Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Das redes de pesca que poluem o mar às algas cujas propriedades podem permitir tingir ou conferir acabamentos sem recurso a químicos, há cada vez mais exemplos da utilização dos recursos marinhos na indústria têxtil e vestuário, incluindo em Portugal.

Lasa [©Messe Frankfurt GmbH-Jean-Luc Valentin]

Há muito que o potencial das algas e outras matérias-primas que se podem encontrar no mar têm sido investigadas e usadas na produção de têxteis e vestuário, mas nos últimos anos, impulsionada pela necessidade de ter materiais alternativos e mais sustentáveis, a indústria tem explorado mais consistentemente o potencial do oceano.

As algas, por exemplo, crescem mais rápido do que a grande maioria dos organismos do planeta, incluindo o bambu. Já em 2003, a fiação suíça Streiff desenvolveu um fio composto por fibras de algodão e de algas, que batizou de Seacell.

Mais recentemente, a Keel Labs, sediada em Nova Iorque, desenvolveu uma fibra obtida a partir de biopolímeros extraídos de algas marinhas. Como a lã ou o algodão, o material é suficientemente resistente, mas ainda assim biodegradável, tendo a empresa já testado a fibra na produção de t-shirts, mas também na coleção para a primavera-verão 2024 da Stella McCartney, com quem tem uma parceria.

A empresa americana de biomateriais Living Ink, por seu lado, criou um pigmento preto a partir de algas, que foi já aplicado pela portuguesa RDD numa coleção da marca britânica Vollebak. Também nesta área, e igualmente com trabalho a ser desenvolvido em parceria com a RDD, a empresa neerlandesa Zeefie está a tingir têxteis com algas. «Hoje temos um produto industrial 100% tingido com algas marinhas», revelou Anne Boermans, cofundadora da empresa, numa intervenção na iTechStyle Summit, em maio deste ano, onde realçou a enorme variedade, e consequente potencial, das algas marinhas «Alguns investigadores sugerem que existem entre 10.000 a 30.000 tipos de algas marinhas. Esta diversidade oferece uma vasta gama de possibilidades para a inovação no tingimento», realçou.

Para além das algas, há outros recursos que podem ser usados, como a casca de ostra. Rica em carbonato de cálcio, a casca de ostra é pulverizada e misturada com outros materiais, como fibras recicladas de poliéster, para criar fios mais ecológicos. O processo oferece uma alternativa aos têxteis tradicionais, ao mesmo tempo que promove a reutilização de resíduos marinhos. A Creative Tech Textile, sediada em Taiwan, e a Hans Global, que opera nos EUA, apresentaram na Première Vision no ano passado as fibras e fios Seawool, produzidos a partir de poliéster reciclado com um acabamento de pó de casca de ostra, que confere propriedades como controlo de odores, gestão de humidade e termorregulação.

Há ainda quem esteja a investigar a possibilidade de produzir ácido adípico, um dos componentes da poliamida, a partir de subprodutos da preparação de peixe, como é o caso de um projeto da Universidade de Edimburgo, em parceria com outras entidades.

Em Portugal, várias empresas usam este tipo de fibras e fios provenientes de recursos marinhos para produzir as suas coleções, mas há também quem esteja a desenvolver diretamente este tipo de materiais. Foi o caso do projeto Azores EcoBlue, financiado pelo Crescimento Azul dos EEA Grants, focado na transformação de resíduos marinhos em novos produtos e matérias-primas para os sectores do têxtil e da construção.

Ao longo do projeto, que terminou em abril deste ano, foram recolhidas 42 toneladas de lixo marinho, das quais 25 toneladas foram reutilizadas. Entre os resíduos identificados e processados, destacam-se sedas, cabos e algas infestantes, como a espécie Rugulopteryx okamurae, que têm causado sérios problemas ambientais nos Açores. Estes materiais foram estudados cientificamente, permitindo o desenvolvimento de novos fios e fibras que poderão ser usados em materiais de isolamento térmico, tecidos impermeáveis e produtos de design sustentável.

«O Azores EcoBlue quis fazer a diferença, mostrando como a adoção de modelos de economia circular ao longo de toda a cadeia de valor é necessária, possível e urgente para prolongar a vida útil dos materiais e criar sociedades e economias mais resilientes», descreve Nieta da Ponte Rocha, CEO e diretora criativa da Circular Blue, a entidade que liderou o projeto, na newsletter de conclusão, acrescentando que «ao incluir a academia, a indústria, a comunidade e o poder local num modelo de negócios verdadeiramente circular, não só com a recolha e reutilização de resíduos, não como lixo, mas como recurso na cadeia de valor, para criação de novos produtos para as fileiras do têxtil e da construção», teve um impacto muito positivo.

O projeto expandiu-se por várias ilhas açorianas, como São Miguel, Terceira e Faial, e envolveu a colaboração de universidades, centros de investigação, comunidades locais e a indústria. A parceria resultou na criação de nove protótipos inovadores e na conceção de uma coleção cápsula de têxteis-lar, que a Lasa apresentou na feira internacional Heimtextil, em janeiro deste ano. «Não sei até que ponto não há uma antecipação de um produto que vai ser bastante interessante» tendo em conta, inclusivamente, a proliferação de algas no mar, acredita Fátima Antunes, administradora da Lasa. «Demora muito tempo para que o mercado aceite, mas são pequenos passos que, no futuro, vão ser essenciais e acreditamos que podemos ter aqui uma mais-valia», acrescenta.

Igualmente neste sentido, mas ainda em curso, está o Pacto da Bioeconomia Azul, um projeto transversal a diferentes indústrias apoiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que tem como líder, no pilar dedicado ao têxtil, a TMG, com participação de diversas entidades do sistema tecnológico e científico e empresas como a Fitexar e a Tintex.

Já com investimentos privados, a KOD Bio, spin-off da Next Generation Chemistry (NGC), está a colocar no mercado novos produtos, nomeadamente bioamaciadores, feitos a partir de microalgas.

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