Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A mobilização congressual e o ex-ministro em atividade

Me recordo de que anos atrás, quando um jogador de futebol apresentava um desempenho pífio durante sucessivas temporadas, alguns comentaristas costumavam afirmar que se tratava de um ex-jogador em atividade. Dentro das quatro linhas, um futebolista em má forma física pode paralisar um contra-ataque potencialmente fatal para a equipe adversária. Fora delas, a inaptidão profissional pode ter consequências bem mais danosas, por vezes trágicas. 

Na seara diplomática, em razão da constância do chanceler em marcar gols contra a própria esquadra, o Brasil passou a ostentar um legítimo ex-ministro em atividade. O país que, no passado, teve à frente do Itamaraty eminentes figuras como Osvaldo Aranha, Afonso Arinos, Francisco Rezek, Luiz Felipe Lampreia e Celso Lafer, presentemente tem o voluntarista Ernesto Araújo. Em um contexto de normalidade, isso seria motivo de vergonha para o povo brasileiro. Na conjuntura atual, determinada pela pandemia da Covid-19, é causa de desolação. Ernesto que com muito esforço tocaria berimbau, foi alçado pelo presidente Bolsonaro ao posto de maestro da Casa do barão do Rio Branco. Seguindo as diretrizes estabelecidas por Ernesto, o Ministério das Relações Exteriores, outrora uma instituição reconhecida pela excelência de seus serviços, se tornou mera caixa de ressonância ideológica da ultradireita, que em seus devaneios combate ferozmente uma suposta ameaça globalista. 

Ao modelar a estratégia internacional brasileira por uma ideologia delirante e anacrônica, o ex-ministro em atividade atentou renitentemente contra os interesses do Brasil. Suas desarrazoadas manifestações, algumas das quais eivadas de xenofobia, combateram o multilateralismo e semearam discórdias com a China, nossa maior parceira comercial. A diplomacia brasileira sob a liderança de Ernesto é vista com antipatia ou desconfiança pelos países parceiros do Mercosul, pela União Europeia de Merkel e Macron, pelos EUA de Biden e, sobretudo, pela China, de Xi Jinping. É uma obviedade o fato de que o Brasil é percebido como um autêntico Estado pária pela comunidade internacional. Ernesto tem ciência de sua inépcia como regente, mas não solta a batuta. 

O Brasil ultrapassou a estarrecedora marca dos 310.000 óbitos (28/03/2021) decorrentes da Covid-19 e se consolidou como o país no qual a disseminação do vírus avança com mais velocidade em todo o mundo. É consenso entre distintos especialistas em saúde e economistas que o controle da pandemia e a ulterior perspectiva de retomada econômica estão atrelados à vacinação em massa. A premência da aquisição de vacinas pelo Brasil é inequívoca. Porém, apesar desse diagnóstico, o país permanece na posição de retardatário na corrida mundial pela imunização. 

Sabe-se que, até o presente momento, as vacinas autorizadas pela Anvisa para aplicação no Brasil são totalmente produzidas no exterior ou, caso sejam fabricadas em território nacional, pelo Instituto Butantan ou pela Fiocruz, demandam a importação de seu insumo, conhecido como ingrediente farmacêutico ativo (IFA). Em ambos os casos, como facilmente se pode depreender, a vacinação da sociedade brasileira está condicionada à celebração de contratos com países estrangeiros. Cabe esclarecer que Índia e China são os maiores produtores mundiais da substância mencionada. 

Em virtude da atual carência de respeitabilidade do Itamaraty, sobretudo perante autoridades chinesas, outras instituições, notadamente a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, assumiram a responsabilidade de negociar com outros países a obtenção de vacinas pelo Brasil. Pela câmara baixa, destacam-se os deputados Fausto Pinato (presidente das relevantes frentes parlamentares Brasil-China e do BRICS), Arthur Lira (presidente da Casa) e Aécio Neves (presidente da comissão de relações exteriores da Casa). Pela câmara alta, a interlocução diplomática em favor da vacinação é liderada pelos senadores Rodrigo Pacheco (presidente da Casa) e Kátia Abreu (presidente da comissão de relações exteriores da Casa). 

A louvável referida mobilização congressual jogou luzes sobre Ernesto Araújo, figura que renitentemente pretere o pragmatismo em favor de uma leitura ideológica da geopolítica global, estorvante do acesso brasileiro às vacinas. A destreza por ele demonstrada para fechar portas e dinamitar pontes certamente não é desejável a um chanceler. Quando o ex-ministro em atividade se tornará ex-ministro de fato? 

Rafael Gontijo de Andrade Brasil

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