Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A classe que ganha pouco, se endivida, mas se diverte

Como a classe C, que empurrou a economia brasileira para frente na última década, vem lidando com o dinheiro e as dívidas

Michele Marinho e a filha Lívia. A vida melhorou - e as dívidas apareceram (Foto: Rafael Ciscati/ Época)

Gilmar de Campos, de 28 anos, morador da Vila Brasilândia (periferia de SP), curte funk ostentação. Sua rotina parece ter saído das letras de Mc Guimê – ícone do ritmo. No guarda-roupa tem vários “kits”, expressão que define os itens de grife do vestuário. Cordão de prata, relógios, tênis Mizuno, calças e óculos da Oakley, jaquetas Hang Loose. “Se não for de marca, pra mim não tem valor”, afirma Campos.

A vida da Michele Marinho, de 32 anos, e de sua filha Lívia, de seis, melhorou nos últimos anos. A rotina da família mudou e elas passaram a gastar mais. “Fui promovida e tive um aumento de salário. A casa onde moramos também não é a mesma, agora é maior”, diz. Passeios aos finais de semana tornaram-se lei: entre os destinos preferidos das moradoras do bairro pobre de Heliópolis (SP), estão shoppings, parques de diversão e refeições fora de casa.

Lívia Bastos, de 24 anos, é uma jovem muito vaidosa. Gosta de andar bem vestida e ter o que está na moda e não perde uma promoção. Entre as comprinhas básicas estão produtos de maquiagem, beleza, roupas, sapatos e acessórios. “Eu comprava uma roupa nova para cada balada. Não queria repetir roupa nem sapato. Para mim, minhas amigas não repetiam”, afirma. O que as histórias desses jovens têm em comum e por que merecem atenção?

Perfis de comportamento como o de Campos, Michele e Lívia já representam a maior parte da população brasileira e foram responsáveis por empurrar a economia do país para frente ao longo da última década. Foi baseado nesse aumento da renda, da oferta de recursos e dos gastos dessas famílias que o país cresceu. Eles formam a classe C, a faixa de renda média e mais numerosa no país. São 108 milhões de cidadãos que gastaram mais de R$ 1,17 trilhão em 2013. A renda per capita dessas famílias varia de R$ 320 a R$ 1.120. O acesso às modalidades de financiamento foi ampliado e elas já movimentam 58% do crédito no Brasil. Os aumentos do salário mínimo e da geração de empregos de até dois salários mínimos (foram 22 milhões nos últimos dez anos) explicam porque muitos cidadãos saíram da condição de pobreza e engrossaram a base da nossa pirâmide social. Mesmo assim o que também se observa nas famílias de Campos, Michele e Lívia é a vulnerabilidade. Em geral, eles estão na economia informal; seus salários são baixos; não podem pagar por serviços privados como de educação e saúde e, portanto, dependem totalmente dos serviços públicos.

Estas famílias estão aprendendo aos poucos a lidar com sua nova condição – que trouxe coisas boas e ruins.  Uma das marcas deixadas é a das dívidas. Em maio, o número de inadimplentes cresceu quase 10%, segundo dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). A classe C responde por quase metade disso. O grande vilão do endividamento não é o consumo, nem o desejo de comprar dessas famílias ou a abundância de crédito, mas a falta de educação financeira. Para reverter esse quadro, especialistas apostam na educação financeira em escolas, empresas e espaços públicos. Aulas, histórias e vídeos podem ser ferramentas poderosas para mostrar a crianças, jovens e adultos como administrar o dinheiro, o quanto podem gastar e como poupar. É um aprendizado que leva tempo, é muito individual e particular de cada um. Saber o que pensam, como vivem e, principalmente, como estão lidando com próprio dinheiro – e as dívidas - é fundamental para entender o Brasil e os próximos passos que teremos que dar se quisermos crescer economicamente. Das experiências de Campos, Michele e Lívia podem sair lições valiosas para todas as classes.

http://epoca.globo.com/vida/noticia/2014/07/classe-que-ganha-pouco-...

GRAZIELE OLIVEIRA, COM RAFAEL CISCATI

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