Dois estados indianos enfrentam atualmente a primeira grande praga desde que o país adotou o algodão geneticamente modificado em 2002, suscitando preocupações sobre a vulnerabilidade das sementes produzidas em laboratório, que estão na origem da maior parte do algodão cultivado na Índia.
Os danos causados pelo ataque da mosca-branca na variedade de algodão Bt nos estados de Punjab e Haryana são particularmente extensos e estarão na origem de vários suicídios de agricultores, de acordo com autoridades e especialistas locais.
A perda de colheitas globais na Índia deverá ser baixa, uma vez que estes estados não são os principais centros produtores nacionais, mas o aparecimento destas pragas fez retomar o debate sobre o uso de produtos transgénicos.
O algodão Bt foi adulterado por cientistas da Monsanto, produzindo o seu próprio inseticida, capaz de aniquilar pragas, como lagartas. Porém, os dois últimos anos de seca têm fomentado a disseminação da mosca-branca, à qual a estirpe não tem qualquer resistência. A praga ataca as folhas da planta de algodão, absorvendo os seus fluidos.
«A tecnologia Bt é eficaz apenas face a determinados tipos de lagartas, que são responsáveis pela perda massiva de culturas e prejuízos económicos avultados para a indústria do algodão», revelou um porta-voz do Mahyco Monsanto Biotech (India) Pvt. Ltd.
A joint-venture entre a indiana Mahyco e uma unidade local da Monsanto sublicenciou a produção de algodão Bt a 28 empresas de sementes, tendo iniciado este processo em 2002. «Atualmente, não existem soluções de biotecnologia agrícola aprovadas que permitam combater a praga de moscas-brancas. A solução recomendada para os agricultores é a pulverização de pesticidas aprovados».
As sementes Bt são mais dispendiosas do que as estirpes de algodão mais maduras e devem ser adquiridas a cada ano pelos agricultores. As empresas que comercializam algodão geneticamente modificado afirmam que os produtores são beneficiados pela aquisição desta variedade de algodão, auferindo rendimentos mais elevados e evitando despesas adicionais com pesticidas, mas alguns grupos de agricultores revelam-se preocupados com a crescente dependência face a estas novas espécies.
O sindicato dos agricultores em parceria com o partido do governo, encabeçado pelo primeiro-ministro Narendra Modi, está a intensificar a sua oposição. Esta fação pretende a proibição do algodão Bt e bloqueio à introdução de culturas geneticamente modificadas atualmente em desenvolvimento. «Temos alertado o governo para a necessidade de aplicação de testes em sementes geneticamente modificadas antes da sua disponibilização no mercado», refere Mohini Mohan Mishra, secretário-geral do Sindicato de Agricultores Indianos.
Uma equipa constituída por cientistas e representantes do governo visitou os estados de Punjab e Haryana, tendo em vista a prestação de auxílio e contenção de danos causados pela praga de moscas-brancas e não existem relatos da ocorrência de surtos noutras zonas do país, indicou um representante do Ministério da Agricultura.
Aumento do número de suicídios
O governo de Punjab já destinou 6,4 mil milhões de rupias (cerca de 86,9 milhões de euros) para compensar os prejuízos da colheita danos e um funcionário do Ministério da Agricultura de Haryana afirmou que o Estado está também a considerar a atribuição de compensações. «Existem relatos do ataque da praga em algumas áreas de Punjab e Haryana, onde cerca de uma dúzia de agricultores se suicidaram», confidenciou um funcionário do estado de Punjabi, sob condição de anonimato.
O impacto da infestação sobre a produção nacional será pouco significativo, mas os especialistas consideram que os danos locais serão significativos. «Se o número de insetos é de oito a dez por folha, a praga superou o limiar de dano económico», considera Dalip Monga, cientista do Instituto Central de Pesquisa do Algodão da Índia. «Temos observado 15 a 20 insetos por folha na maior parte dos locais, podendo alcançar os 30 a 40 insetos por folha», revela.
A produção nacional poderá cair 1,5% este ano, face aos 37,7 milhões de fardos (um fardo equivale a 170 quilos) somados nos últimos 12 meses até setembro, revelou Dhiren Sheth, diretor da Associação de Algodão da Índia.
A Índia produz 12 milhões de hectares desta fibra e quase 95% do algodão produzido é geneticamente modificado. Em Punjab, a cultura de algodão totaliza 450.000 hectares, dos quais 40% se encontram suscetíveis ao ataque de pragas, alertou um representante do governo. «Pulverizamos diferentes tipos de pesticidas, mas nenhum deles funcionou», afirmou Ashok Dhaka, um produtor de algodão do Punjab.
