Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O relógio de ponto parou às 17h50. Uma história de prosperidade e desenvolvimento também cristalizou-se com o tempo. Dos seis mil hectares da Fazenda São Miguel, em Angicos, 28 são ocupados pela estrutura que restou da algodoeira de mesmo nome. Os aproximadamente mil funcionários que se revesavam na produção, moravam nas cercanias da usina. Alguns ocupavam casas erguidas na propriedade. “Era um vai e vem de pessoas e caminhões. Tudo muito diferente de agora”, diz Francisco de Assis Rodrigues, que ainda mora no local e zela a usina.

 Do lado de fora da fábrica, poucos imóveis usados pelos ingleses que trabalhavam para a Fiação Borborema, grupo que viveu períodos de glória na exploração do algodão no estado, resistem ao tempo. O clube social, o posto de saúde e a igreja erguida na vila tem suas estruturas corroídas. O aspecto geral é de uma cidade abandonada, cujo passado permanece apenas na memória dos mais velhos.

No escritório empoeirado, relíquias em miniatura dos fardos de algodão que eram entregues como amostra aos compradores parecem um brinquedo diante dos olhos brilhantes de Francisco. Por quase duas décadas, ele classificou o algodão que saíra daquela usina. As 36 máquinas de beneficiamento hoje estão enferrujadas.

 A poucos quilômetros dali, em Pedro Avelino, o slogan do Grupo Giorgi ainda é visível numa das paredes da usina que fora a mais desenvolvida do município. A maioria das máquinas permanece no mesmo local dos anos 80, quando a Algodoeira Mascote processava até 12 mil toneladas de algodão por safra.  A produção era dividida em duas unidades, às margens da estação de trem. Para a população mais jovem, os imóveis parecem um mausoléu. O interior deles é conhecido por poucos.

Por quase 40 mil quilos de ferro, chumbo, aço e motores, uma sucata ofereceu R$ 8 mil ao grupo que administra o que restou da usina. “É lamentável. São momentos de toda uma vida que se misturam hoje ao pó”, diz Gilma Cruz Pinheiro, que trabalhou para o Giorgi. Hoje, como “recompensa” pelas perdas, ela mora na propriedade da usina e faz sabão, a partir do óleo do algodão, para sobreviver.

Declínio deixou rastro de dívidas

Venerado pelos nordestinos, Frei Damião abençoou, em 1939, a fundação da Cooperativa Agro-Pecuária de São Tomé, na região Potengi do estado. A Cooperativa, que viveu dias de prosperidade beneficiando uma safra recorde de 6 mil toneladas de algodão em 1982, hoje está afundada em dívidas que, segundo seus antigos gestores, são incalculáveis. No período áureo da produção algodoeira, a Usina Potengy figurou na 18ª posição na lista dos maiores contribuintes de ICMS no Rio Grande do Norte. A unidade foi responsável pelo beneficiamento de algodão produzido em 42 municípios e que, após o desencaroçamento, era distribuído para todo o país.

“Aqui existiam filas de caminhões 24 horas por dia. Nós estávamos entre as três maiores cooperativas do Nordeste. Ninguém via o chão do pátio, com tantos fardos de algodão empilhados”, relembra Rainel Pereira, que foi diretor e gerente administrativo da Cooperativa por 20 anos. Os frutos colhidos pelos cooperados eram tantos que, em 1981, quase todo o parque de beneficiamento do algodão foi modernizado com recursos próprios da Cooperativa.

Até a cidade de São Tomé, distante 101 quilômetros de Natal, se desenvolveu a partir da expansão da produção algodoeira na região. Foi durante o funcionamento da Usina Potengy que o Banco do Brasil e o extinto Bandern instalaram agências no município. Com a paralisação das atividades na usina, as agências bancárias fecharam as portas e jamais reabriram unidades na cidade.

“Foi o fim do poder econômico da região. Acabaram-se os empregos, os bancos foram embora”, rememora Joacy Mafra, que atuava como assessor da diretoria da Cooperativa. As perdas, porém, não se restringiram à saída dos bancos da cidade. Os cooperados, a maior parte deles pequenos produtores, contraíram empréstimos que jamais foram quitados.

Com maquinário e prédios empenhados junto ao Banco do Nordeste, maior financiador da Potengy, os ex-gestores afirmam que não há possibilidade de reativação. “Não temos como competir com Mato Grosso, o maior produtor do país. Nos faltaram subsídios, ajuda governamental”, diz Rainel Pereira.

bate papo / Amaro Sales - presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte

Há possibilidade de retomada das lavouras de algodão no Estado?

Não acredito. Hoje existem cultivares que acontecem no sertão da Bahia, no Centro-Oeste, com um nível de aproveitamento em algodão hoje que a nossa não supera. Para se ter uma ideia, o algodão produzido no RN chega a 500/700 quilos por hectare. Lá no Centro-Oeste, dá 3,5 mil quilos por hectare. Então, eu não acredito nessa reestruturação deste setor da agricultura. 

Como o setor têxtil do RN mantém seus estoques de algodão?

O setor têxtil compra essa fibra de fora, importa. Hoje, a China chega a produzir uma boa quantidade desse algodão, junto com a Rússia. Hoje em dia, se consegue comprar com preços competitivos e as indústrias passam a usar esses produtos como a Coteminas, a Coats, a Vicunha e a própria Guararapes.

Há como medir a perda que a economia potiguar sofreu com o declínio da cotonicultura?

 Sim. Existia, na década de 1880, o império de algodão. Existiam os coronéis no Seridó que tinham um poderio econômico. Hoje, não existe mais isso.

A produção de algodão no RN ocupava 500 mil hectares na década de 70. Com a perda da produção, outras culturas surgiram. Elas foram suficientes para preencher o vazio do algodão?

Não temos nenhum estudo que comprove isso. Mas, na realidade, nós estamos no semiárido, que tem a dificuldade de chuvas. Na hora em que se tem isso, só se vai para a competição se tiver a parte irrigada. As culturas irrigadas predominaram com resultados. Mas em regiões de difícil acesso à água, como no Seridó, não foi viabilizada.

E para ocupar as áreas que estão inutilizadas em várias regiões do Estado, o que poderia ser feito?

A cadeia têxtil e de confecção foi ocupando esse vazio. Não dá para implementar outra cultura na área do algodão. Mas, dá para implementar outros negócios que vem com a cultura irrigada, com o polo boneleiro, com o pólo de confecção. Novas fronteiras se abriram e novos setores trarão essa substituição de cultura.

Fonte:|http://tribunadonorte.com.br/news.php?not_id=246050

.

.

.

.

.

.

.

.

Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - Clique Aqui

Exibições: 269

Responder esta

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço