“A oportunidade de IA no Brasil é maior que o pré-sal”, afirma fundador da Semantix

Leonardo Santos retomou controle da primeira deep tech latino-americana listada na Nasdaq e promete crescimento de 10 vezes até 2030.

Leonardo Santos, fundador e CEO da Semantix. Imagem: divulgação

A trajetória da Semantix, primeira deep tech da América Latina listada na Nasdaq, é um reflexo das turbulências que o mercado de tecnologia enfrentou nos últimos anos. Em agosto de 2022, a empresa brasileira de inteligência artificial conseguiu um feito inédito na região: abrir capital na bolsa americana com valuation de US$ 1 bilhão.

Menos de três anos depois, o fundador e CEO da companhia, Leonardo Santos, tomou uma decisão rara no mundo empresarial: recomprou a própria empresa em meados de 2024 para retomar o controle operacional e reestabelecer o crescimento sustentável.

“Eu não conheci nenhum fundador que voltou quando tomei essa decisão”, conta Santos, referindo-se ao que chama de “Founder Mode” – termo que ganhou destaque quando fundadores de empresas como Airbnb e, mais recentemente, Nubank, retornaram à operação durante momentos de crise.

Do sonho americano à realidade do mercado

A mudança para os Estados Unidos em 2021 fazia parte do plano de Santos para listar a empresa e lidar com reguladores americanos. O IPO aconteceu em agosto de 2022, mas em um cenário econômico completamente diferente do planejado.

“Estourou a guerra na Ucrânia, os valuations de tecnologia foram derrubados. O mercado inteiro, não foi só a Semantix”, explica o executivo. A empresa, que havia sido projetada para crescer independentemente da geração de caixa, precisou se adaptar rapidamente às novas demandas do mercado.

Em 2023, seguindo a tendência global do setor de tecnologia, a Semantix teve que fazer layoffs para equilibrar custos operacionais e voltar a ser uma empresa que não queimasse caixa. “O mercado começou a cobrar geração de caixa e não mais crescer a qualquer custo”, observa Santos.

A decisão de voltar

O ponto de virada veio em meados de 2023, quando Santos decidiu retornar ao Brasil para conduzir pessoalmente a reestruturação da empresa. O processo de recompra foi finalizado em meados de 2024, e desde então a Semantix voltou a crescer de forma sustentável.

“A companhia volta a crescer. O crescimento mensal de receita recorrente, a gente está crescendo 20% no primeiro semestre”, revela o fundador, destacando que a empresa voltou a gerar caixa no final de 2024.

A motivação para a recompra, segundo Santos, vai além do aspecto financeiro. “Nosso propósito é impactar positivamente bilhões de vidas. Somos uma empresa brasileira que hoje impacta bilhões de transações mensais”, justifica.

Soberania tecnológica como missão

Um dos pontos centrais do discurso de Santos é a importância da soberania tecnológica brasileira no campo da inteligência artificial. “A gente não pode possuir data center apenas. A gente tem que exportar aplicações de inteligência, propriedade intelectual”, defende.

O executivo compara a situação atual com o agronegócio: “Fazer igual o agro hoje, nós somos vendedores de commodities. A IA pode mudar o jogo”. Para ele, a oportunidade de IA no Brasil “é maior do que o pré-sal”, estimando um potencial de 3 a 4 trilhões de dólares nos próximos cinco anos.

Como um dos fundadores da ABRIA (Associação Brasileira de Inteligência Artificial), Santos participou ativamente da criação do marco legal da IA no Brasil. “Como é que a gente protege o país, as leis, as regulamentações, para não trazer risco para empresas e cidadãos brasileiros?”, questiona.

Estratégia focada em aplicações verticais

Para os próximos anos, a Semantix aposta na estratégia de “AI as a Service”, desenvolvendo aplicações por verticais específicas como financeiro, saúde, telecom e varejo. A empresa também está investindo em governança de IA, um segmento que considera crítico para a nova economia.

“As empresas vão consumir IA através de serviços cada vez mais”, projeta Santos. A abordagem agnóstica da empresa, que não faz lock-in com fornecedores específicos, é vista como diferencial competitivo.

O plano ambicioso da Semantix é crescer 10 vezes até 2030, combinando crescimento orgânico com aquisições estratégicas. “A gente vai crescer não só de forma orgânica, mas temos uma agenda de crescimento inorgânico de empresas que complementam nosso core business”, anuncia o CEO.

Lições para o ecossistema

A experiência da Semantix oferece aprendizados importantes para outras empresas brasileiras que consideram a abertura de capital no exterior. Santos alerta sobre a necessidade de preparação para a volatilidade dos mercados.

“Se você pegar historicamente na B3, nunca teve tanto fechamento de capital quanto abertura. Por quê? O mercado não está benéfico para ser uma companhia pública”, pondera.

Para outros empreendedores, Santos recomenda cautela com investidores internacionais que podem não compreender as particularidades do mercado brasileiro, onde historicamente o custo de capital permanece em dois dígitos.

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