Praga arrasa algodão indiano
por Romildo de Paula Leite
17 Out, 2015
Dois estados indianos enfrentam atualmente a primeira grande praga desde que o país adotou o algodão geneticamente modificado em 2002, suscitando preocupações sobre a vulnerabilidade das sementes produzidas em laboratório, que estão na origem da maior parte do algodão cultivado na Índia.
Os danos causados pelo ataque da mosca-branca na variedade de algodão Bt nos estados de Punjab e Haryana são particularmente extensos e estarão na origem de vários suicídios de agricultores, de acordo com autoridades e especialistas locais.
A perda de colheitas globais na Índia deverá ser baixa, uma vez que estes estados não são os principais centros produtores nacionais, mas o aparecimento destas pragas fez retomar o debate sobre o uso de produtos transgénicos.
O algodão Bt foi adulterado por cientistas da Monsanto, produzindo o seu próprio inseticida, capaz de aniquilar pragas, como lagartas. Porém, os dois últimos anos de seca têm fomentado a disseminação da mosca-branca, à qual a estirpe não tem qualquer resistência. A praga ataca as folhas da planta de algodão, absorvendo os seus fluidos.
«A tecnologia Bt é eficaz apenas face a determinados tipos de lagartas, que são responsáveis pela perda massiva de culturas e prejuízos económicos avultados para a indústria do algodão», revelou um porta-voz do Mahyco Monsanto Biotech (India) Pvt. Ltd.
A joint-venture entre a indiana Mahyco e uma unidade local da Monsanto sublicenciou a produção de algodão Bt a 28 empresas de sementes, tendo iniciado este processo em 2002. «Atualmente, não existem soluções de biotecnologia agrícola aprovadas que permitam combater a praga de moscas-brancas. A solução recomendada para os agricultores é a pulverização de pesticidas aprovados».
As sementes Bt são mais dispendiosas do que as estirpes de algodão mais maduras e devem ser adquiridas a cada ano pelos agricultores. As empresas que comercializam algodão geneticamente modificado afirmam que os produtores são beneficiados pela aquisição desta variedade de algodão, auferindo rendimentos mais elevados e evitando despesas adicionais com pesticidas, mas alguns grupos de agricultores revelam-se preocupados com a crescente dependência face a estas novas espécies.
O sindicato dos agricultores em parceria com o partido do governo, encabeçado pelo primeiro-ministro Narendra Modi, está a intensificar a sua oposição. Esta fação pretende a proibição do algodão Bt e bloqueio à introdução de culturas geneticamente modificadas atualmente em desenvolvimento. «Temos alertado o governo para a necessidade de aplicação de testes em sementes geneticamente modificadas antes da sua disponibilização no mercado», refere Mohini Mohan Mishra, secretário-geral do Sindicato de Agricultores Indianos.
Uma equipa constituída por cientistas e representantes do governo visitou os estados de Punjab e Haryana, tendo em vista a prestação de auxílio e contenção de danos causados pela praga de moscas-brancas e não existem relatos da ocorrência de surtos noutras zonas do país, indicou um representante do Ministério da Agricultura.
Aumento do número de suicídios
O governo de Punjab já destinou 6,4 mil milhões de rupias (cerca de 86,9 milhões de euros) para compensar os prejuízos da colheita danos e um funcionário do Ministério da Agricultura de Haryana afirmou que o Estado está também a considerar a atribuição de compensações. «Existem relatos do ataque da praga em algumas áreas de Punjab e Haryana, onde cerca de uma dúzia de agricultores se suicidaram», confidenciou um funcionário do estado de Punjabi, sob condição de anonimato.
O impacto da infestação sobre a produção nacional será pouco significativo, mas os especialistas consideram que os danos locais serão significativos. «Se o número de insetos é de oito a dez por folha, a praga superou o limiar de dano económico», considera Dalip Monga, cientista do Instituto Central de Pesquisa do Algodão da Índia. «Temos observado 15 a 20 insetos por folha na maior parte dos locais, podendo alcançar os 30 a 40 insetos por folha», revela.
A produção nacional poderá cair 1,5% este ano, face aos 37,7 milhões de fardos (um fardo equivale a 170 quilos) somados nos últimos 12 meses até setembro, revelou Dhiren Sheth, diretor da Associação de Algodão da Índia.
A Índia produz 12 milhões de hectares desta fibra e quase 95% do algodão produzido é geneticamente modificado. Em Punjab, a cultura de algodão totaliza 450.000 hectares, dos quais 40% se encontram suscetíveis ao ataque de pragas, alertou um representante do governo. «Pulverizamos diferentes tipos de pesticidas, mas nenhum deles funcionou», afirmou Ashok Dhaka, um produtor de algodão do Punjab.
http://www.portugaltextil.com/peste-arrasa-algodao-indiano/