(Foto de capa - Crédito:wayne10810/iStock)

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Terminamos o texto anterior anunciando que este texto é sobre os tecidos africanos para produzir moda no Brasil e no Mundo.

Para conhecer um pouco de como a tecelagem está intimamente ligada ao centro da vida social, cultural, religiosa e econômica dos povos africanos, falamos sobre os tecidos tradicionais Bogolan, Kente, Adinkra e Akunitanm.

Agora falta conhecer mais tecidos africanos disponíveis no mercado para produzir moda neste momento. Escolhemos conhecer os tecidos Aso Oke, Adire, Kuba e os índigos africanos.

Finalmente vamos às pesquisas práticas para a produção de uma coleção!

Tecidos para criar a coleção

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Aso oke

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A tradição de tecelagem Aso Oke dos povos Iorubá tece em teares de trama simples, usados pelas mulheres, e em teares de trama dupla, usados pelos homens.

Originalmente os tecidos eram de algodão, seda ou lã. Hoje também são tecidos em composição mista de fios naturais e sintéticos.

Atualmente os tecidos Aso Oke mais conhecidos são:

Etu
Tingido repetidas vezes de índigo, este tecido é azul escuro quase preto, tramado de fios brancos ou azul claro, na trama e urdume, lembrando o aspecto visual da plumagem da galinha da Angola.

Sanyan
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(Fonte: nzuritextiles.com/pinterest)

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Tecido com o fio de seda do mofo dos caramujos Anaphe, marrom pálido de tons irregulares, este tecido às vezes poder ser produzido também em composição mista dos fios de seda com fios de algodão.

Alaari
O Alaari é tecido com o fio de retalhos de seda magenta, antigamente trazidos da Europa pelo Saara.

Pode ser inteiramente tecido de seda, de seda tramada com fios de fibras naturais tingidos de índigo e até mesmo de seda com listras inteiras destes fios índigo.

Mesmo quando o tingimento destes fios de fibras naturais é feito de outras cores, ele também é feito com pigmentos vegetais.
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356px-Aso_oke Traje masculino nigeriano de tecido Alaari da tradição de tecelagem Aso Oke By Softpics - Own work, CC BY-SA 4.0,

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Os tecidos Alaari têm as listras como seu padrão marcante, que são entremeadas com desenhos da flora ou fauna dos territórios de fala Iorubá da Nigéria.
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Adire

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O Adire é tecido com algodão, em sua maioria tingido com índigo, por meio de uma técnica de origem asiática, conhecida como Tie Dye.

O Tie Die usa amarrações com barbantes para impedir o tingimento de algumas áreas, formando a padronagem das estampas.
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640px-Aso_Adire Belíssimo exemplar de tecido Adire By Olaniyan Olushola - Own work, CC BY-SA 4.0,

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Nos tecidos Adire, estas amarrações são feitas com alinhavos, que podem ser feitos à mão ou em máquinas de costura com pontos largos.

Esta diferença técnica produz estampas com um estilo original, diferente do estilo das estampas de tie die amarrado com barbantes da Ásia.

Outra singularidade do Adire é que os tecidos são dobrados para entrar no processo de tingimento. As dobras e plissagens do tecido resultam em padronagens simétricas e repetidas, bem diferentes do estilo imprevisível das estampas do tie die asiático.

Os tecidos Adire mais conhecidos são feitos nas cores índigo ou mogno, sem mistura de cores e podem ser encontrados nos países Burkina-Faso, Camarões e Gambia.

Já na Nigéria, Senegal e Serra Leoa podem ser encontrados tecidos Adire com mais de uma cor, formando estampas em cores vivas.

É possível encontrar também produção de Adire com outras técnicas de tingimento e estamparia, como por exemplo o batique, porque, com o crescimento da produção do Adire em escala comercial, outras técnicas de tingimento e estamparia foram incorporadas a esta tradição.
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Kuba

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É uma tradição de tecelagem dos povos do reino Kuba, localizado onde atualmente está a República Democrática do Congo.

Os tecidos Kuba são feitos de fibra de ráfia, uma espécie de palmeira.

Todos os estágios de produção dos tecidos Kuba são tradicionalmente feitos pelos membros de uma mesma família.

A tecelagem é feita pelos homens, desde a extração e preparação das fibras.

Os bordados e apliques são feitos pelas mulheres, desde o tingimento das cores das linhas e veludos.
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iStock-157377629--1- Tapete de tecido Kuba, com acabamento em veludo Kuba para tapeçaria (Crédito:brytta/iStock)

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Os tecidos de ráfia por serem muito grossos e ásperos, precisam de amaciamento. O tecido é embrulhado com outros tecidos, deixado de molho em um pilão e depois é amassado manualmente.

Só depois de estar menos espesso e mais maleável, o tecido pode ser bordado e ornamentado com os apliques.

Depois de prontos, os tecidos Kuba tem aspecto e toque similares a uma tapeçaria, que na moda podem ser usados em calçados, bolsas e acessórios ou em acabamentos decorativos de roupas.

As principais cores dos bordados e apliques dos tecidos Kuba são preto, vermelho e amarelo e elas são tingidas sempre com pigmentos vegetais.
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Mat-_Shoowa-Kuba-raffia-Linden-Museum-_Stuttgart-Germany-_DSC03912-1 Tecido Kuba (Domínio Público)

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As figuras dos bordados e apliques estampam formas abstratas inspiradas nos animais da região, como os desenhos estilizados dos cascos de tartaruga ou dos chifres de antílopes.

Mas soma-se aos desenhos criados agora, os desenhos familiares, transmitidos de geração para geração, compondo um acervo de centenas ou milhares de imagens, difícil de ser contabilizado.

Por toda essa complexidade na produção, os tecidos Kuba são largos, mas não são muito compridos. Por isso, às vezes as peças são costuradas umas às outras para se obter maiores comprimentos.
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Índigos

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Quando ouvimos a palavra índigo, pensamos em jeans. Aquela sarja de algodão de espessura média ou pesada, colorida de azul, dos tons mais escuros aos mais claros.

Mas a verdade é que o índigo não é um tecido. O índigo é o pigmento vegetal usado para colorir de azul o algodão e todas as outras fibras têxteis naturais, vegetais e animais.

Este pigmento é extraído de plantas indigóferas que podem ser espécies selvagens nativas da região, ou espécies que precisam ser cultivadas, porque foram trazidas de outras lugares de clima e solo diferentes.
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640px-Indigo-guizhou Pigmento índigo extraído de uma espécie de indigófera (Autor: Gitane/Wikimedia Commons)

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A história do tingimento com índigo é tão antiga, que a todo momento novos achados arqueológicos reescrevem sua trajetória. Sólidas evidências provam a prática de tingimento têxtil com índigo a 4.000 anos na índia. Mas em 2016, arqueólogos encontraram em uma Hauaca no Perú, têxteis índigos de aproximadamente 6.000 anos atrás.

Porém, quando estudamos a evolução das tecnologias africanas de tingimento têxtil com índigo, podemos resumir esta história. Na África a tradição do tingimento com índigo anda lado a lado com a evolução do cultivo do algodão, a partir do século XI.
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iStock-1059312890 Padronagem em tecido índigo (Crédito:Premyuda Yospim/iStock)

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Como o nosso objetivo aqui é encontrar os tecidos produzidos atualmente com este tingimento que chamamos simplesmente de "índigos", podemos começar por entender que o Adire em tons de azul é um deles.

Tecidos tingidos de índigo sem estampas são produzidos pelos Hauçás, que vivem em sua maioria no centro e norte da Nigéria e no sudeste do Níger, desde uma data entre o sec V e VII. Por sua longa ancestralidade, são cultural e historicamente próximos de vários povos, entre eles os Tuaregs, conhecidos também como homens azuis, por suas seculares vestes de algodão índigo.

Seus tecidos de um índigo quase preto são célebres: a cidade de Kano, grande centro de tinturaria no século XIX, era o ponto de partida da exportação destes tecidos “cor de carvão” através do Saara até Tombuctu e a África do norte.
Acervo África

É importante também pesquisar outros tipos de "índigos" da nação Iorubá, além do tecido Etu da tradição têxtil Aso Oke, particularmente no sul da Nigéria.
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2635143582_ee95699d18_c Produção de tecidos indigo dos povos yorubá na Nigéria (Crédito:Eugene KimSeguir/Indigo Dyed Textiles)

Para concluir, as pesquisas mostraram que os fios tintos de índigo estão presentes em todas as tradições de tecelagem africana e a beleza de cada uma delas é riquíssima em originalidade. Os têxteis de Mali são de uma beleza apaixonante e completamente diferentes da beleza surpreendente dos têxteis de Camarões e assim por diante.

É possível encontrar índigos sem estampas como os consagrados tecidos Hauçás, mas eles são produzidos em sua maioria para serem bordados e ornamentados com apliques por seus próprios produtores. Podemos verificar isso nos "índigos" ricamente ornamentados das vestes masculinas Agbadá.

Por falar em vestes... Não perca o próximo texto!

Se o assunto agora é produção de moda afro neste momento, precisamos falar também de roupas étnicas tradicionais como referência para a criação de modelos contemporâneos.

Vamos conhecer a Capulana, o Aso ìró e os Turbantes e depois o Agbadá, o Budá, o Dashiki Khaftan e o Saruel.

Nos encontramos no próximo texto! Até lá você pode achar útil esta lista de fornecedores que preparamos para agilizar as suas pesquisas.

Por Telma Barcellos

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