Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

"Acho melhor você enxugar o rosto e arrumar este cabelo." Oskar Metsavaht ri, levanta-se da mesa e segue para uma missão civilizatória no banheiro. A assessora Cristina Rio Branco havia resgatado seu cliente ali na praia de Ipanema. Primeiro um banho de mar antes da entrevista. Então, agora, era preciso zelar pela juba do leonino. "Não melhorou nada, não é?", pergunta ele, já de volta com o mesmo design.

Metsavaht sabe a resposta. Porque vai logo entregando que ele próprio tem cortado seu cabelo, hábito que não surpreende a repórter fotográfica, que, por sinal, diz fazer o mesmo. Ele se atracou com uma tesoura profissional nas últimas três vezes. "Dou uns talhos." Além disso, estava ali só com uma chuveirada para tirar o sal. Nada de xampu.

Tá bom, tá descabelado, mas bem compatível com o tema que iria permear todo o almoço no Fasano al Mare: "brazilian soul" e os valores da Osklen. Não vai dar para explicar tudo agora. Vamos sem pressa, de conceito em conceito. Metsavaht pode não ser conciso, mas tem muito clara toda a trajetória de sua marca de moda criada em 1989. Ou melhor, de "lifestyle". Mais bem definida ainda como "novo luxo": o simples e o sofisticado; a natureza e o urbano; "cool" sim, esnobe não; camiseta, jeans, tênis que harmonizam com um hotel cinco-estrelas não convencional. Captou?

O surfe faz parte do "expediente", do estilo de vida, da sua identidade. E da paisagem do Arpoador. Ele e os filhos Felipe e Thomas desfrutam do mar com suas pranchas de manhã ou ao entardecer. Metsavaht vê gente, gestos, cores, texturas, testa suas bermudas. O joalheiro Roberto Stern o viu em ação. E, encantado com o jeito como ele lida com o tempo, de tal forma que trabalho e lazer parecem ser a mesma coisa, o convidou em 2004 para conceber um relógio para a H.Stern. O projeto os tornou amigos. E agora sócios.

Acabam de montar uma empresa de óculos cujo nome Metsavaht não diz, porque é "provisório e cafona". "Mas o objetivo é desenhar, desenvolver, distribuir e licenciar as marcas Osklen e H.Stern. E depois mais uma terceira que podemos criar." A dupla já viajou para Milão em busca de contatos e fabricantes do setor, que trabalhem, por exemplo, para a italiana Luxottica.

A trilha sonora do restaurante é uma "bossa nova lounge". No ambiente desenhado por Philippe Starck, cortinas esvoaçantes de linho branco dividem o salão. Da mesa dá para ver a praia de Ipanema emoldurada pelas prateleiras do bar. Um espaço que traduz um Rio sutil, um "Brasil cool", como Metsavaht gosta. Como mora perto, é um cliente frequente. "Gosto de comida boa."

Metsavaht: na holding com a Alpargatas a "Osklen é a principal marca, é a que dá o perfil de novo luxo"

- Já acionou o delivery do Fasano?

- Aí já é demais, né? Em casa eu peço hambúrguer ou Pizza Hut, que meus filhos adoram.

É de imaginar que sua rotina mudou depois que acabou de receber a parcela correspondente a 30% da venda da Osklen para a Alpargatas (R$ 67,5 milhões) e mais 30% serão depositados em sua conta em até 15 meses. Mas ele garante que tudo está como antes e assim vai permanecer. Pretende continuar como diretor criativo da Osklen, mesmo quando não for majoritário. Mesmo depois de 2017, data obrigatória de sua permanência, como prevê o contrato. E vai atuar como consultor para as demais marcas que farão parte dessa nova empresa concebida para ser um guarda-chuva de grifes do "novo luxo".

"Faz só dois meses que temos um CEO conosco aqui no Rio, o Rogerio Shimizu, que dirigiu a Timberland. Agora vamos começar a integração com a Alpargatas. No momento, estamos nos preparando para mudar a fábrica de São Cristóvão para o Rio Comprido, para uma área maior." Sem risco, garante, de crescer sem qualidade, perdendo a "essência" ou popularizando a marca. "Nunca teria aceito um parceiro estratégico se não houvesse sinergia. Eu não precisava vender."

Esta é a década para a internacionalização da Osklen, planeja. A marca tem 66 lojas no Brasil e 9 no exterior - Nova York, Miami, Roma (2), Milão (2), Tóquio, Buenos Aires, Punta del Este -, além de estar em 370 showrooms internacionais. "Os primeiros dez anos foram para estabelecer o estilo. Os últimos dez para apurar o design de moda e tornar a marca nacional. Agora é o momento de expansão no exterior com mais lojas." Não seria então mais estratégico ter aceitado a proposta do grupo francês PPR (que passa a ser chamado de Kering neste mês)? Afinal, por que não entrar para um conglomerado que já tem grifes globais?

Metsavaht explica que, na lógica do grupo PPR, a hierarquia das marcas é estabelecida pelo volume de vendas. No primeiro degrau estaria a Gucci. Depois viria Yves Saint Laurent, Bottega Veneta, Balenciaga. No terceiro estágio ficariam Stella McCartney e Alexandre McQueen, por exemplo. E seria nesse patamar que a Osklen entraria. "Seria muito bom ficar ao lado dessas marcas. Mas, ao mesmo tempo, se houvesse a oportunidade de uma loja na Saint Honoré, por exemplo, ia demorar para chegar a minha vez."

