Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Tradição da Renda de Bilro Não Sai de Moda na Ilha de Santa Catarina

Rendeiras inovam e criam peças exclusivas para preservar arte herdada das avós

Sirlene Belmiro, Edna Torres, Cleidi Santos, Ineida Moser, Lúcia Daniel, Ema Daniel e Daniela Sobierajski, tradição mantida na Ilha 

As mãos delicadas da pequena Carol seguram dois pares de bilros com habilidade e entrelaçam os fios para arrematar os derradeiros pontos, e um marcador de páginas de livro surge sobre a almofada colorida. Aos nove anos, a menina que também gosta de navegar pela internet, abre o sorriso e, sem olhar, continua imitando os gestos ritmados da avó paterna, que, numa espécie de transe, tece mais uma de suas criações.

Com simplicidade e destreza de quem faz renda desde a infância, Rose Maria de Andrade, 51, desenha as próprias peças, algumas exclusivas e sofisticadas, no ateliê improvisado que divide com a neta na sala de casa, em Santo Antônio de Lisboa. E tem clientela certa para xales, vestidos, coletes, blusas, saias, camisetas, cortinas, lençóis, colchas, bandejas e toalhas, dando um toque de modernidade aos mesmos pontos tecidos pelas tataravós, há mais 300 anos.

Atenta à evolução da moda, a artesã descobriu que inovar e diversificar a produção é questão de sobrevivência. Viu  no dia a dia que é preciso profissionalizar, agregar valor ao trabalho para atrair as jovens e preservar a tradição.  “A rendeira não pode produzir só joguinhos de toalhas e babadinhos, precisa criar”, costuma dizer a meninas e jovens interessadas em aprender.

Para seguir a tradição da família de rendeiras, que chega à quinta geração, Carol desenvolve também o dom de ensinar. “Quando casar, quero ter pelo menos uma filha para passar a ela os segredos da renda”, diz com entusiasmo a menina rendeira. Por enquanto, além de marcadores de livros, ela produz outras peças pequenas, como amarradores de cabelos e pulseiras.

Inspiração que vem do útero

O legado da rendeira Rose Maria é difundir a arte, ensinar para preservar a memória da família Andrade. “O dinheiro que entra é importante, mas faço por prazer”, diz com os olhos brilhando de alegria.

Aos cinco anos, ela teceu a primeira peça, sem bilros, almofada, ou alfinetes. “Como não podia mexer na renda da mamãe, brincava com dois pedacinhos de pau e fiapos de fibra de bananeira, fixados por espinhos de laranjeira. Era minha brincadeira preferida”, recorda.

Aos 51 anos, Rose desenvolveu a própria técnica, faz peças sem moldes, brinca com pontos e cores. Cada peça tem uma história, como o xale branco desenhado em sonho por uma velha rendeira. “Fiquei três dias matutando para interpretar, até acertar os pontos e o modelo”, diz.

Passatempo que dá lucro

Em terra de parteiras e benzedeiras, as artesãs conquistaran respeito graças ao trabalho que exige paciência, dedicação e criatividade. “Não é todo mundo que pega o segredo dos pontos, tem algumas que até aprendem, mas logo desistem”, diz a aposentada Doraci José Souto, 74 anos, que diariamente dedica parte das tardes para fazer renda.

A produção dela é toda repassada a uma atravessadora, que paga a metade do valor das peças, depois revendidas em lojas de artesanato da cidade. “O preço desestimula as moças, que hoje em dia preferem trabalhar no comércio”, constata.

Vizinha de Doraci, a comerciante Nivalda Santos, que há pouco mais de dois anos voltou a mexer com os bilros, segue caminho oposto. Cria as próprias peças, expostas numa das portas do mercadinho que administra com o marido, na Vargem Pequena, Norte da Ilha.

Nivalda também aprendeu na infância, mas foi com a família para Santos e acabou se esquecendo o ofício. “Quando voltei, reaprendi, e ganho um dinheirinho enquanto me divirto”, diz.

Criada na Bélgica e trazida por açorianos

A renda de bilro, segundo pesquisas da Fundação Cultural Franklin Cascaes, de Florianópolis, surgiu na Bélgica, no século 15. Logo, espalhou-se pela Europa, chegando primeiro à Itália e à França, antes de aportar em Portugal e no arquipélago dos Açores, principais centros de produção.

Em Florianópolis, os primeiros apetrechos e as primeiras peças vieram com os colonizadores açorianos, três séculos depois. Era a forma que as mulheres encontraram para ocupar o tempo, enquanto seus maridos permaneciam no mar, na pesca. Teciam para vender a mulheres de comerciantes e políticos, ou trocadas por alimentos no mercado, ofício até hoje passado de geração a geração.

Praticamente todos os tipos de renda têm nomes. Na Ilha, as mais conhecidas são “maria morena”, e a “tramóia”, ou renda de “sete pares”.

Fonte:|http://www.ndonline.com.br/florianopolis/noticias/25318-tradicao-da...

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