Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Dom Pedro II (esq.) e família: monarca se vestia como típico homem vitoriano, com casaca preta e cartola, e preferia passar imagem de "imperador-cidadão"

Kate Middleton, a Duquesa de Cambridge, pode até se achar na vanguarda por se vestir como uma típica moça britânica de classe média alta. Mas parecer uma "girl next door" não é exatamente uma ideia original. Nos idos do século XIX, Pedro de Alcântara (1825-1891), o Dom Pedro II, já gostava de se passar por cidadão comum, resistindo a adotar os trajes obrigatórios a reis e imperadores, mesmo em viagens internacionais em que representava o Brasil.

Ele se vestia como típico homem vitoriano, com a austeridade de uma casaca preta e de uma cartola. Preferia passar a imagem de "imperador-cidadão", no lugar de usar a roupa como ferramenta de poder. A maneira peculiar com que o monarca se apresentava é o ponto de partida do livro "Dom Pedro II e a Moda Masculina na Época Vitoriana", de Marcelo de Araujo.

Além de explorar nuances da personalidade do imperador, o livro se aprofunda na linguagem da vestimenta masculina e sua relação com as mudanças sociais na virada para o século XX. "Sempre me interessei pela história da indumentária do final do século XIX e início do XX", diz Araujo, filósofo, doutor pela Universidade de Konstanz (Alemanha) e professor das Universidades do Estado e Federal do Rio de Janeiro.

Foi pesquisando sobre a casa de alfaiataria inglesa Henry Poole que Araujo descobriu registros da passagem do imperador. "No final do século XIX, a Henry Poole foi eleita a alfaiataria oficial de Dom Pedro II. A casa ainda guarda os registros com as suas medidas", conta Araujo, que começou aí a se aprofundar no estudo da imagem do imperador. Em contato com a Henry Poole, o escritor descobriu uma encomenda de nove trajes, feita em 1871. Nenhum deles obedecia ao "dress code" de um monarca. "Eram roupas de um homem comum."

Dom Pedro II tinha reservas com a monarquia e vestia-se como um republicano. "Ao longo da vida, Dom Pedro deu mostras de nutrir profunda simpatia pelo regime republicano", conta o livro. Quando viajava, queria permanecer incógnito. Nos EUA, foi comparado a um homem de negócios, tal a despretensão dos trajes. Preferia se resguardar na companhia de livros e de revistas científicas a cumprir as obrigações como chefe de Estado.

"As festas e as ocasiões solenes o entediavam. Ele evitou o papel de padrão da moda e do bom gosto que os monarcas europeus sempre assumiram, mas isso em virtude do seu desinteresse pessoal diante de pompas e frivolidades", diz Araujo. Dom Pedro ganhou fama de excêntrico aos olhos dos ingleses por conta da "predisposição para evitar protocolos, solenidades oficiais e, sobretudo, para ignorar as regras que então regulavam, ainda que de moda difuso, a utilização de casacas, sobrecasacas, gravatas e demais acessórios da burguesia."

Em cartas trocadas pela rainha Vitória e sua filha, há passagens que comentam "de modo áspero" as gafes cometidas por Dom Pedro no quesito guarda-roupa. "Ele não usava gravatas brancas à noite, como pedia o costume, e preferia a sobrecasaca, no lugar da tradicional casaca, que era mais formal."

A casaca - que hoje equivaleria ao fraque, mais curto na frente e longo atrás - era o traje típico do mundo da política, na segunda metade do século XIX. Já a sobrecasaca era uma espécie de paletó comprido, que podia ter abotoamento simples ou transpassado. Usava-se casaca durante o dia, em eventos formais, e à noite, qualquer que fosse a ocasião. "Como a sobrecasaca era considerada mais informal, Dom Pedro acabava privilegiando esse tipo de vestimenta", diz o autor.

Segundo Araujo, o monarca não ignorava os aspectos da cultura do vestuário masculino e "buscava manifestar sua vinculação aos ideais da democracia e às aspirações do homem comum optando, sempre que podia, pela sobrecasaca e cartola, no lugar da casaca." Quando possível, Dom Pedro aparecia em público com roupas de aparência brilhante, puída pelo uso. "Isso era proposital, uma forma de rebeldia."

Dom Pedro II não foi o primeiro monarca a cultivar a imagem de "imperador-cidadão". Outro que mostrou adesão aos "emblemas da burguesia" foi o rei Louis Phillipe. "Pouco antes de sua coroação como rei da França, em 1830, ele teria declarado preferir carregar um guarda-chuva a empunhar o cetro real, e se sentir mais à vontade tendo sobre sua cabeça um chapéu de feltro em lugar da coroa", escreve Araujo.

Outro que quebrou protocolos foi o Duque de Windsor, já no século XX. O bisneto da rainha Vitória foi objeto de críticas por dispensar o carro oficial da realeza britânica para caminhar até o Palácio de Buckingham. "Uma de suas primeiras medidas ao subir ao trono foi a de abolir o uso da sobrecasaca na corte, traje que, àquela altura do século XX, o duque julgava antiquado e pouco confortável", conta Araujo. De lá para cá, exemplos não faltaram também no mundo político. "John Kennedy aboliu o chapéu de seu visual e usava paletó de dois botões sem colete, o que deixava a camisa exposta, numa época em que camisa era considerada quase uma roupa íntima."

Exibições: 1945

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