Tecnologia permite que cliente faça 'raio-x' de roupas e descubra em quais peças o algodão da Bahia foi transformado; entenda

Com inovação, já é possível rastrear calças de lojas como C&A e Calvin Klein. Peças de roupas têm em sua composição algodão plantado no oeste da Bahia, segundo maior produtor brasileiro da commodity.

Você já pensou de onde vem a matéria-prima da toalha de banho ou da roupa que costuma vestir no trabalho? Por meio de um programa de inovação, materiais produzidos com o algodão cultivado na Bahia podem ser rastreados pelo consumidor final a partir de um simples QR Code.

Criado em 2021 pelo Movimento Sou de Algodão, da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o programa Sou ABR possibilita o rastreamento completo de peças produzidas com pelo menos 50% de algodão certificado. A iniciativa permite que os consumidores descubram a fazenda em que o algodão foi produzido e todos os lugares por onde a fibra passou até chegar às prateleiras das lojas.

Alguns dos exemplos de rastreabilidade estão em calças da grife americana Calvin Klein e da rede de varejo C&A. As peças têm a etiqueta “Sou ABR” e basta o cliente apontar a câmera do celular para o QR Code para descobrir que as roupas foram feitas com algodões de mais de 20 fazendas, sendo pelo menos metade delas baianas.

As fazendas ficam nas cidades de São DesidérioJaborandiLuís Eduardo MagalhãesFormosa do Rio Preto e Riachão das Neves e, com a tecnologia, é possível até encontrá-las no mapa.

Segundo a gestora do movimento Sou Algodão, Silmara Ferraresi, o programa está em fase piloto até dezembro deste ano. O objetivo é contribuir para um consumo consciente. “Essa tecnologia traz para o consumidor a segurança de que ele está comprando algo dentro da lei, sem trabalho infantil, com boas práticas sustentáveis”.

Já são milhares de peças rastreáveis de marcas bastante conhecidas no Brasil, como Renner, Reserva, C&A, Calvin Klein e YouCom. A marca baiana Dendezeiro também tem parceria com a iniciativa e já produziu duas peças rastreáveis.

Através da tecnologia, é possível entender toda a cadeia produtiva envolvida nesse processo, incluindo os produtores, as indústrias e também uma etapa fundamental: a análise do algodão. É por meio desse trabalho que o mercado decide em qual produto o algodão plantado e colhido na Bahia será transformado.

Análise do algodão

Na Bahia, a avaliação da fibra é feita no Centro de Análise de Fibras da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), localizado em Luís Eduardo Magalhães, no oeste do estado, e considerado o maior laboratório do ramo na América Latina. No local, são analisadas 34 mil amostras de algodão por dia.

"De cada fardo de algodão é retirada uma amostra e essa amostra é analisada e classificada. Esses dados são usados para gerar relatórios técnicos e comerciais, que ajudam produtores e compradores a avaliarem a qualidade da safra", explica Sérgio Alberto Brentano, gerente do laboratório.

Neste contexto, a qualidade do algodão é classificada conforme os seguintes tópicos:
- parâmetro - descrição;
- comprimento - mede o tamanho médio das fibras;
- micronaire - avalia finura e maturidade da fibra;
- resistência - indica a força da fibra, essencial para fiação;
- uniformidade - grau de consistência entre as fibras;
- cor e folha - avalia cor e presença de impurezas.

A partir da classificação do algodão, as indústrias de fiação, as malharias, tecelagens e as indústrias de confecção irão escolher os fardos para produzir os mais diversos produtos: vestimentas, roupas de cama, toalhas, entre outros produtos.

O algodão usado na fabricação da calça jeans, por exemplo, contém um fio mais resistente do que o utilizado na fabricação de camisas.

Exportações a todo vapor

Além do consumo no mercado nacional, a Bahia exportou mais de 470 mil toneladas de algodão para ao menos 12 países entre 2024 e 2025.

Fundamental matéria-prima para a indústria têxtil, a commodity produzida principalmente no oeste do estado teve como principais destinos China, Paquistão, Vietnã, Turquia e Bangladesh, que, juntos, concentram 84,9% das exportações brasileiras da fibra.

Segundo a Abapa, as importações desses países somaram mais de 372 mil toneladas no período. As vendas resultaram em um arrecadamento histórico de US$ 630.648.990,00 do total comercializado para os 12 países: US$ 792.508.743,00.

O alto número registrado pela associação é resultado de um momento histórico celebrado pelo Brasil neste ano: em fevereiro o país desbancou os Estados Unidos e, pela primeira vez, se tornou o maior exportador de algodão do mundo. Os especialistas apontam que o feito é resultado de décadas de investimentos em tecnologia no campo.

Mas por que o algodão brasileiro é tão procurado pela indústria têxtil nacional e internacional?

A fibra brasileira é considerada muito resistente e, segundo a presidente da Abapa, a agricultora Alessandra Zanotto, a espessura e o comprimento dela também atendem às exigências do mercado.

"O que a indústria têxtil hoje precisa é de qualidade, um algodão aderente ao produto que ela precisa fazer. O tipo do fio, a grossura, a resistência e também o que a indústria precisa e do conforto de abastecimento".

"O Brasil se tornou um grande exportador, porque ele consegue garantir esse fornecimento para indústria têxtil lá fora", ressaltou.

Expectativa para os próximos anos

A expectativa dos especialistas e produtores é de que o número de exportações baianas em relação ao algodão continue em crescimento.

Em 5 de agosto, o oeste da Bahia recebeu a 9ª edição da Missão Compradores — iniciativa promovida pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) para apresentar o modelo de produção nacional a representantes da indústria têxtil global.

O evento incluiu visitas técnicas à fazenda Sete Povos Agro, no município de Barreiras, e ao Centro de Análise de Fibras da Abapa, em Luís Eduardo Magalhães. A delegação foi composta por 19 executivos de empresas da China, Índia, Paquistão, Bangladesh, Vietnã e Turquia.

"A gente vê, sim, oportunidades de crescimento de área na Bahia, principalmente na irrigada e automaticamente se a gente aumenta essa produção, também cresce a exportação", ressaltou a profissional.

O bom desempenho ainda faz com que cresça o número de empregos diretos e indiretos no setor.

"A gente atrela o aumento da produção a um impacto positivo na economia de modo geral, principalmente no índice de desenvolvimento das pessoas e nas oportunidades de emprego. Por mais que seja uma cultura que necessita e adapta muita inovação em máquinas, ela tem um ciclo longo na lavoura, no campo e isso acaba necessitando de mais pessoas para trabalhar", explicou Zanotto.

https://abrapa.com.br/2025/09/26/tecnologia-permite-que-cliente-fac...

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