De qualquer forma, o processo de negociação com o conglomerado francês foi sua "tese de doutorado em Harvard", como define. A apresentação foi há três anos no mesmo Fasano. "Estava todo mundo, o CEO de 'lifestyle' e o de luxo, diretores e o Pinault [François-Henri, CEO do grupo], que ficou meu amigo depois. Falei das oportunidades e da minha visão para a Osklen, seu 'lifestyle' genuíno, design de moda inovador, acabamento de luxo, linguagem estética universal e o viés sustentável. No fim, Robert Polet [CEO da Gucci] aplaudiu e disse que a Osklen representava o futuro." Foi a consagração, admite. "Nesses 20 anos, muitas vezes eu me perguntava se estava sendo bobo, idealista, porque todos os modelos de negócio de moda eram diferentes do meu. Quando você tem uma visão e traça um plano, é uma tese. Agora, quando um grupo como esse te analisa e te dá nota dez, você prova. Aquilo me deu uma sensação de prazer, de sucesso, de convicção de estar no caminho certo."

O sócio escolhido, no entanto, foi a Alpargatas. Porque, reconhece, na nova holding constituída pela companhia a "Osklen é a principal marca, é a que dá o perfil de novo luxo" e ele está "encabeçando um projeto novo". Para Metsavaht, o negócio de moda ideal se dá quando o diretor criativo desenha a estratégia com o executivo. O administrativo e o financeiro precisam compartilhar da visão, do estilo, da proposta para dar certo. "Esse é um tipo de negócio em que a criatividade é o grande gerador de valor, e isso não funciona sem uma gestão sintonizada de fornecedores, logística de distribuição, vendas etc."

Ele vai participar da escolha das marcas que vão ser incorporadas na holding, contribuir no "branding" e levar práticas de sustentabilidade estabelecidas pelo Instituto E, criado por ele. "A Alpargatas é uma empresa brasileira de sucesso que fez as Havaianas serem desejadas no mundo todo. Ela está bem estabelecida na Europa e nos Estados Unidos, que são os lugares onde vamos abrir lojas próprias e entrar nas lojas de departamentos."

O empresário no Arpoador: "Defendo o desenvolvimento sustentável, mas não gosto de nhenhenhém"

É o terceiro garçom que passa e cumprimenta Metsavaht. Melhor seria pedir, então, não é? "Meu prato preferido aqui é o ossobuco, meio gorduroso e pesado para a noite, mas dá para o dia. Foi meu pai que me ensinou a comer." Uau! Vamos encarar então essa sustança milanesa para ajudar no trabalho da fotógrafa, que está de dieta - é mais educado ela fotografar o prato da repórter do que o do entrevistado. Para dar início aos trabalhos, Metsavaht pede um carpaccio de atum.

Ele não se preocupa com peso, evidente. Como médico fisiatra, desenvolveu com seu "personal trainer" uma sequência de exercícios que pratica toda manhã por duas horas. É uma combinação de Gyrotonic, posturas da ioga e de "sling" - método alemão que combina fisioterapia, reabilitação e fortalecimento muscular. Bom, fora o surfe, o snowboard em Snowmass no inverno americano, e por aí vai. "Sou esportista e médico. Conheço meu corpo, sei o que preciso para enfrentar as próximas décadas. Também conheço o valor nutritivo dos alimentos, então se vou de 'junk food' um dia, equilibro depois." Veja bem, o ossobuco do atual chef Paolo Lavezzini não entra na categoria "junk". E, com tanto trabalho corporal, logo vai "desencarnar".

A voz de Maria Creusa cantando "Eu Sei Que Vou Te Amar" traz um pouco de nostalgia para o ambiente. Evoca um Brasil que existia lá fora por meio da música. Hoje, acredita Metsavaht, os turistas já passaram daquela fase do imaginário tropical. "Eles chegam aqui em busca do nosso jeito de ser, o que chamo de 'brazilian soul'. É esse intangível que é belo, é supercontemporâneo. Mas não se sustenta mais só em fitinhas do Bonfim e caipirinhas. Não podemos perder essa oportunidade e frustrar a expectativa do mundo com produtos e serviços sem valor agregado."

Ele diz que enxergou o interesse internacional por este estilo de vida brasileiro ainda nos anos 90. As camisetas, diz, são seus manifestos. E em 1995 lançou uma com a frase "Cool and Brazilian". A assessora brinca. "O 'and' era quase um 'but', né?" Metsavaht ri. "É, isso mesmo. Mas justamente naquela época começava a mudar a percepção do país. Havia um desejo lá fora pelo Brasil e uma vontade nossa de nos expressar de uma forma diferente. Seu eu quisesse só ganhar dinheiro teria expandido meu publico com T-shirts. Mas eu acredito na ousadia, na criatividade."

Valor agregado para Metsavaht é o desenvolvimento sustentável, que, acredita, deveria ser defendido como uma política de Estado. "Não ficaríamos como eternos exportadores de commodities nem correríamos o risco da desindustrialização. Temos um patrimônio natural que todo mundo quer. Precisamos explorar isso de forma que o país cresça, que o social seja levado em conta e nos diferencie no mercado internacional."

O discurso o aproxima da ex-senadora Marina Silva. Metsavaht teria aderido ao Movimento Rede? "Não a conheço, não tive oportunidade ainda. Defendo o desenvolvimento sustentável, mas não gosto de nhenhenhém. Não gosto de quem coloca o dedo na sua cara. Não dá mais para ficar só no discurso radical da preservação."

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