Economia é um fenômeno extremamente complexo. Inovações tecnológicas, que costumam ocorrer em ambientes mais dinâmicos, liberais e com respeito à propriedade privada, tendem a alterar comportamentos, geopolítica, enfim, tudo. A “destruição criadora” de que falava Schumpeter, e que produz efeitos não-intencionais que podem remodelar o mundo.
A pílula anticoncepcional, por exemplo, fez mais pela “libertação” da mulher do que décadas de pregação feminista. O Viagra fez mais pela “libertação” dos idosos do que qualquer livro de autoajuda. O capitalismo segue inovando sem um controle central, sem um design inteligente, e as pessoas precisam ir se adaptando.
É o caso da revolução energética americana. Quem diria que os Estados Unidos, o maior importador de combustíveis do mundo, um país dependente de energia e que já se meteu em muita guerra por isso, iria virar a mesa e se tornar um grande exportador?
Mas é exatamente o que está acontecendo, graças à descoberta do “shale gas” abundante em seu subsolo, e à tecnologia de “fracking”, que permitiu a extração do combustível preso nas rochas. Os preços do “ouro negro” desabaram por conta disso.
Uma reportagem do Valor hoje mostra como os países árabes estão tendo que rever seus investimentos e gastos devido a queda do petróleo. Isso pode significar uma compra menor de ativos estrangeiros pelos governos do Golfo Pérsico, o que poderá ter grandes consequências para o mercado global de ativos.
Os preços altos do petróleo ajudaram esses países a evitar os tipos de agitações que derrubaram regimes pela vizinhança. Muita coisa poderá mudar com essa queda do petróleo. Na América Latina, o chavismo foi o grande beneficiado da alta da commodity, e os americanos são seus principais clientes. Com a menor necessidade de compra, o que acontecerá com o regime de Maduro, que já tem produzido um grau de insatisfação generalizada?
Se por um lado a queda do petróleo coloca uma espada sobre a cabeça de muitos governantes, ela representa, por outro lado, um alento à economia mundial. Podemos pensar no petróleo como uma espécie de imposto, de transferência de recursos dos consumidores para regimes autoritários. Afinal, os principais exportadores estão reunidos no cartel da Opep e não são exatamente exemplos de democracias sólidas.
Se o Irã, a Arábia Saudita, a Nigéria, a Venezuela e a Rússia perdem, os que dependem da energia proveniente do combustível fóssil ganham com a redução de seu preço. Os efeitos disso superam e muito os aspectos econômicos. Há profundo impacto geopolítico, pois os Estados Unidos se tornam menos dependentes desses regimes corruptos, atrasados e opressores.
Já aqueles que aproveitaram a onda dos petrodólares, como destinatários desses recursos, terão que se acostumar com uma época de vacas mais magras. Tudo graças ao incrível avanço da produção de petróleo americana, que chegou a impressionantes 9 milhões de barris diários, a maior desde os anos 1980. O que só foi possível, por sua vez, pela revolução tecnológica, fruto do modelo capitalista.
Rodrigo Constantino
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O que só foi possível, por sua vez, pela revolução tecnológica, fruto do modelo capitalista.
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