São Paulo – O Brasil começou a exportar algodão para o Egito apenas em 2023, mas já tem no país do Norte da África um dos principais destinos da commodity. A importância do Egito é tão grande que o projeto setorial Cotton Brazil, uma parceria da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), incluiu o país como um dos mercados-alvo das suas ações de promoção do algodão brasileiro.
De acordo com o gestor do Cotton Brazil, Fernando Rati, a decisão da Abrapa em incluir o Egito como mercado prioritário se deve ao fato de que o país é um grande produtor e exportador de têxteis, mas não apenas por isso. O Egito carece de algodão para atender à demanda da sua indústria e para suprir desafios relacionados à sua produção.
“Referência global e tradicional na cotonicultura de algodão de alta qualidade e de fibra mais longa, o país enfrenta desafios quanto à fertilidade do solo, disponibilidade de água e produtividade. A solução encontrada pelos egípcios foi investir na mistura de fibras para alavancar sua operação industrial têxtil, o que explica o aumento na importação junto a países como o Brasil”, afirma Rati.
Diretor do escritório da Câmara de Comércio Árabe Brasileira no Cairo, Michael Gamal afirma que o Egito começou a importar algodão do Brasil apenas em 2023 após quase duas décadas de negociações. Entre os motivos que explicam a demora ele indica a complexidade para ser abrir um novo mercado, o que requer o estabelecimento de parcerias locais e de uma cadeia de suprimentos confiável. Além disso, afirma, o algodão brasileiro precisou atender as normas regulatórias do Egito, garantir padrões de qualidade e construir a confiança dos clientes locais.
“Superados esses obstáculos, esse esforço produziu rapidamente resultados positivos: nos primeiros oito meses da safra 2023/24, as importações egípcias de algodão brasileiro aumentaram 85 vezes em relação ao ano anterior. Embora o Egito seja um destino em crescimento, a estratégia geral de exportação do Brasil continua focada em seus mercados mais consolidados”, afirma Gamal.
Produtividade na lavoura
Há mais de 50 espécies conhecidas de plantas que produzem algodão, mas apenas duas em volume comercial: gossypium barbadense é o conhecido “algodão egípcio” ou pima, de fibras extralongas, utilizados na produção de têxteis de alta qualidade. Provém, contudo, de lavouras com uma produtividade menor, com plantas que demandam mais tempo de maturação. Corresponde a aproximadamente 3% da produção mundial.
Gossypium hirsutum, também chamado upland, produz fibras médias e longas, é utilizado na produção de roupas em grande volume e pode ter até duas safras por ano. Aproximadamente 95% da produção mundial de algodão para produção é procedente desta espécie. Outras duas espécies comerciais, gossypium herbaceum e gossypium arboreum são menos utilizadas.
Pesquisador da Unidade Algodão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), João Paulo Saraiva Morais afirma que a maior parte dos produtores de têxteis, no Brasil, no Egito ou outros locais utiliza “blends”, que são misturas de fibras em seus produtos. Ele explica que o Brasil é capaz de produzir o algodão egípcio, porém como a produtividade da lavoura desta cultura é menor, o produtor prefere utilizar o upland.
No Brasil, diz Morais, a cultura do algodão geralmente é intercalada com a da soja. Porém, enquanto a lavoura nacional da soja ocupa uma área de 44 milhões de hectares, a de algodão não passa de dois milhões de hectares. Mesmo assim, o País é o quarto maior produtor e o maior exportador mundial de algodão. “Poderia ser um produtor ainda maior se o uso de poliéster [fibra sintética derivada de petróleo] fosse menos difundido”, afirma.
A retomada nas plantações de algodão ocorreu a partir dos anos 2000. Antes, entre os anos 1980 e 1990, o campo foi atingido pela praga bicudo-do-algodoeiro, que afastou os produtores. A partir dos anos 2000, com o desenvolvimento de novas cultivares e técnicas, a produção voltou a crescer.
O crescimento da oferta – e da demanda – coloca o Brasil como um importante ator global na cadeia do algodão. Na temporada 2024/2025, diz Rati, o Egito produziu 93 mil toneladas de algodão e importou 218 mil toneladas. Ele indica que a previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, órgão que elabora estatísticas para o agronegócio, é que na safra 2025/2026 ano o Egito produzirá 54 mil toneladas de algodão e importará 239 mil toneladas.
Na temporada 2023/2024, o Brasil exportou 18 mil toneladas de algodão ao Egito, volume que cresceu para 78 mil na temporada seguinte, encerrada em julho deste ano. À frente do Egito, Vietnã, Paquistão, China, Bangladesh, Turquia, Indonésia e Índia são os principais compradores de algodão do Brasil.
“As previsões para essa próxima temporada apontam o Egito com menor produção de algodão e maiores patamares de importação. Se considerarmos que o Egito continuará a aumentar suas importações de algodão para os próximos anos, aliado ao market share do Brasil, que atualmente está em 36%, ainda existe um bom potencial de aumento”, afirma o gestor do projeto Cotton Brazil.
O algodão brasileiro não compete com o egípcio. Ao contrário, ele são complementares. Para que todo o potencial do algodão brasileiro seja explorado no Egito, avalia Gamal, as companhias brasileiras podem desenvolver estratégias de promoção do seu produto. Ele diz que o escritório da Câmara Árabe recebe muitos contatos de importadores locais em busca de informações sobre o algodão brasileiro, especialmente de empresários da província de El-Mahalla, localizada no Norte do Egito e um importante polo têxtil.
“Com produção em queda e demanda dos moinhos em alta, o Egito oferece um grande potencial de crescimento [como mercado de destino]. Os exportadores brasileiros devem se concentrar em missões comerciais, feiras e a promoção do algodão sustentável para garantir um presença no longo prazo”, afirma.
https://abrapa.com.br/2025/09/26/terra-do-algodao-egito-busca-forne...