o papel e as embalagens. O objetivo é promover a circularidade dos materiais, com os têxteis a serem triados e reutilizados ou reciclados, consoante as condições que apresentem.
«Tivemos um aumento de 60% nos têxteis recolhidos em janeiro e fevereiro deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado», revela Karin Sundin, especialista em resíduos têxteis na Stockholm Vatten och Avfall, a empresa de gestão de resíduos de Estocolmo.
Depois da triagem, cerca de 60% a 70% dos têxteis são encaminhados para a reutilização, 20% a 30% são reciclados para serem usados como isolamento ou em materiais compósitos e cerca de 10% é queimado para energia, de acordo com a agência ambiental sueca.
Os especialistas indicam à AFP que estas taxas são uma melhoria clara face ao que acontecia antes da nova lei, já que anteriormente a maior parte dos têxteis descartados eram incinerados.
No entanto, a falta de infraestruturas na Suécia significa que a maior parte do vestuário usado é exportado, sobretudo para a Lituânia, onde é triado, reutilizado ou incinerado.
«Não temos grandes unidades de triagem que possam dar valor a tudo da mesma forma que existe na Europa de Leste, por exemplo», aponta Karin Sundin. «A razão é que é muito intensiva em mão de obra e custa muito dinheiro», justifica.
Os suecos deitam fora cerca de 90 mil toneladas de têxteis por ano, equivalente a cerca de 10 quilos por pessoa, de acordo com a Sociedade Sueca para a Conservação da Natureza. A média europeia é de 19 quilos, de acordo com os dados mais recentes da Agência Europeia do Ambiente.
Mudar mentalidades
«Na Suécia, uma peça de roupa é usada, em média, 30 vezes. Se duplicarmos isso para 60 vezes – que parece razoável – podemos reduzir o impacto climático para metade», destaca Yvonne Augustsson, conselheira da Agência Sueca de Proteção Ambiental.
A triagem têxtil na Suécia é gerida pelos municípios, muitos dos quais estão sobrecarregados desde a introdução da nova legislação. No norte do país, menos densamente povoado, algumas cidades, como Kiruna, continuam a incinerar os têxteis porque não têm ninguém interessado nos mesmos.
Gigantes da fast fashion, como a H&M e a Zara, deverão eventualmente ter um papel no problema dos resíduos para o qual contribuem e estão em curso negociações a nível europeu para determinar a sua responsabilidade. O acordo preliminar entre os países-membros prevê que, no âmbito da responsabilidade alargada do produtor, quem coloca os produtos no mercado seja responsável pelo fim de vida dos mesmos, podendo ter de pagar pela recolha, triagem, reutilização e reciclagem dos têxteis e vestuário descartado.
A ideia é encorajar as retalhistas da fast fashion a produzir «vestuário desenhado para durar mais», salienta Yvonne Augustsson.
É igualmente fundamental consciencializar os consumidores. Cada pessoa não deve comprar «mais de cinco novas peças de vestuário por ano», sublinha Beatrice Rindevall, diretora da Sociedade Sueca para a Conservação da Natureza, que regularmente organiza mercados de troca de roupa.
«As pessoas podem entregar-nos peças em boas condições que já não usam e trocar por outra coisa qualquer», explica, à AFP, Eva Vollmer, voluntária de um mercado deste tipo na cidade de Linkoping. «Focamo-nos em criar a solução, para que as pessoas tenham realmente uma alternativa», resume.