Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Vedetes, chacretes e (pasme) piriguetes podem representar uma sensualidade brasileira

por excelência.

Chacrinha e suas chacretes: sensualidade à brasileira.

 

Se o programa do Chacrinha, da Rede Globo, fez sucesso na casa dos brasileiros nos anos 1970 e 1980 e ainda permeia o nosso imaginário, ao lado do icônico apresentador, as chacretes eram as estrelas do palco. As dançarinas, com maiôs minúsculos no estilo "asa delta" em voga na época, eram cheias de sorrisos e charme.

 

Algumas se tornaram famosas além do programa, como Rita Cadillac. Outras muitas - entre as 500 que já participaram, durante toda a existência do programa do Chacrinha - sumiram no anonimato.

 

Sensualidade e alegria típicas brasileiras, e... submissão? Qual é a imagem feminina que as chacretes passavam, e essa imagem ainda faz parte do nosso cotidiano?

 

Muito antes das chacretes, há outras "etes" que fizeram história também pelo mesmo tipo de sensualidade. As vedetes das décadas de 1940 e 1950 foram as pin-ups tupiniquins. Artistas, atrizes, performes, mulheres como Virginia Lane e Janete Jane, fizeram história entre a ousadia feminina e o mundo masculinizado, em que o corpo feminino é explorado.

 

Janette Jane: vedetes nossas pin-ups nos anos 1940 e 1950.

 

De outro lado, hoje temos outras mulheres que representam essa sensualidade abrasileirada: as piriguetes.

 

O termo periguete surgiu em Salvador, como derivado de "perigosa", entre camadas populares de jovens negros e mestiços, associada à cultura dos grupos de pagode da cidade. Segundo Clebemilton Gomes do Nascimento, autor do estudo de gênero Piriguetes em cena: uma leitura do corpo feminino a partir dos pago..., a piriguete é o oposto à mulher idealizada, de padrão burguês: a reclusa do lar, submissa ao homem, decente, mãe de família, para a qual a rua não é um lugar apropriado. A piriguete sai para a rua e vive sua própria vida, sai com vários homens, é quase ninfomaníaca. Há nessas músicas de pagode uma dicotomia: ou a mulher é uma coisa, ou outra.

 

As piriguetes surgiram na cultura jovem das periferias de Salvador e se espalharam pelo Brasil inteiro, se tornando um ícone entre todas as classes sociais.

 

A piriguete saiu de uma subcultura jovem e urbana para se popularizar entre jovens de todas as regiões do país e todas as classes sociais. Nascimento diz que:

 

Essa representação da mulher livre vem se abrindo para uma ambiguidade, deslocando-se do estereótipo forjado no contexto do pagode para outras estratégias de (auto)representação que passam a ser normatizadas pela mídia com a sua entrada nas telenovelas e revistas, evidenciando-se assim uma complexa rede de intersecções de gênero, raça/etnia, classe, geração e hibridismo cultural.

 

Com a mídia nos apresentando esse modelo de mulher, ela se tornou mais "palatável" para outros círculos sociais que não onde ela nasceu. A piriguete saiu de seu contexto baiano para entrar em outros, o que torna difuso o seu significado: mas então ela é uma mulher libertária e dona de si própria, ou apenas objeto de desejo dos homens, sempre disponível?

 

Telenovela da Rede Globo mostra os dois ícones: Elizabeth interpreta uma ex-chacrete, mãe da personagem de Tatá Werneck, uma piriguete típica. Foto: Contigo!

 

Mariana Gomes Caetano chamou a atenção da mídia há alguns meses quando foi aprovada no mestrado da UFF - Universidade Federal Fluminense apresentando uma tese sobre outro gênero musical com representação feminina duvidosa: o funk carioca. Caetano contesta a ideia de que novas funkeiras, cantando sobre o poder sexual da mulher - Valesca Popozuda à frente - sejam realmente uma nova ideia de feminismo ou apenas mais uma forma de dominação.

 

Sendo de uma forma ou outra, a representação piriguete já se espalhou, impregnada em formas de se vestir de uma população que dá grande importância para a sensualidade. Para se pensar em criar moda no Brasil, já ficou impossível ignorar essa forma de sensualidade - alegre e permissiva - que já vem desde os tempos de Chacrinha, ou melhor, desde os anos 1940.

 

Vivian Berto

leia o post no blog.

Tendere - Pesquisa de Tendências e Consultoria em Moda, Beleza e Design

www.tendere.com.br

Exibições: 914

Comentar

Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!

Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço