Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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'A fantasia não está na moda, e sim o pé no chão'

Enquanto grifes tentam se adequar a desfiles mais comerciais, Raquel Davidowicz diz que sempre acreditou na moda luxuosa e de fácil identificação.

Raquel Davidowicz, estilista da marca UMA

Raquel Davidowicz, estilista da marca UMA (Divulgação)

Conhecida por criar roupas que traduzem o conceito do “esporte fino”, a estilista Raquel Davidowicz gerencia a marca UMA e mantém, há 17 anos, uma identidade que ela chama de DNA da loja. Seu principal objetivo era criar um estilo prático, clean e confortável, com muita alfaiataria e tecidos finos, para se adequar às necessidades de suas consumidoras, as conhecidas mulheres maduras e flexíveis, que se dividem entre casa, vida social e empregos de chefia.

Desde 2003, a UMA apresenta sua coleção no SPFW, e Raquel já defendia na época que as roupas da passarela não deveriam parecer uma fantasia, mas sim reais o suficiente para sair do desfile e ir direto para o guarda-roupa da consumidora. “Aguentei muita crítica por isso”, diz a estilista, que apresenta nesta sexta-feira sua nova coleção na semana de moda paulistana. Agora, com a crise financeira que gerou a tendência de moda mastigada, a empresária sai à frente de outras marcas, que ainda passam por fase de adaptação. 

Em entrevista concedida para o site de VEJA, Raquel fala sobre a cultura brasileira de valorizar mais o produto estrangeiro do que o nacional, e também ressalta a dificuldade econômica de fazer moda no Brasil, o que a levou a terceirizar parte da coleção em outros países que apresentam custo de produção mais competitivo.

O que podemos esperar da UMA para esta edição da SPFW? Vamos apresentar uma coleção leve, voltada para a arte brasileira, com tecidos bem trabalhados. Teremos muitas colagens, pintura, aplicação. Até porque o calendário antecipado da semana fez com que faltassem tecidos, então tivemos que pensar rápido e desenvolver coisas especiais. Misturamos diferentes materiais em colagens, por exemplo, com neoprene, seda e chiffon.

O estilo da UMA sempre foi uma marca mais centrada e séria. Esse conceito te ajudou, agora que os desfiles estão menos espetaculares e mais comerciais? Desde o principio da UMA eu tenho esse raciocínio de que a roupa que eu desfilo é a roupa que eu vendo. Aguentei muita crítica por isso. Ouvi pessoas me falando que o que eu fazia parecia um desfile de showroom. Todos sempre esperavam um desfile como se fosse um espetáculo. Mas de um tempo pra cá, com a crise, todos se voltaram para ter uma roupa que agrade quem quer comprar. Agrade o consumidor, e não o assuste. Assim como tudo na vida, hoje as pessoas buscam identificação, dinamismo. A fantasia não está na moda, e sim o pé no chão.

Por que você já tinha esse raciocínio? Sempre achei ruim inventar roupas que não vão existir na realidade. Até porque este é o nicho de mercado que eu trabalho. Meu alvo é uma consumidora mais intelectual, que trabalha, que tem um perfil de consumidora e entende o que quero dizer com minha marca sem precisar de um show para isso.

Acredita que saiu na frente de outros estilistas por ser mais pé no chão? Não posso dizer que saio na frente, mas o importante para uma marca é manter seu DNA, eu fico feliz de estar na crista da onda, como modo de dizer. Manter a personalidade de uma marca é difícil. Temos que passar por muitas ondas e sobreviver a elas. E para manter um estilo você tem que segurar e se manter bem em todas as tendências.

O que acha do crescimento das redes de lojas de departamento e suas parcerias com estilistas famosos? Essas parcerias mostram que até o fast fashion teve que se adaptar. O consumidor brasileiro quer algo diferenciado, mesmo quem consome em loja de departamento. Até o mercado de massa quer ter acesso a algo de design. 

Quais têm sido os esforços da marca para atrair um maior número de pessoas nos dois últimos anos? Em primeiro lugar, tentamos manter um custo da roupa que seja viável. Um custo real. Também ampliei nossas linhas para abranger outros nichos de mercado, como uma linha mais casual e uma linha festa. Estamos trabalhando o conceito da grife para pegar a consumidora em vários momentos da vida dela. No entanto, mais importante que tudo é manter realmente a personalidade da marca e ser reconhecida como algo diferente. Não é barata tipo uma loja de departamento, mas é consumível.

Quanto ainda somos influenciados pelas semanas gringas? Eu gosto muito dos desfiles de Paris, que fazem mais meu estilo. As marcas têm um DNA característico. Cada um que desfila você bate o olho e sabe quem fez. Mas eu evito ver muito justamente para não me influenciar

O valor cobrado pelas grifes nacionais já está muito próximo das marcas internacionais, que muitas vezes são até mais famosas e valorizadas. Como isso atinge a UMA? O brasileiro sempre valorizou mais o estrangeiro, o importado em geral. O que mais nos afetou foi realmente essa aproximação de custos. O valor Brasil para moda é inviável na hora de competir. Os impostos aqui são altíssimos para tudo, desde matéria-prima até funcionários. Nossos custos são quase iguais aos de uma marca de luxo lá de fora, são tão altos que chegou a esse cúmulo de ficar muito próximo. Então, claro que essa cliente faz essa comparação. La fora é mais glamouroso, tem esse imaginário. Brasileiro não é muito nacionalista e patriota, vem de uma cultura em que o estrangeiro é melhor. É realmente um problema.

Como esse problema pode ser solucionado? Precisa haver mais incentivos no Brasil. Incentivo para a indústria e diminuição de impostos. Só assim a moda vai conseguir crescer no país. E principalmente a indústria têxtil, que também está sofrendo horrores com a falta de apoio, o governo brasileiro não olha para isso. Sem incentivo, nossa indústria fica muito cara, assim se torna mais fácil desenvolver um produto na China do que terceirizar no Brasil. Por essa falha, o país deixa de crescer nesta área.

Você produz peças fora do Brasil? Produzo alguma coisa fora do Brasil, não muita. Mas hoje em dia nem são exigidas grandes quantidades para isso. Está ficando cada vez mais fácil. E isso pode matar a indústria local. Com o tempo, as marcas vão terceirizar mais a produção fora daqui. No nosso caso, ainda produzimos pouquíssima coisa fora, 5% no total, mas estamos realmente cogitando, para as próximas coleções, analisar estes custos e planejar melhor essa possibilidade.

http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/%E2%80%9Ca-fantasia-n...

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Comentário de Romildo de Paula Leite em 22 março 2013 às 9:31

Agora, com a crise financeira que gerou a tendência de moda mastigada, a empresária sai à frente de outras marcas, que ainda passam por fase de adaptação.

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