Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Não é a nova classe C, mas a novíssima: e que através do consumo define seu espaço. Foto: Pinterest

 

 

A classe média brasileira mudou, e muito. Não é novidade para ninguém que, nos últimos dez anos, mais de 30 milhões de brasileiros ascenderam às classes médias (A, B e C) e que a C é hoje o maior mercado consumidor do país – responsável por 70% das contas de cartão de crédito, por 78% do que é comprado em supermercado e movimento R$ 273 milhões na internet por ano, também sendo o maior mercado online que o Brasil dispõe. 

 

(Para entender melhor quais são as classes sociais brasileiras - que estão se tornando cada vez mais complexas - e como elas se definem, vale a pena você conferir o novo critério da ABEP).

 

Dados esses números – obtidos ao longo do tempo com estabilização de preços, aumento do crédito, economia mais estável e com certo crescimento – são muitas as marcas que investem nesse consumidor ávido por provar quem ele é e a que veio. O consumo de moda é o maior responsável por essa identidade, então a moda está de olho nesse consumidor há tempos. As empresas nacionais de fast fashion crescem e se sofisticam a cada ano, com coleções de designers famosos e campanhas publicitárias de tirar o fôlego; do outro lado, marcas de fast fashion internacionais querem cada vez mais chegar ao Brasil.

 

Shoppings centers, os locais preferidos de consumo e lazer da classe C, também crescem aos montes em todos os lugares do Brasil, não só restritos, como antes, às principais capitais. Até o luxo se rende ao novo consumidor, criando formas de parcelamento que torna seus produtos muito mais acessíveis.

 

Tanto faz se a sua empresa tem como público ou não a classe C – é bem provável que ela compre seus produtos e você já tenha se preparado para atendê-la.

 

Porém, uma novíssima classe C cresce cada vez mais, e acreditamos que despontará em 2015. Ela vem da classe DE, chegando atrasada à festa do consumo. Mas chega. Podendo estudar mais que seus pais, ganhar melhores salários. Também é beneficiada pelo aumento do crédito e anos de estabilização da economia, o que torna o consumo muito mais fácil. E ela tem algumas particularidades que a outra classe C não tinha.

 

Uma novíssima classe C cresce cada vez mais, e acreditamos que despontará em 2015. Ela vem da classe DE, chegando atrasada à festa do consumo. Mas chega.

 

Primeiro, é grande a taxa de analfabetismo funcional. Saber outro idioma, como o inglês, também é para poucos – por isso as operadoras de TV por assinatura investem cada vez mais em conteúdo estrangeiro dublado, e não legendado. Ela se define através do consumo, que para ela é uma novidade: basta ver o sucesso que o rap e o funk ostentação têm provocado. Tem ainda outros padrões de beleza – a piriguete, de corpo escultural e “cheio” - cheio mesmo, bem mais encorpado que o "cheio de curvas" que as publicações e a publicidade de moda gosta de enfatizar, que vai no máximo até o tamanho 38 ou 40 -, traz novas ideias de elegância.

 

A novíssima classe média não se identifica com as classes médias estabelecidas.

 

 

Corpo e mente aqui inserem novos comportamentos chamando a atenção em lugares (shoppings centers) antes de domínio das classes AB e C. A novíssima classe C se comporta de maneira diferente e isso chama a atenção dos tradicionais frequentadores dos contemporâneos templos do consumo. As atividades do dia-a-dia fazem com que eles tenham de falar mais alto, se impor mais (visualmente, corporalmente, comportamentalmente) para serem notados, ouvidos. E muitos não tem acesso ao conhecimento de certas regras de etiqueta que as classes medias tradicionais, e mesmo a nova classe C, já estão habituadas.

 

Segundo o professor André Singer, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, neste artigo, não se trata exatamente uma nova classe média, mas sim um novo proletariado. O consumo aumenta, mas essa classe ainda vive sob as velhas dificuldades de andar na linha da pobreza – condições de trabalho nem sempre dignas, transporte, saúde e educação precários, violência e falta de infraestrutura nos locais onde moram. Ainda passam por diversas dificuldades e apuros, mas o consumo os colocou num novo lugar. 

 

Não se trata exatamente uma nova classe média, mas sim um novo proletariado.

 

Lugar nem sempre aprovado pelas classes superiores. Conflitos sociais recentes, como os chamados rolezinhos, deixaram esse abismo bem à mostra. O shopping, local de consumo seguro, comportado, com ar condicionado, foi invadido por pessoas que falam alto, fazem barulho, não se comportam como o ambiente “pede” (mas que, como qualquer outro cidadão, compram nele). Nós já falamos aqui nossa opinião sobre o fenômeno: trata-se de um mal-estar social entre as classes mais baixas e não somente a classe alta, mas também da classe média estabelecida. 

 

É como se a nova classe C (que acabou de ascender socialmente) mimetizasse muito rapidamente os valores das classes AB, e não conseguisse aceitar a diversidade que a novíssima classe C, com outro estilo de vida e comportamento social, trazem em sua emersão ao mundo do consumo. A antiga classe média não aceita bem essa realidade, porque antigos diferenciadores, como o nível de educação, não a distinguem mais (talvez todos se lembrem da professora universitária que ironizou o passageiro mal-vestido no aeroporto, supondo que ele viesse de uma classe mais baixa).

 

O mesmo artigo que citamos acima fala que “a mudança no padrão de consumo não significa alteração na hierarquia social, o que é vendido ainda é subproduto do modo de vida da classe média tradicional”. Veja as telenovelas, por exemplo: amplamente consumidas pela novíssima classe C – provavelmente em TVs grandes e de alta tecnologia -, elas pouco refletem essa mesma classe, quase não há pobres ou mesmo negros. O mesmo vale para os comerciais. A moda, então, se mantém ainda mais distante. Poucas são as marcas que ampliam sua comunicação para corpos e estilos de vida diferentes.

 

A mudança no padrão de consumo não significa alteração na hierarquia social, o que é vendido ainda é subproduto do modo de vida da classe média tradicional.

 

O fenômeno dos rolezinhos trouxe mais um dilema à tona: algumas marcas têm vergonha de admitir seus consumidores de classes.... O que muitas não percebem é que o luxo se tornou objeto das classes médias no Brasil, pois as mais altas cada vez mais viajam para comprar fora – estão sendo definidas novas faces do consumo de moda no Brasil às quais é importante estar atento. Talvez seja a hora de perder essa vergonha.

 

Pronto para investir na novíssima classe C? Respire fundo: na semana que vem, nós damos dicas de como adentrar nesse universo.

 

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